Leonardo Barreto na Crusoé: Petista de direita
Preocupação social não é mais exclusividade de direita. Conservadorismo evangélico fala mais com os pobres que o identitarismo woke
Washington Quaquá é o principal nome do PT fluminense e uma espécie de czar do pequeno município de Maricá, que ele assumirá como prefeito pela terceira vez. Em um recente perfil do político publicado na revista Veja, revela-se que ele é estudado como um “case” dentro da sua legenda pela sua proximidade com o público evangélico e outros conservadores. Quaquá também ganhou as manchetes ao dizer que a principal vitória do presidente Lula nas eleições municipais deste ano foi a reeleição de Eduardo Paes no Rio, mesmo ele sendo do PSD.
Seu comportamento está longe do que cultiva o status quo petista. Mas sua presença faz barulho – e incomoda – porque traz uma pergunta impossível de não ser feita após os resultados das eleições municipais frustrantes para a legenda, mesmo ela tendo crescido um pouco em relação aos resultados de 2020: o PT sobreviverá se continuar a ser o que ele é?
O contexto dentro do qual essa pergunta é feita compreende Lula buscando suporte na direita para viabilizar sua segunda metade de mandato. Aumentar o espaço dos partidos do Centrão no governo é dado como certo. Também é bem provável que o presidente rife Geraldo Alckmin e o PSB da vice-presidência para convidar outra legenda desse espectro como companheiro de chapa em 2026. Nada disso, no entanto, é novidade.
O que pode ser diferente é a agenda e o comportamento presidencial, a começar pelo abandono da manjada tática de terceirizar o custo e privatizar o ganho das políticas públicas, como pedir ao Congresso que aprove aumentos de impostos enquanto comemora (sozinho) sucessivos anúncios de novos de gastos sociais. Após a realização do segundo turno, Lula vai dar uma entrevista coletiva, falando da importância de engajar o país em uma revisão de despesas, defendendo sacrifícios necessários, ou vai deixar a bola com Fernando Haddad e não tocar no assunto em nenhum momento, fingindo até ser opositor das medidas?
O fato é que uma aliança do PT com a direita no Congresso não é tão fácil como se pode imaginar. Primeiro, parlamentares avaliam que Lula foi longe demais ao patrocinar sucessivas intervenções do STF para reverter derrotas em votações ou buscar a retirada de prerrogativas parlamentares recém-adquiridas. Lembre-se de que pela primeira vez na história a execução de emendas parlamentares está suspensa por decisão judicial.
Além disso, há uma crise econômico-financeira acenando no horizonte. É verdade que não se sabe quando esse cenário — que o mercado já comprou — vai se materializar e nem o quanto os parlamentares acreditam na sua materialização. De qualquer modo, há um risco de aumentar uma sociedade com o governo exatamente quando ele parece estar na baixa.
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