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O outro dia em que Vavá, irmão de Lula, foi notícia

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Redação O Antagonista
9 minutos de leitura 29.01.2019 18:20 comentários
Brasil

O outro dia em que Vavá, irmão de Lula, foi notícia

Em outubro de 2005, a Veja publicou uma reportagem sobre Vavá, o irmão de Lula que morreu hoje, assinada por Camila Pereira e Marcelo Carneiro. Como redator-chefe da revista, eu (Mario), acompanhei de perto a sua confecção. Vale a pena ler (a reportagem está aberta na internet): Dos seis irmãos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Genival Inácio da Silva é o mais extrovertido e falante...

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Redação O Antagonista
9 minutos de leitura 29.01.2019 18:20 comentários 0

Em outubro de 2005, a Veja publicou uma reportagem sobre Vavá, o irmão de Lula que morreu hoje, assinada por Camila Pereira e Marcelo Carneiro. Como redator-chefe da revista, eu (Mario) acompanhei de perto a sua confecção.

Vale a pena ler (a reportagem está aberta na internet):

Dos seis irmãos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Genival Inácio da Silva é o mais extrovertido e falante.Vavá, como é conhecido, já foi operário, metalúrgico e funcionário público. Hoje, aos 64 anos e aposentado, decidiu investir em nova atividade. Desde o início do ano, ele mantém um escritório no 3º andar de um prédio comercial em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Lá –com a ajuda de três funcionários, três linhas telefônicas fixas e quatro computadores –dedica-se a intermediar pedidos de empresários junto a prefeituras petistas, empresas estatais e órgãos do governo federal, como a Caixa Econômica Federal e a Secretaria-Geral da Presidência da República. Vavá confirmou a VEJA que recebe e encaminha pedidos de empresários interessados em “trabalhar com o governo”, mas disse que, “por enquanto”, não recebeu nenhum pagamento pelo serviço. “Até agora ninguém pagou nada ainda. Espero ganhar um dia.”

O presidente Lula, por meio da Secretaria de Imprensa do Palácio do Planalto, disse o que, a essa altura, já não configura mais novidade: “Nunca teve conhecimento das supostas atividades” desenvolvidas por seu irmão. Segundo o artigo 332 do Código Penal Brasileiro, “solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função” configura crime de tráfico de influência. A pena prevista para esses crimes –claro, se eles forem provados e advir condenação –varia de dois a cinco anos de prisão.

Em menos de um ano de funcionamento, o escritório do irmão do presidente prosperou bastante. Tanto assim que Vavá já planejava ampliá-lo: procurava uma sala maior para alugar e havia acabado de contratar uma nova funcionária, cuja chegada estava prevista para os próximos dias. Atualmente, trabalham com ele uma secretária, Gisely Sant’Ana, um advogado, Emmanuel Quirino dos Santos, e a ex-agente de viagens Cristina Caçapava, amiga do ex-metalúrgico há 23 anos. Nos contatos com órgãos públicos, Cristina se identifica como “assessora de Vavá”. Uma foto dela e do chefe –com o presidente Lula no meio –decora a sala de entrada do escritório.

Na entrevista a VEJA, Vavá começou por negar que sua “assessoria” –sem placa na porta ou sinal algum que indique a natureza de suas atividades –se prestasse a intermediar negócios de empresários com o governo. Segundo Vavá, o escritório teria como finalidade prestar “assessoria social para pessoas que precisam”. “Conseguimos cestas básicas, remédios e vagas em hospital para elas”, disse. Mais tarde, confrontado com informações apresentadas pela reportagem, admitiu que “ajuda” também empresários. “Se o presidente (Lula) tem empresários que procuram ele para fazer negócio, nada melhor do que você ajudar”, afirmou. Entre os membros do governo federal que Vavá admite ter procurado a pedido de donos de empresas estão o assessor especial do presidente Lula, César Alvarez, e o diretor de operações e logística da Petrobras Distribuidora (BR), Edimilson Antonio Dato Sant’Anna.

O ex-metalúrgico disse a VEJA ter solicitado, e obtido, uma audiência com o assessor da Presidência por encomenda da Federação Brasileira de Hospitais. A federação –entidade que representa 6.895 hospitais do país, a maior parte deles da rede privada –é credora de uma dívida de 580 milhões de reais com a União, contraída por meio de serviços prestados por hospitais particulares ao Sistema Único de Saúde (SUS). Em abril deste ano, a entidade saiu vitoriosa de um processo na Justiça que obrigou o governo a quitar a dívida –só que em um prazo de dez anos. O presidente da federação, Eduardo de Oliveira, não ficou satisfeito com a decisão –queria propor ao governo a redução da dívida em troca de sua quitação imediata. Foi para tratar dessa questão que ele pediu a Vavá que marcasse a audiência com o assessor de Lula. A audiência ocorreu no dia 14 de setembro, no Palácio do Planalto. Eduardo de Oliveira, presidente da entidade, confirma ter pedido, por intermédio de um assessor, a reunião a Vavá. “Hoje em dia, se você não tem bons relacionamentos, não consegue fazer nada”, justificou. Ele afirma, porém, que o encontro foi breve, não produziu resultado algum e não lhe custou nem um tostão. “Lógico que a gente agradece, porque se trata do irmão do presidente, mas não houve nenhuma conversa comercial entre nós.” César Alvarez disse, por meio de assessores, que, no dia da audiência marcada com Vavá, se encontrou com membros da Federação de Hospitais “no mezanino do Palácio do Planalto”, mas que se recusou a falar com eles. Já Vavá afirmou à reportagem que Alvarez, embora “irritado” com o fato de ele comparecer à audiência na companhia de membros da federação, se comprometeu a “encaminhar o assunto”.

