Advogado Ataca Transmissões ao Vivo da TV Justiça
O Antagonista

Nada é por acaso mesmo

avatar
Redação O Antagonista
5 minutos de leitura 03.01.2021 13:30 comentários
Brasil

Nada é por acaso mesmo

Em artigo para a Folha intitulado 'Nada é por acaso', o advogado Augusto de Arruda Botelho ataca as transmissões ao vivo das sessões plenárias do Supremo pela TV Justiça...

avatar
Redação O Antagonista
5 minutos de leitura 03.01.2021 13:30 comentários 0
Nada é por acaso mesmo
Reprodução/TV Justiça

Em artigo para a Folha intitulado ‘Nada é por acaso’, o advogado Augusto de Arruda Botelho ataca as transmissões ao vivo das sessões plenárias do Supremo pela TV Justiça.

Ele lembra que Marco Aurélio Mello foi quem sancionou, como presidente em exercício em 17 de maio de 2002, a lei 10.461/02, de autoria do então deputado federal Chiquinho Feitosa.

Para quem não conhece, Chiquinho vem a ser primeiro suplente do senador Tasso Jereissati (PSDB) e presidente do DEM no Ceará. É cunhado de Gilmar Mendes e sogro de Caio Rocha, filho de César Asfor Rocha, ex-presidente do STJ.

Asfor é investigado por suspeita de recebimento de propina para enterrar a operação Castelo de Areia, num esquema que, segundo Antonio Palocci, teria sido coordenado por Márcio Thomaz Bastos.

César e Caio também foram denunciados pela Lava Jato do Rio na Operação E$quema S, que apura o desvio de R$ 150 milhões do Sistema S do Rio por meio de contratos de fachada da Fecomércio-RJ com grandes bancas de advocacia que venderiam influência no STJ e no TCU.

Chiquinho, que domina o transporte público nas regiões Norte e Nordeste, é sócio de Jacob Barata Filho, o ‘rei do ônibus’ do Rio, condenado por Marcelo Bretas no âmbito da Operação Ponto Final, desdobramento da Lava Jato.

Nas investigações, o MPF descobriu que a Fetranspor pagou R$ 144 milhões em propina a Sergio Cabral e outros políticos do Rio. A entidade patronal usava o mesmo doleiro (Álvaro Novis) e as mesmas transportadoras (Transexpert e Prosegur) que a Odebrecht.

A propósito, Botelho foi estagiário no escritório de Thomaz Bastos e integrou o núcleo de defesa da Odebrecht na Lava Jato.

Mas voltando à questão da TV Justiça, cujas transmissōes naquele longínquo  2002 pareciam inofensivas..

Botelho alega que há, atualmente, uma “superexposição dos ministros”, que “simplesmente não podem frequentar restaurantes, não podem sequer sair às ruas com receito de serem agredidos”. O advogado se mostra aflito com “tamanho ódio de parte da população à nossa Suprema Corte”.

Quanto a frequentar restaurantes ou sair às ruas, talvez valha a pena lembrar a discussão entre Joaquim Barbosa e Gilmar Mendes, lá em 2009.

Disse Barbosa: “Vossa Excelência está destruindo a Justiça desse país e vem agora dar lição de moral em mim? Saia à rua, ministro Gilmar. Saia à rua, faz o que eu faço.” Ao que Gilmar respondeu: “Eu estou na rua, ministro Joaquim.” Barbosa replicou: “Vossa Excelência não está na rua, não. Vossa Excelência está na mídia, destruindo a credibilidade do Judiciário brasileiro.”

Em relação à superexposição, certamente ela não foi causada pela TV Justiça, que segue com audiência zero no Ibope.

O julgamento do mensalão, em 2012, atraiu obviamente a atenção da imprensa e da sociedade em geral. A Lava Jato aprofundou de vez essa dinâmica, com dezenas de grandes empresários e caciques políticos tendo que recorrer quase diariamente ao Supremo para escapar da cadeia.

Nesse meio tempo, as redes sociais também ganharam protagonismo no debate público, quebrando o monopólio da imprensa e polarizando a política. Se vivemos um “eterno fla-flu em nossa Justiça”, como observa Botelho, o mesmo ocorre na política, na imprensa etc.

Ser exposto nas redes sociais está longe de ser privilégio de ministros do Supremo.

Se as redes deram voz a uma legião de imbecis, segundo Umberto Eco, também alimentaram uma massa crítica em relação à quase absoluta ausência de condenações de políticos pelo STF.

A impunidade dos detentores de foro privilegiado ficou flagrante diante das centenas de condenações na primeira instância.

Rui Barbosa também ensinou que justiça tardia nada mais é do que injustiça institucionalizada. O “tamanho ódio” a que se refere o ex-advogado da Odebrecht talvez decorra da frustração da sociedade com o Supremo. Talvez.

O vaivém de posicionamentos de ministros da Corte, ajustando a jurisprudência à ocasião, certamente contribuiu para esse sentimento geral – vide o caso da prisão após condenação em segunda instância.

Gilmar, que defendia a Lava Jato contra a “cleptocracia petista”, tornou-se algoz da operação depois que a força-tarefa avançou sobre tucanos.

Em seu ataque à TV Justiça, Botelho afirma também que já não se acompanha uma votação no Supremo para conhecer mais sobre Justiça ou aprender mais sobre direito, mas para “torcer”. “Temos expectativas ideológicas e partidarizadas de um julgamento”, escreve o advogado.

