Não vale sequestrar a liberdade de imprensa
Mario Sabino, na Crusoé: "É uma violência usar da intimidação judicial contra quem quer que seja, em especial quando se veste toga ou beca. Ter sofrido censura e intimidação não me torna herói ou mártir. Mas me deixou marcado e me dá muita tranquilidade para afirmar que Glenn Greenwald não foi alvo nem de uma coisa nem de outra..."
Mario Sabino, na Crusoé:
“A censura nunca termina para aqueles que já a experimentaram. A frase é da escritora sul-africana Nadine Gordimer. Já experimentei a censura, juntamente com os meus colegas de Crusoé e O Antagonista, quando Alexandre de Moraes mandou retirar do ar a reportagem O amigo do amigo de meu pai, sobre o codinome de Dias Toffoli no email de Marcelo Odebrecht. Não satisfeito, o censor me intimou a prestar depoimento na Polícia Federal. Na mesma Superintendência em São Paulo, em 2008, fui indiciado por defender jornalistas da Veja que haviam sido intimidados por um delegado. Eles haviam revelado bastidores do episódio do dossiê dos aloprados, e o delegado queria saber quais eram as fontes da reportagem. Os democráticos Lula e Vagner Freitas, presidente da CUT, também quiseram me levar para delegacias, por causa de matérias de O Antagonista. Bem antes de ser condenado, Lula acusou o site de ser uma associação criminosa porque mostrávamos exatamente o que ele era: um chefão corrupto e lavador de dinheiro. Sei por experiência própria o que é censura e intimidação judicial.
Peço desculpas aos leitores que devem estar cansados de ler sobre tais episódios. É que Nadine Gordimer, morta em 2014, tem razão: a censura nunca termina para aqueles que já a experimentaram, e isso está longe de ser mimimi, como dizem atualmente. É uma atrocidade investir contra a liberdade de expressão, opinião e informação. É uma violência usar da intimidação judicial contra quem quer que seja, em especial quando se veste toga ou beca. Ter sofrido censura e intimidação não me torna herói ou mártir. Mas me deixou marcado e me dá muita tranquilidade para afirmar que Glenn Greenwald não foi alvo nem de uma coisa nem de outra.”
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