Na decisão que determinou o afastamento de Chico Rodrigues do Senado, Luís Roberto Barroso disse que “existe possibilidade real de que o senador, permanecendo no exercício do seu cargo parlamentar, utilize seu poder para, em desvio de função, dificultar o aprofundamento das investigações”. Por isso Barroso determinou que o senador fique afastado durante 90 dias – o Senado precisa referendar a decisão.

“Ainda mais grave”, disse o ministro, é o fato de que Chico Rodrigues integra a comissão parlamentar responsável por decidir o destino do dinheiro usado no combate à pandemia do novo coronavírus.

Conforme revelamos em julho, um relatório do TCU desconfiou da quantidade de dinheiro enviado a Roraima, estado de Chico Rodrigues, para combater a pandemia.

De acordo com o relatório, Roraima recebeu R$ 65,66 milhões do Ministério da Saúde, o que significa R$ 108,39 por habitante do estado. Segundo o TCU, a distribuição do dinheiro pelo Ministério da Saúde aos estados não parece ter seguido nenhum critério objetivo.

Roraima foi um dos estados que mais recebeu verbas na comparação per capita, segundo os técnicos da corte de contas. Mas o repasse de verbas não acompanhou o número de leitos disponíveis por estado e nem por município, por exemplo. Também não acompanhou o número de mortes por Covid-19. Ou a distribuição de equipamentos de proteção aos profissionais da saúde das redes públicas locais.

Chico Rodrigues era vice-líder do governo Bolsonaro até hoje de manhã, quando foi dispensado da função por causa das revelações das investigações. O gabinete dele empregava Leo Índio, primo dos filhos de Bolsonaro, que se demitiu hoje, por exigência do presidente.

“As condutas narradas são extremamente graves. O senador estaria se valendo de sua função parlamentar para desviar dinheiro destinado ao enfrentamento da maior pandemia em um século,
quando o país se defronta com uma severa escassez de recursos públicos e já contabiliza mais de 150 mil mortos em decorrência da Covid-19”, escreveu Barroso, na ordem de afastamento de Chico Rodrigues.