O Réveillon como teste de civilização nos condomínios

25.12.2025

logo-crusoe-new
O Antagonista

O Réveillon como teste de civilização nos condomínios

avatar
Sindicolab
4 minutos de leitura 25.12.2025 08:56 comentários
Imóveis | Condomínios

O Réveillon como teste de civilização nos condomínios

As festas de final de ano não suspendem o Código Civil, o regulamento interno e nem o bom senso

avatar
Sindicolab
4 minutos de leitura 25.12.2025 08:56 comentários 0
O Réveillon como teste de civilização nos condomínios
Ilustração feita por IA

Poucas coisas revelam tanto sobre um condomínio quanto o comportamento coletivo entre o Natal e o Ano-Novo. É o período em que regras aparentemente consolidadas entram em recesso informal e a convivência passa a ser tratada como um detalhe opcional.

De repente, o silêncio deixa de existir porque é “fim de ano”. A vaga de garagem vira extensão da sala. A área comum se transforma em salão de festas improvisado. O corredor assume função acústica de boate. Tudo com a justificativa universal: é só uma vez.

Não é.

O final de ano não suspende o Código Civil, o regulamento interno e nem o bom senso. Ele apenas expõe, de forma mais ruidosa, quem nunca levou nenhum dos três muito a sério.

Ficção delicada

O condomínio moderno vive de uma ficção delicada: a ideia de que indivíduos com rotinas, valores e tolerâncias distintas conseguem compartilhar o mesmo espaço sem que isso se torne um conflito permanente.

Essa ficção só se sustenta porque há regras claras, previsíveis e, sobretudo, aplicáveis. Quando o calendário vira desculpa, a convivência entra em colapso.

O erro clássico é tratar o período como exceção administrativa. O síndico some, o regulamento relaxa e a portaria vira mediadora de conflitos domésticos que não deveriam existir.

O resultado é previsível: reclamações, ameaças, chamadas para a polícia e, no dia seguinte, um condomínio mais irritado do que antes da comemoração.

Leia também: A guerra das tomadas e a resistência silenciosa à modernização urbana

Celebração x desordem

Há uma diferença fundamental entre permitir celebrações e institucionalizar a desordem. Festas em unidades privativas são legítimas. O abuso é que não é.

O direito de comemorar não inclui o direito de impor trilha sonora, fumaça, gritaria ou circulação excessiva aos demais moradores.

A ideia de que “ninguém vai reclamar” costuma durar até o primeiro vizinho que precisa acordar cedo, o idoso que depende de silêncio ou a criança que não entende por que o apartamento virou extensão da rua. A partir daí, o Réveillon deixa de ser celebração e vira conflito.

O comportamento inteligente do condomínio no final do ano não exige criatividade, apenas coerência. Regras já existentes continuam valendo. Horários de silêncio não são decorativos.

Uso de áreas comuns não se transforma automaticamente em direito irrestrito. Vagas de visitantes não são patrimônio familiar. Segurança não entra em recesso.

Leia também: Gamificação de assembleias: likes, votos digitais e decisões por popularidade 

Injustiça

Quando o condomínio tenta ser excessivamente permissivo, acaba sendo injusto. Protege quem faz barulho e abandona quem só quer viver em paz.

A convivência não é um prêmio para os mais barulhentos, mas um pacto mínimo de respeito mútuo.

O síndico, nesse contexto, não é animador de festa nem fiscal de alegria alheia. É gestor de previsibilidade.

Seu papel é comunicar com antecedência, reforçar regras de forma objetiva e deixar claro que exceções não serão improvisadas sob pressão emocional ou euforia alcoólica.

Sem “deixar rolar”

Condomínios que avisam com antecedência, reforçam horários, orientam a portaria e deixam claro os limites tendem a passar pelas festas sem traumas.

Os que preferem “deixar rolar” invariavelmente terminam o ano com boletins de ocorrência e assembleias carregadas de ressentimento.