Vavá disse ter sido apresentado ao presidente da Federação de Hospitais pelo advogado da entidade, Daniel Freire Garcia. O advogado, por sua vez, teria se aproximado do ex-metalúrgico para pedir-lhe que o ajudasse a representar o governo brasileiro em um processo de repatriação de recursos desviados pelo tesoureiro do ex-presidente Fernando Collor de Mello, PC Farias. O projeto previa uma comissão, para o escritório do advogado, de 10% do total repatriado. Vavá diz que não chegou a encaminhar a proposta do advogado ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, conforme sugere anotação, obtida pela reportagem, feita por sua assessora Cristina Caçapava (veja quadro). Outros documentos aos quais os repórteres tiveram acesso indicam que Vavá e seus assessores fizeram, ou tentaram fazer, gestões também junto à Caixa Econômica Federal (CEF). Uma das secretárias da presidência da CEF em São Paulo, Maria Sopko, confirmou que o irmão do presidente circula “eventualmente” pela casa. “Ele vem aqui resolver coisas simples, como o atraso na liberação de um termo de quitação de imóvel”, diz. A secretária afirmou que Vavá costuma ser recebido por um dos vice-presidentes do órgão, mas não quis revelar seu nome.

Na última quinta-feira, quando falou a VEJA, Vavá confirmou também ter “acompanhado” um empresário paulista do ramo da construção, identificado apenas como José Ernesto, a uma reunião com o diretor de operações e logística da Petrobras Distribuidora, Edimilson Sant’Anna. A audiência, marcada a pedido do ex-metalúrgico, ocorreu no último dia 29 de setembro, na sede da empresa no Rio. Segundo o irmão do presidente, o objetivo do empresário paulista era “apresentar alguns projetos” para a subsidiária da Petrobras. Além de viagens ao Rio, Vavá afirmou que vai freqüentemente a Brasília. Só no mês passado, esteve na capital federal três vezes. E o que foi fazer lá? “Passear”, responde. As passagens, segundo ele, foram pagas por empresários. Um deles, ainda de acordo com Vavá, seria Silvio Assis, do Distrito Federal. O ex-metalúrgico não revela o motivo pelo qual empresários teriam financiado seus “passeios” pela capital.

Outra frente de atuação de Vavá e seus assessores está relacionada ao terceiro setor. O escritório do irmão do presidente recebe pedidos para interceder por ONGs e institutos sociais em processos de liberação de verbas e patrocínios comandados por diferentes órgãos do governo. Os pedidos são encaminhados à assistente social Solange Silva, amiga de Cristina Caçapava. Solange é ex-funcionária da prefeitura de Diadema e dona de um escritório de “consultoria” naquela cidade, especializado, segundo diz, em “prestar assessoria a pessoas e entidades interessadas em apresentar projetos que dependam de financiamento público”. Ela confirma que o escritório de Vavá lhe envia “projetos sociais” para ser “formatados”, mas disse que seu trabalho se encerra aí e que não é dela a responsabilidade pelo encaminhamento dos projetos aos seus potenciais financiadores no governo. “Eu só escrevo e desenvolvo os trabalhos.”

Vavá não é o primeiro-irmão com potencial para causar embaraços a um presidente. Em 1984, quando o americano Bill Clinton era governador do estado de Arkansas, seu meio-irmão Roger chegou a passar um ano na prisão, por porte de cocaína. Outro presidente americano que não escapou de problemas semelhantes foi Jimmy Carter. Em 1978, seu irmão Billy, simpático e bom de copo, fez uso de um discurso anti-semita para defender os países islâmicos. Em 1980 foi acusado de receber um “empréstimo” de 220.000 dólares, a título de vendas de petróleo que teria realizado na condição de “agente do governo da Líbia no exterior”. Na ocasião, Carter declarou em entrevista à televisão: “Eu espero que as pessoas compreendam que eu não tenho nenhum controle sobre meu irmão”.

O presidente Lula pode dizer, com razão, a mesma coisa. O problema é que, no seu caso, há uma lista de precedentes que o desabonam. Lula não sabia dos métodos utilizados no governo pelo seu ex-ministro da Casa Civil e “capitão do time”, José Dirceu. Não sabia que o partido que ajudou a fundar e que o elegeu tinha se transformado numa ratoeira. E também não sabia que seu filho, Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, andava envolvido em negócios milionários com uma empresa que tem 25% do seu capital composto de dinheiro público. O ministro, o partido, o filho e, agora, o irmão –e Lula não sabe de nada.

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