O bate-boca eleitoreiro sobre vacina não faz sentido
A pandemia no Brasil continua a grassar, apesar das quedas no contágio e número de mortes, os Estados Unidos permanecem de joelhos, a segunda onda de Covid-19 se avoluma na Europa, com consequências ainda imprevisíveis -- e bolsonaristas e oposicionistas batem boca eleitoreiro sobre a obrigatoriedade da vacina contra a doença...
A pandemia no Brasil continua a grassar, apesar das quedas no contágio e número de mortes, os Estados Unidos permanecem de joelhos, a segunda onda de Covid-19 se avoluma na Europa, com consequências ainda imprevisíveis — e bolsonaristas e oposicionistas batem boca eleitoreiro sobre a obrigatoriedade da vacina contra a doença. Ele não faz sentido.
Prezados senhores, as vacinas ainda não existem. Seja a vacina comprada pelo governo federal, a de Oxford, ou a adquirida pelo governo paulista, a da Sinovac chinesa, ambas estão em fase de testes. A sua fabricação em nível industrial até pode ter começado, mas elas só existirão de fato quando forem aprovadas pelos laboratórios e pelos órgãos de controle governamentais. Enquanto isso, não existem.
Prezados senhores, outro ponto: ninguém sabe qual é o verdadeiro grau de segurança das duas nem a sua eficácia e não saberá enquanto não houver vacinação em massa. Mesmo quando vacinas passam pelos protocolos habituais, há sempre uma margem de incerteza nas suas primeiras utilizações comerciais. A vacina contra a meningite meningocócica, aplicada em dezenas de milhões de brasileiros na década de 1970, de fabricação francesa, passou pela sua grande prova em nosso país. Funcionou sem causar sequelas graves, mas o fato é que fomos quase cobaias. Inglesa, chinesa, americana ou marciana, todas as vacinas contra o novo conoravírus abreviaram as fases de testes e, por isso, todas serão experimentais em maior ou menor grau.
Prezados senhores, tenho mais a contar: independentemente de a vacina ser obrigatória ou não, milhões de brasileiros vão correr para tomá-la. Aposto que será a maioria, se houver para todo mundo. E, se puderem, eles tomarão as duas — ou três — que estiverem à disposição. Porque as pessoas tendem a arriscar-se com o que lhes é oferecido como cura do que a ter de viver sob a ameaça de uma doença contagiosa grave. Se elas já se arriscam ignorando as atuais medidas restritivas, imagine se não tomarão uma ou mais das vacinas disponíveis, para tentar livrar-se de uma vez por todas de um vírus que lhes impede de viver livremente.
Por último, prezados senhores, a saudável concorrência fará com que as vacinas contra a Covid-19 o mesmo que fez com as contra a poliomielite: triunfará aquela que obtiver melhores resultados com o tempo. E a vencedora poderá entrar para o rol das vacinas recomendadas ou obrigatórias, sem quase ninguém se importar realmente com isso.
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