Novamente, o mesmo se aplica a determinados ministros que defendem teses esdrúxulas em benefício de agentes políticos que foram responsáveis ou ajudaram em suas nomeações ao Supremo.

É preciso dizer ainda que sonegar à população o acesso gratuito, via TV Justiça, aos julgamentos da mais alta corte do país é também uma injustiça social.

É espantoso ter de repisar que qualquer medida contra a transparência dos atos do poder público é, a princípio, uma medida antirrepublicana e antidemocrática.

“O melhor detergente é a luz do sol”, ensinou-nos o juiz americano Louis Brandeis (1856-1941), que integrou a Suprema Corte dos EUA.

Por estes trópicos, porém, o entendimento parece inverso. O STF, que mantém sigiloso o esdrúxulo inquérito das fake news, chegou a ter 700 procedimentos ocultos, e ministros não costumam divulgar suas audiências com advogados.

Chama atenção, por fim, que as transmissões das sessões plenárias do Supremo venham a debate justamente depois que Luiz Fux decidiu transferir das Turmas – cujas audiências não são transmitidas em tempo real – para o plenário o julgamento de ações penais e a abertura de inquéritos.

Como diz Botelho, nada é por acaso. Mesmo.

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

Lula sanciona lei para cadastrar animais domésticos

Visualizar notícia
2

Com risco de derrota, Lira adia votação de PEC sobre ajuste fiscal

Visualizar notícia
3

Ucrânia anuncia nova arma laser, Tryzub (Tridente)

Visualizar notícia
4

Deputados vão desidratar pacote fiscal e já falam em excluir supersalários de PEC

Visualizar notícia
5

Câmara limita bloqueio de Emendas Parlamentares no pacote de Haddad

Visualizar notícia
6

STF contra as redes: a “democracia relativa”

Visualizar notícia
7

Derrota do governo: Câmara aprova extinção do DPVAT no pacote fiscal

Visualizar notícia
8

“Queimam os rostos para torná-los irreconhecíveis”, diz Zelensky

Visualizar notícia
9

O dólar deixou o Sistema Solar, Gleisi

Visualizar notícia
10

Crusoé: Dólar indomável desmoraliza Haddad

Visualizar notícia
1

‘Queimadas do amor’: Toffoli é internado com inflamação no pulmão

Visualizar notícia
2

Sim, Dino assumiu a presidência

Visualizar notícia
3

O pedido de desculpas de Pablo Marçal a Tabata Amaral

Visualizar notícia
4

"Só falta ocuparem nossos gabinetes", diz senador sobre ministros do Supremo

Visualizar notícia
5

Explosões em dispositivos eletrônicos ferem mais de 2.500 no Líbano

Visualizar notícia
6

Datena a Marçal: “Eu não bato em covarde duas vezes”; haja testosterona

Visualizar notícia
7

Governo prepara anúncio de medidas para conter queimadas

Visualizar notícia
8

Crusoé: Missão da ONU conclui que Maduro adotou repressão "sem precedentes"

Visualizar notícia
9

Cadeirada de Datena representa ápice da baixaria nos debates em São Paulo

Visualizar notícia
10

Deputado apresenta PL Pablo Marçal, para conter agressões em debates

Visualizar notícia
1

"Podem revirar tudo, não irão achar nada", diz Sóstenes

Visualizar notícia
2

Real é a moeda que mais perdeu valor em 2024

Visualizar notícia
3

Wicked: Para Sempre - O que esperar da continuação do musical?

Visualizar notícia
4

J.K. Rowling celebra cinco anos de ativismo em defesa das mulheres

Visualizar notícia
5

Concurso Público do INSS: 250 vagas com salários até R$ 14 mil

Visualizar notícia
6

Meirelles nega narrativa do ataque especulativo

Visualizar notícia
7

Lobo-marinho "Joca" vira atração em Ipanema

Visualizar notícia
8

Réveillon Rio 2025: Ivete Sangalo, Anitta, Caetano e show de luzes inédito

Visualizar notícia
9

Crusoé: Bolsonaro tentou golpe? Resposta varia com eleitorado

Visualizar notícia
10

Golpes digitais nas festas de Fim de Ano: Como identificar e evitar armadilhas

Visualizar notícia

Assine nossa newsletter Inscreva-se e receba o conteúdo do O Antagonista em primeira mão!

Tags relacionadas

TV Justiça
< Notícia Anterior

Traficantes evangélicos se juntam com milícia na zona norte do Rio

03.01.2021 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

"Se tivermos outro pico, será o colapso total do sistema de saúde"

03.01.2021 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Redação O Antagonista

Suas redes

Instagram

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

Alerta Climático para o Natal: Veja com fica o tempo em todo o Brasil

Alerta Climático para o Natal: Veja com fica o tempo em todo o Brasil

Visualizar notícia
Programa Pé-de-Meia 19/12: Saiba quando será o último pagamento e como funciona

Programa Pé-de-Meia 19/12: Saiba quando será o último pagamento e como funciona

Visualizar notícia
"Podem revirar tudo, não irão achar nada", diz Sóstenes

"Podem revirar tudo, não irão achar nada", diz Sóstenes

Visualizar notícia
Acidente fatal na BR-474 mata idoso

Acidente fatal na BR-474 mata idoso

Visualizar notícia
Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.