Deltan Dallagnol sob ataque dos tubarões
Deltan Dallagnol enfrentou em 2019 o momento mais difícil dos cinco anos à frente da Lava Jato. Em abril, foi aberto um processo disciplinar no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) contra o procurador em razão de uma entrevista realizada...
Deltan Dallagnol enfrentou em 2019 o momento mais difícil dos cinco anos da Lava Jato.
Em abril, foi aberto um processo disciplinar no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) contra o procurador em razão de uma entrevista realizada em 2018 na qual disse que decisões do STF passavam mensagem de leniência a favor da corrupção.
A reclamação ao conselho foi feita pelo ministro Dias Toffoli, presidente do Supremo.
Outro processo envolvendo Dallagnol no CNMP atendeu a uma ação movida por Renan Calheiros — alvo de mais de uma dezena de inquéritos no STF — contra críticas do procurador a respeito da candidatura do emedebista para a presidência do Senado.
Em junho, após a divulgação das mensagens roubadas por hackers estelionatárias, Dallagnol passou a enfrentar sucessivas batalhas.
Em entrevista à Crusoé, disse que a divulgação das conversas fez a operação “sangrar”.
“E quando ela sangra aparecem os tubarões e aquelas pessoas que antes estavam inibidas”, afirmou.
Os “tubarões”, de fato, ficaram assanhados.
Gilmar Mendes, o adversário mais visível do que chama de “República de Curitiba”, reagiu ao seu estilo germânico.
No julgamento sobre alegações finais de delatores, em setembro, o ministro disse que os procuradores da Lava Jato praticavam “corrupção rasteira”. Disse também que o país estava diante da maior crise em seu aparato judicial desde a redemocratização.
O ministro chegou até mesmo a defender o uso de provas ilegais para soltar os criminosos da Lava Jato.
Nas sombras, Renan Calheiros operou contra Dallagnol na tentativa de tirá-lo de suas funções na chefia da força-tarefa.
No Senado, parlamentares quiseram usar indicações ao CNMP para punir o procurador e “destruir” a Lava Jato.
Só gente boa contra Deltan Dallagnol.
A OAB, para a surpresa de ninguém, também sugeriu o afastamento do chefe da força-tarefa.
No centro da crise provocada pela divulgação das mensagens, procedimentos contra Dallagnol triplicaram no CNMP, como mostrou O Antagonista.
A então Procuradora-Geral da República, Raquel Dodge, precisou soltar uma nota negando que estivesse sendo pressionada a punir o procurador, e esclareceu que ele, por ser inamovível pela Constituição, só sairia da Lava Jato se e quando quisesse.
Dallagnol é o promotor natural dos casos da Operação Lava Jato.
Nos bastidores, os procuradores discutiram o que poderia ser uma “saída honrosa” para Deltan da operação. A ideia seria promovê-lo ao cargo de procurador regional.
A ideia foi rejeitada por Deltan, que aceitou abrir mão da promoção para continuar na força-tarefa.
Em novembro, o CNMP decidiu aplicar punição de advertência a Deltan no processo disciplinar aberto por Toffoli. O MP gritou em uníssono contra a medida.
A defesa do procurador, então, pediu ao STF a suspensão imediata da advertência, argumentando que a punição fere a liberdade de manifestação do procurador. Mas a luta continua. Em dezembro, o CNMP acolheu a reclamação de Renan Calheiros contra o procurador — o reclamante ficou magoado porque Dallagnol defendeu a eleição aberta para a presidência do Senado, a fim de deter o senador mais honesto do Brasil.
Em dezembro, Dallagnol decidiu contra-atacar e processar Gilmar Mendes por danos morais.
Lê-se na ação indenizatória: “Tem-se mais uma vez evidenciado que, mesmo no plenário, o magistrado não se contém e reiteradamente insulta o autor e a força-tarefa da qual é coordenador. De ‘fetiche sexual’ a ‘organização criminosa de Curitiba’, a falta de decoro é uma constante. Lamentável.”
Dallagnol pede 59 mil reais de indenização.
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