Eduardo Pazuello: o general sob as ordens do capitão
Jair Bolsonaro precisou afastar dois ministros da Saúde em meio à maior crise sanitária do século para finalmente encontrar um nome subserviente o bastante para transformar os seus delírios em política de governo. O general Eduardo Pazuello assumiu o comando...
Jair Bolsonaro precisou afastar dois ministros da Saúde em meio à maior crise sanitária do século para finalmente encontrar um nome subserviente o bastante para transformar os seus delírios em política de governo.
O general Eduardo Pazuello assumiu o comando da pasta em 16 de maio de 2020, após a saída de Nelson Teich. Inicialmente, o militar dizia que assumiria a pasta da Saúde por apenas 90 dias.
Em sua primeira semana no cargo, como ministro interino, o general mostrou que sabia obedecer ao chefe e receitou o uso da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19.
Em seguida, dedicou-se à tarefa de transformar o ministério num quartel. Aumentou o número de militares em cargos de comando da pasta e em postos estratégicos.
Sob sua gestão, a pasta também ampliou a oferta da hidroxcloroquina, medicamento sem nenhuma eficácia comprovada contra a Covid-19.
Em junho, a pasta chegou a retirar dados do total de casos e de mortes da doença dos quadros informativos fornecidos pela pasta. Em meio à indignação geral, veículos de comunicação decidiram montar um consórcio para manter o público informado sobre a evolução da doença, a partir dos dados recolhidos diretamente nas secretarias estaduais de Saúde. O ministério recuou na sequência.
No mês seguinte, o ministro Gilmar Mendes criticou a militarização do Ministério da Saúde e o desempenho do governo no enfrentamento da pandemia.
Em suas redes sociais, Gilmar afirmou que havia um “vazio” de comando na pasta e que o Exército estaria se associando a um “genocídio“, em razão da escalada no número de mortes por Covid-19.
A fala do ministro do STF repercutiu mal. Militares voltaram a pressionar Pazuello a ir para a reserva, seguindo o movimento feito por Luiz Eduardo Ramos no mês anterior. O receio era que a gestão desastrosa da Saúde, em meio à maior crise sanitária em um século, pudesse prejudicar a imagem do Exército.
Em setembro, o presidente decidiu finalmente tornar Pazuello ministro efetivo. Em sua posse, o general afirmou que o Brasil tem “um dos maiores quantitativos de pessoas recuperadas no mundo” e defendeu o tratamento precoce da doença. Durante a cerimônia, Bolsonaro chegou a erguer uma caixa de cloroquina.
No mês seguinte, um novo constrangimento: o presidente desautorizou Pazuello publicamente afirmando que o governo não pretendia comprar a Coronavac, vacina produzida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo, sob os auspícios do adversário João Doria.
A declaração contrariou o anúncio feito pelo próprio ministro da Saúde no dia anterior, anunciando a intenção de adquirir 46 milhões de doses do imunizante.
Em meio a mais essa confusão, o ministro ainda foi diagnosticado com a Covid-19.
Depois de ser desautorizado sobre a compra da “vacina chinesa”, Pazuello, ainda com a doença, rompeu o isolamento para receber Bolsonaro em sua casa.
Sem corar, o general confirmou sua vocação para subordinado: “Senhores, é simples assim: um manda e o outro obedece.”
No início de dezembro, Pazuello cumpriu novamente as ordens do chefe e organizou evento no Palácio do Planalto para apresentar o Plano Nacional de Imunização. Bolsonaro tirou fotos com um Zé Gotinha decepcionado e ainda se embaralhou ao comentar o “plano”, que nem cronograma tinha.
Depois de meses sem se manifestar sobre ofício da Economia para a compra de agulhas, o ministro especialista em logística abriu licitação para a aquisição de 331 milhões de itens. Mas só houve uma oferta de pouco mais de 7 milhões.
O ano termina com estimativas controversas de datas para o início da imunização. Mesmo que haja vacina, não se poderá aplicá-la sem agulhas.
Enquanto mais de 40 países protegem suas populações, inclusive Chile, México, Argentina e até a Costa Rica, o brasileiro se desespera, órfão de presidente e ministro da Saúde.
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