O final de ano, afinal, não testa a capacidade de celebrar. Testa a capacidade de conviver.

Celebrar é legítimo. Impor é incivilizado.

E talvez essa seja a lição mais difícil para alguns moradores aceitarem: viver em condomínio exige, inclusive nas festas, lembrar que o espaço é compartilhado.

Quem não suporta isso talvez devesse repensar o endereço — ou, no mínimo, o volume.

Por Rafael Bernardes, especialista em gestão condominial e fundador do Sindicolab

Leia mais: O condomínio que te adoece

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

PGR pede suspensão de acareação marcada por Toffoli sobre Master

Visualizar notícia
2

Banco Master: ex-chefe do BRB cancela férias após decisão de Toffoli

Visualizar notícia
3

O ministro Alexandre de Moraes determinaria a prisão de Alexandre de Moraes?

Visualizar notícia
4

Os recados de Michelle Bolsonaro no pronunciamento de Natal

Visualizar notícia
5

Lula terá concorrência de Michelle Bolsonaro no discurso de Natal

Visualizar notícia
6

Joaquim Barbosa compartilha análise sobre “bancada silenciosa do STF”

Visualizar notícia
7

“Hipocrisia revoltante”, diz deputada sobre pronunciamento de Lula

Visualizar notícia
8

“Essa acareação é sem precedentes na história judicial brasileira”

Visualizar notícia
9

TST vai decidir impasse entre Correios e funcionários

Visualizar notícia
10

Pesquisa aponta percentual de petistas e bolsonaristas

Visualizar notícia
1

Moraes: reunião com presidente do BC foi para discutir Lei Magnitsky

Visualizar notícia
2

Lula contrata Juca Kfouri, José Trajano e Lúcio de Castro para programa esportivo

Visualizar notícia
3

Retrospectiva: o dia em que a Câmara aprovou a PEC da Blindagem

Visualizar notícia
4

Banco Central divulga nota sobre conversas de Moraes e Galípolo

Visualizar notícia
5

Crusoé: Desculpa da Magnitsky não ajuda Alexandre de Moraes

Visualizar notícia
6

TI Brasil: "A impunidade da corrupção no país choca o mundo"

Visualizar notícia
7

Retrospectiva: o dia em que Tagliaferro foi detido na Itália

Visualizar notícia
8

"Pra variar, deixou a gente na mão", diz Tarcísio sobre Enel

Visualizar notícia
9

Crusoé: Chile faz terceiro impeachment de juiz da Suprema Corte

Visualizar notícia
10

Ministério da Justiça autoriza extradição de narcotraficante italiano

Visualizar notícia
1

Christiane Torloni nega que irá participar do BBB 26

Visualizar notícia
2

“Nunca um ministro agiu de forma tão desesperada”, diz Gayer sobre Toffoli

Visualizar notícia
3

Retrospectiva: o dia em que Pablo Marçal foi declarado inelegível

Visualizar notícia
4

Galvão Bueno é internado em Londrina

Visualizar notícia
5

Esquerda maluca abraça Moraes

Visualizar notícia
6

Caso Master: o incômodo da PGR com a acareação determinada por Toffoli

Visualizar notícia
7

Almoço de Natal: 8 receitas incríveis para impressionar

Visualizar notícia
8

Retrospectiva: o dia em que Gleisi e Padilha viraram ministros

Visualizar notícia
9

Crusoé: Datafolha mede a direita e a esquerda no Brasil

Visualizar notícia
10

Crusoé: Carta de Bolsonaro é filhotismo explícito

Visualizar notícia

Tags relacionadas

Condomínios
< Notícia Anterior

Calendário do Bolsa Família 2026 já está disponível com datas organizadas por NIS

25.12.2025 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

Retrospectiva: o dia que Zezé di Camargo protestou contra o SBT

25.12.2025 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Sindicolab

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.