Crusoé: O Oito de Janeiro da UERJ
Por trás da confusão na universidade estadual, há uma briga intestina e fratricida de facções da esquerda
A sexta-feira em que a França protagonizou uma ode à vulgaridade, na mais infame cerimônia de abertura das Olimpíadas em décadas, será lembrada também como o “Oito de Janeiro da UERJ”, quando militantes de extrema-esquerda, alguns com lenços do Hamas cobrindo os rostos, invadiram a reitoria do campus Maracanã, o principal da universidade do estado do Rio de Janeiro.
Fundada em 1950, a UERJ aparece geralmente nos rankings como a décima do país e próxima da 800ª posição no mundo. Universidades estaduais são importantes no Brasil e no mundo, como a USP, a mais renomada do país, e a Universidade da Califórnia. Os números da UERJ impressionam: 43 mil estudantes, entre graduação e pós-graduação, 5.600 funcionários e 2.800 professores, com um orçamento bilionário e nomes estrelados na sua história, como o atual presidente do STF, Luís Roberto Barroso, e dois ex-presidentes, Luiz Fux e Joaquim Barbosa.
O estopim da crise, que levou a cenas de violência e detenção de um deputado federal por algumas horas, é o Ato Executivo de Decisão Administrativa (Aeda) 38/2024, apelidado pelos amotinados de “Aeda da Fome”, que alterou os critérios para a concessão da Bolsa Auxílio Vulnerabilidade Social, ou BAVS, restringindo o acesso a estudantes com renda familiar de até meio salário mínimo. O movimento estudantil também criticava cortes no auxílio-alimentação e mudanças no auxílio para material didático, que antes era pago a cada semestre e agora será concedido apenas anualmente.
Antes do ato executivo, alunos com renda familiar bruta de até um salário mínimo e meio recebiam o auxílio mensal, benefício instituído durante a pandemia e que foi mantido após o fim da crise sanitária, lembrando a máxima de Milton Friedman de que “não existe nada mais permanente que um programa temporário do governo”.
Por trás da polêmica, há uma briga intestina e fratricida de facções da esquerda pelo controle da universidade. De um lado, o ex-reitor Ricardo Lodi, advogado de Dilma Rousseff durante o processo de impeachment, apadrinhado do petista André Ceciliano, o poderoso ex-presidente da Alerj, atualmente sem mandato depois de quatro mandatos como deputado estadual, por ter disputado e perdido a vaga de senador para Romário em 2022. Do outro, a atual reitora, Gulnar Azevedo e Silva, que assumiu o cargo em janeiro deste ano.
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