Você “doaria” seu rim por 50 mil dólares?
A jornalista americana Jerusalem Demsas discute no The Atlantic a polêmica questão da compensação financeira para doadores de órgãos, destacando os dilemas éticos e práticos do tema.
A jornalista Jerusalem Demsas publicou no The Atlantic, nesta terça, 1º, artigo intitulado “Você doaria seu rim por 50 mil dólares?”, onde aborda um tema sensível e atual: a possível remuneração para doadores de rins.
A autora se baseia em dados alarmantes para abrir o debate: “Em 2022, cerca de 12 pessoas morreram diariamente aguardando um transplante de rim nos Estados Unidos“. Além disso, ela salienta que a doença renal é a oitava maior causa de morte no país, com mais de 90 mil americanos atualmente esperando por um novo órgão.
Demsas entrevistou Dylan Matthews, um jornalista que doou seu rim para um desconhecido em 2016. Ele agora defende o End Kidney Deaths Act, um projeto de lei que propõe o pagamento de até 50 mil dólares em créditos fiscais para incentivar as doações. Matthews critica o sistema atual, onde “todos, exceto o doador, são pagos”, afirmando que essa realidade contradiz os argumentos de que a compensação financeira diminuiria a natureza altruísta da doação.
“A doação de rim envolve planejamento, exames médicos, uma cirurgia dolorosa e uma recuperação que pode ser longa”, escreveu Demsas. O maior problema, no entanto, é a escassez de rins disponíveis, que torna a fila de espera insuportável.
Dylan Matthews argumenta que essa compensação, regulamentada pelo governo, poderia salvar milhares de vidas, e compara o ato de doar um rim a qualquer outro trabalho físico remunerado.
A posição oficial da Igreja Católica sobre a doação de órgãos é que ela é considerada uma prática nobre e digna de ser encorajada, desde que realizada de forma ética e respeitosa. O Catecismo da Igreja Católica afirma que a transplantação de órgãos é moralmente aceitável se os riscos para o doador forem proporcionais ao benefício para o receptor.
A doação deve ser um ato livre e consciente, sem qualquer forma de coerção ou comércio. Entretanto, a Igreja condena a comercialização de órgãos, considerando-a “gravemente imoral”, pois compromete a dignidade humana e transforma partes do corpo em mercadoria.
Apesar dos avanços na medicina e da maior segurança nas cirurgias, o receio da “comercialização do corpo humano” ainda domina o campo da bioética. Demsas reconhece que muitos especialistas temem que o pagamento pela doação possa explorar financeiramente as pessoas mais vulneráveis, mas também pondera que “a alternativa é continuar com um sistema onde milhares morrem sem acesso ao tratamento de que precisam”.
O debate sobre o valor monetário de um órgão humano, segundo Demsas, toca em tabus culturais e morais profundos, mas Matthews é enfático: “O fato de médicos e enfermeiros serem pagos pelo trabalho que envolve um transplante, mas o doador não, é um absurdo”. Ele reforça que o pagamento poderia ser a solução prática para encurtar as filas e salvar vidas.
Quem é Jerusalem Demsas
Jerusalem Demsas é uma jornalista americana, especialista em políticas públicas e questões sociais. Atualmente escreve para The Atlantic, onde aborda temas relacionados à habitação, economia e saúde pública.
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