ENTREVISTA: reabertura é ‘crucial para garantir saúde, emprego e renda’, diz presidente da CNI
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, defende que a reabertura da economia em meio à pandemia da Covid-19, algo que já está ocorrendo em todo o país, deve levar em consideração a realidade sanitária de cada local e as especificidades dos setores econômicos...
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, defende que a reabertura da economia em meio à pandemia da Covid-19, algo que já está ocorrendo em todo o país, deve levar em consideração a realidade sanitária de cada local e as especificidades dos setores econômicos.
“Essas decisões, desde que implementadas de forma segura, são cruciais para garantir saúde, emprego e renda para os trabalhadores”, disse ele, em entrevista a O Antagonista.
Sobre a retomada econômica pós-pandemia, Andrade disse não ser “catastrófico”, nem “excessivamente otimista”.
Ele comentou também as iniciativas do governo federal em socorro às empresas e a expectativa de demissões em massa que havia no início da pandemia.
“O que as empresas mais necessitam neste momento é de crédito”, afirmou.
Leia a íntegra:
Qual será o tamanho da crise econômica pós-pandemia? O senhor está entre os catastróficos ou entre os que apostam em recuperação rápida depois do baque?
Não me cabe ser catastrófico ou excessivamente otimista. Estamos vivendo um momento crítico tanto para o Brasil quanto para o mundo, mas principalmente no Brasil. O coronavírus provocou um abalo de proporções inéditas na vida das pessoas e na economia global. Mas o ser humano é resistente e venceu outras crises ao longo de sua história. A indústria brasileira e seus representantes não têm dúvidas de que, com trabalho árduo, planejamento e investimentos em ciência e tecnologia, a pandemia de Covid-19 será contida. Pouco a pouco, com responsabilidade, compromisso com a vida e determinação no que precisa ser feito, seremos capazes de reconquistar o terreno perdido na economia e de voltar a crescer.
A reabertura das atividades econômicas neste momento em que ainda não se observa o tal “achatamento da curva” tem sido bastante criticada, principalmente por profissionais de saúde. O senhor apoia a reabertura neste momento, mesmo que gradual e com todos os cuidados?
As primeiras iniciativas para a retomada gradual da atividade já estão sendo concretizadas pelos governos e pela iniciativa privada, num planejamento que deve levar em consideração a realidade sanitária de cada local e as especificidades dos setores econômicos. Conforme os avanços e os recuos da doença nas cidades, os governos estaduais e as prefeituras têm autorizado a reabertura progressiva de segmentos do comércio e dos serviços, o que vem levando as pessoas de volta ao trabalho e ao consumo. Essas decisões, desde que implementadas de forma segura, são cruciais para garantir saúde, emprego e renda para os trabalhadores.
As indústrias brasileiras estão adaptando seus processos produtivos. As fábricas se organizaram em turnos de trabalho, reforçaram as medidas de higiene e de prevenção, forneceram equipamentos necessários à proteção da saúde dos operários e tornaram corriqueiros atos como a medição de temperatura, um maior distanciamento entre os funcionários e o monitoramento médico de eventuais sintomas. Os protocolos das indústrias para a retomada da atividade estão de acordo com as melhores práticas internacionais, verificadas em países que já enfrentaram a fase em que o Brasil se encontra hoje.
As medidas do governo federal até aqui têm sido satisfatórias? O dinheiro liberado para socorrer as empresas está chegando?
O que as empresas mais necessitam neste momento é de crédito. Mais de 90% delas são micro e pequenas e, por isso, não têm musculatura para aguentar crises como esta. O enfrentamento dos impactos devastadores da pandemia da Covid-19 exige medidas robustas para garantir a sobrevivência de milhares de empreendimentos e a manutenção de milhões de empregos. A principal delas é a facilitação do acesso ao crédito. Diante do aumento dos riscos, as instituições financeiras se retraíram. Por isso, é necessária a adoção de medidas extremas, para fazer com que o crédito, de fato, chegue às empresas a um custo baixo. Uma das alternativas é o Tesouro Nacional assumir parte do risco dos financiamentos, como ocorre na Europa e nos Estados Unidos. Este é o único modo de evitar falências e o aumento ainda maior do desemprego.
Além disso, uma forma eficiente de fazer com que os recursos públicos cheguem ao caixa das empresas é a permissão para que prejuízos fiscais contabilizados durante o período de calamidade pública sejam compensados com lucros registrados nos últimos dois anos. Com isso, elas terão restituição do Imposto de Renda sobre Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) já pagos no período, para reforçar o caixa. Trata-se apenas de uma alteração temporal no momento do uso do prejuízo fiscal, que seria compensado com lucros a serem obtidos no futuro.
No início da pandemia, se previa que nas semanas seguintes pudessem começar a ocorrer demissões em massa. Isso se confirmou ou a maior parte das empresas tem conseguido se adaptar ao “novo normal” sem precisar mandar muita gente embora?
Uma pesquisa da CNI mostra que apenas 13% das empresas do setor não sentiram efeitos econômicos negativos da pandemia, enquanto 84% foram prejudicadas. Apesar disso, de acordo com os Indicadores Industriais de maio, o emprego teve uma variação negativa de 0,8%. Dados oficiais do governo mostram que não houve uma disparada no desemprego. Além disso, as medidas trabalhistas emergenciais, adotadas pelo Brasil, possibilitaram a manutenção de milhares de empregos. Até o momento, são mais de 13 milhões de acordos assinados. Nenhum empresário gosta de demitir. A demissão é sempre o último recurso.
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