Nelson Teich, o breve
O oncologista Nelson Teich assumiu o comando do Ministério da Saúde em meio à pandemia de Covid-19, em substituição a Luiz Henrique Mandetta, em 16 de abril. Ao assumir, disse que havia um "alinhamento completo" entre ele e o presidente Jair Bolsonaro e que não haveria mudanças radicais na política...ia.”
O oncologista Nelson Teich assumiu o comando do Ministério da Saúde em meio à pandemia de Covid-19, em substituição a Luiz Henrique Mandetta, em 16 de abril.
Ao assumir, disse que havia um “alinhamento completo” entre ele e o presidente Jair Bolsonaro e que não haveria mudanças radicais na política adotada até então.
A “sintonia” entre o presidente e o ministro, contudo, não durou muito. As divergências começaram a aparecer dias depois de sua posse.
Bolsonaro queria que o país adotasse o tal do “isolamento vertical“, em que apenas idosos e pessoas com doenças preexistentes ficariam em quarentena.
Em razão do número crescente de casos e mortes pela doença, porém, Teich resistiu às pressões presidenciais e afirmou: “Há coisas que são básicas, não tem como ter liberação de isolamento quando há uma curva em franca ascendência“.
Horas após a declaração do ministro, o presidente afirmou em live que as medidas de isolamento social adotadas por governadores e prefeitos eram “inúteis”, já que “70% da população vai ser infectada”.
Outra cena que ilustrou bem o desalinhamento de Teich — ou Doutor Rubens — com Bolsonaro ocorreu em 11 de maio, quando o ministro foi informado por jornalistas durante uma coletiva de que seu chefe tinha anunciado a inclusão de academias, barbearias e salões de beleza entre os serviços essenciais a ser mantidos em funcionamento durante a pandemia.
Teich ficou surpreso e constrangido com a notícia: a decisão de Bolsonaro, publicada em decreto, fora tomada sem consultar a sua pasta.
A pressão pela mudança dos protocolos sobre a cloroquina, medicamento sem eficácia contra a Covid-19, a não ser na cachola do presidente, foi considerada a gota d’água para a queda de Teich.
Pressionado pelo Planalto, Teich disse que havia ainda muita incerteza sobre a cloroquina e rejeitou a droga como um “divisor de águas” no tratamento da doença.
Não havia mais como escapar. A demissão de Teich foi anunciada um dia depois de o ministro receber um ultimato de Bolsonaro para mudar o protocolo de orientação do Ministério da Saúde para uso do medicamento.
Antes de entrevista coletiva de despedida, Teich disse que não “mancharia sua história” por causa da cloroquina.
“A vida é feita de escolhas, e hoje escolhi sair. Dei o melhor de mim nos dias em que estive aqui nesse período.”
Teich, o breve, permaneceu apenas 28 dias à frente da pasta da Saúde. Foi substituído por Eduardo Pazuello, o general que obedece a capitão.
Nos meses seguintes após sua demissão, Teich confirmou que a divergência com Bolsonaro sobre cloroquina “teve peso” na decisão de sair do ministério.
“Na prática, eu vi que não tinha autonomia. A cloroquina era o problema do momento, mas o que eu via era uma falta de como implementar uma autonomia.”
O títere libertou-se do titeriteiro.
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