Se o governo está bem, o Brasil que se dane
A verdade é que Jair Bolsonaro não ficou parecido com Paulo Guedes, mas é Paulo Guedes que está cada vez mais semelhante a Bolsonaro. A pandemia só acelerou o processo, com a necessidade de aumentar os gastos sociais. Houve um acomodação de Guedes depois da reforma da Previdência, como se todo o problema econômico estrutural se resumisse a isso. Não há como negar que essa reforma foi essencial para garantir que os brasileiros pudessem ter tranquilidade com o pagamento de aposentadoria pelos próximos 10 anos, pelo menos. Mas não basta...
A verdade é que Jair Bolsonaro não ficou parecido com Paulo Guedes, mas é Paulo Guedes que está cada vez mais semelhante a Bolsonaro. A pandemia só acelerou o processo, com a necessidade de aumentar os gastos sociais.
Houve um acomodação de Guedes depois da reforma da Previdência, como se todo o problema econômico estrutural se resumisse a isso. Não há como negar que essa reforma foi essencial para garantir que os brasileiros pudessem ter tranquilidade com o pagamento de aposentadoria pelos próximos 10 anos, pelo menos. Mas não basta.
Neste momento de crise, a ilusão de que o estado brasileiro tudo pode — inclusive transformar o coronavoucher em renda mínima universal — voltou a turvar a visão de políticos, do governo e de boa parte da população, infelizmente, que não percebe que ela pagará a conta na forma de mais impostos e mais desemprego.
É importante repetir: mais impostos e mais desemprego é a essência do arremedo de reforma tributária proposta por Guedes. Para que o estado recupere as toneladas que perdeu com a pandemia, por causa da queda na arrecadação, Guedes quer fazer definhar o setor de serviços, o que mais emprega, com uma carga tributária que simplesmente triplicará de tamanho — sempre lembrando que, ao contrário do setor industrial, os empresários de serviços não contam com gastos tão grandes de insumos que possam ser abatidos dos impostos, ao contrário do que ocorre com os industriais. Para completar o quadro, o governo vetou a continuidade da desoneração da folha de salários em 2021, como se todos os problemas enfrentados pelos empresários fossem terminar magicamente em 31 de dezembro deste ano.
Pode ser, como já dissemos, que Guedes tenha colocado esse bode na sala, num primeiro momento, para trocá-lo por uma nova CPMF, imposto socialmente injusto e cumulativo. Esse é o liberal de Chicago.
O governo alega que as despesas obrigatórias pela Constituição impedem que o gasto estatal encolha para níveis que possam ser suportados pelos cidadãos que financiam a festa. De fato, eles consomem 96% do orçamento federal. Então, senhores, é preciso arrumar um jeito de diminuir as despesas obrigatórias que, na verdade, pesam sobre os ombros de empresários e trabalhadores da iniciativa privada que as financiam — e, assim, aumentar também a capacidade de investimentos do próprio Estado. Passou da hora também de privatizar as empresas estatais. Esse era o programa de Bolsonaro e Guedes quando o primeiro prometia ficar a cara do segundo e o segundo não estava ficando igual ao primeiro. Ah, isso tudo não é possível, dirão. É possível, sim, com coragem e determinação.
Evidentemente, o Executivo não pode fazer tudo sozinho. Legislativo e Judiciário têm parte fundamental na diminuição do estado brasileiro: o primeiro aprovando mudanças nas leis e um extenso programa de privatizações previamente acordado com o Planalto; o segundo não atrapalhando com decisões judiciais baseadas na irrealidade o trabalho do Executivo e do Legislativo. Mas a barafunda política em Brasília, infelizmente, serve a que interesses escusos e corporativos prevaleçam.
Enquanto isso, os empresários do setor de serviços, principalmente, fazem contas e se preparam para cortar ainda mais o que deveria ser a despesa obrigatória mais importante: os salários dos trabalhadores que irão para a rua.
Se o governo está bem, o Brasil que se dane.
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