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Não se engane com as pesquisas eleitorais

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Rodolfo Borges
8 minutos de leitura 15.09.2024 13:32 comentários
Análise

Não se engane com as pesquisas eleitorais

Últimos números do Datafolha sobre a corrida pela Prefeitura de São Paulo reavivaram desconfiança sobre os institutos. De fato, talvez eles não mereçam tanta confiança, e nem os candidatos que os desqualificam

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Não se engane com as pesquisas eleitorais
Foto: Reprodução/ Instagram

A divulgação da última pesquisa Datafolha sobre a corrida eleitoral em São Paulo, na quinta-feira, 12, trouxe de volta a desconfiança de parte do eleitorado em relação aos levantamentos sobre intenção de voto. O instituto mostrou o prefeito Ricardo Nunes (MDB) à frente, com 27% das intenções de voto, após subir cinco pontos percentuais, e o influenciador Pablo Marçal (PRTB, foto) em terceiro, com 19%, após oscilar negativamente três pontos.

Marçal, que até então apenas crescia em todas as pesquisas e expunha seus números com orgulho, reagiu aos dados que indicaram a perda de força de sua campanha colocando o Datafolha em dúvida. O empresário recuperou números do mesmo instituto sobre as eleições de 2018 e 2022 que teriam errado resultados.

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“Por que eles fazem isso? Eles têm a máquina municipal, estadual e federal (…) Isso aqui é para manipular a opinião pública”, diz Marçal em vídeo, optando por acreditar na pesquisa Veritá, que indica mais de 30% para ele na disputa pela Prefeitura de São Paulo. Sob esse ponto de vista, o influenciador também está “manipulando a opinião pública”.

Como ler os números

Uma coisa são os números apontados pelas pesquisas de intenção de voto, outra é o que se faz deles. Os dados divulgados pelo Datafolha fazem sentido, e reforçaram o que já indicara pesquisa do instituto Quaest no dia anterior: Nunes cresceu como consequência da maior exposição no horário eleitoral de rádio e televisão, no qual Marçal não tem sequer um segundo.

Faz sentido também que o prestígio do influenciador tenha sido abalado depois de o prefeito dedicar parte de seu extenso tempo na televisão para machucar a imagem de seu principal adversário no eleitorado de direita. Isso tudo não quer dizer, contudo, que Nunes terá exatamente 27% dos votos em outubro, e nem que o Datafolha tem a melhor medida sobre o atual momento da corrida eleitoral.

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A pesquisa em questão indicou apenas que a estratégia do prefeito de fazer uma grande coligação, de 12 partidos, funcionou, ao contrário do que ocorreu, por exemplo, com Geraldo Alckmin na campanha presidencial de 2018. Pode-se dizer também, a partir do cenário traçado, que o conteúdo do programa do emedebista foi eficiente.

Faz parte do jogo, contudo, que os candidatos convençam os eleitores de que suas candidaturas são fortes, para sustentar uma perspectiva de vitória, e isso se faz principalmente por meio das pesquisas. O apresentador José Luiz Datena (PSDB), por exemplo, praticamente jogou a toalha nesta semana porque, independente da pesquisa, os dados indicam que, apesar da notoriedade, ele perdeu espaço na disputa.

Em quem confiar?

Os institutos de pesquisa em todo o mundo democrático ainda tentam se recuperar desde que a vitória de Hillary Clinton contra Donald Trump foi decretada, em 2016, antes mesmo da votação. A desconfiança disseminada pelo triunfo de Trump naquele ano, contra todos os prognósticos, ainda reverbera, mas as pesquisas eleitorais já estavam em questão desde a eleição de Barack Obama, em 2012.

A vitória de Obama sobre o favorito Mitt Romney levou o prestigioso instituto Gallup, por exemplo, a desistir de pesquisas de intenção de voto, tamanha a volatilidade das corridas eleitorais, afetadas pela disseminação difusa e ininterrupta de informações pelas redes sociais. A reeleição de Obama reforçou a relevância da internet para as campanhas eleitorais, já atestada pelo próprio democrata em 2008.

Diretor do Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo disse em entrevista ao Meio-Dia em Brasília (assista abaixo) que “o grande problema das pesquisas” está na forma como elas são divulgadas. “A pesquisa é um instrumento de informação, não deve ser um instrumento de marketing das campanhas”, disse, acrescentando que a forma como os levantamentos são divulgados pela imprensa colabora para isso.

Os próprios institutos, contudo, também ganham atenção e relevância por participar da corrida eleitoral dessa forma. E, apesar de seus representantes destacarem sempre que não fazem prognósticos ou previsões, eles se gabam dos resultados quando os números coincidem com a votação final. Isso também faz parte do jogo e do mercado de pesquisa de opinião, que vai bem além das eleições.

Métodos de pesquisa

Hidalgo destacou também que as pesquisas que mostram resultados divergentes são feitas com métodos diferentes. No último levantamento divulgado pela AtlasIntel, que coleta informações pela internet e foi atualizada em um espaço de tempo maior do que as do Datafolha e da Quaest, Marçal ainda segue em franca ascensão.

Pode ser que isso ocorra porque essa modalidade de consulta não é afetada pelo fenômeno do eleitor envergonhado, que se sente intimidado de dizer a um entrevistador que votará em um candidato considerado pouco sério e, por isso, mente sobre suas intenções.

A coleta virtual dos dados também costuma ser influenciada pelos eleitores mais engajados, que fazem questão de manifestar suas opiniões quando questionados enquanto navegam na internet. Além isso, essa modalidade só alcança eleitores com acesso à rede mundial de computadores, o que pode deixar de fora mais pobres e idosos.

Por outro lado, as pesquisas feitas em domicílio, como as da Quaest, não alcançam eleitores de condomínios ou de regiões de mais difícil acesso. Os responsáveis por esses levantamentos precisam adequar seus métodos de pesquisa a essas limitações.

Esse é o tipo de informação que se deve ponderar na hora de analisar os números. E é por conta dessa complexidade, para além da possibilidade de os institutos errarem na calibragem de seus métodos ou na coleta dos dados, que Hidalgo aconselha os eleitores a não mudar o voto por causa das pesquisas.

O melhor

O diretor do Paraná Pesquisas disse ainda na entrevista a O Antagonista, que pode ser assistida abaixo, que “a gente vai saber qual foi a [pesquisa] mais eficaz quando se comparar com o resultado das urnas”. Eu não seria tão taxativo.

É possível que algum instituto tenha medido com mais precisão um ou outro movimento da campanha — e em um eleitorado específico, como os evangélicos ou os mais pobres —, o que é muito difícil de identificar e garantir, mas o resultado da eleição não terá o condão de premiá-lo por isso.

Hoje, com um celular em cada bolso, o eleitor pode ser influenciado no momento em que se dirige à urna. Uma pesquisa finalizada na véspera da votação não conseguirá captar esse voto. Quantos terão mudado ou de fato se definido apenas na última hora? E quantos eleitores vão se deixar influenciar pelas pesquisas e partir para o voto útil?

Tendência

A avaliação é feita atualmente pela tendência. Se o candidato X estava subindo em intenção de voto na última semana de campanha, é de se esperar que ele tenha mais votos do que o percentual indicado no último levantamento.

Há outras medidas relevantes, como o índice de certeza do voto e os níveis de rejeição de cada candidato, para além de questionamentos específicos sobre questões que podem afetar a eleição, como a satisfação com a economia, com a qualidade das calçadas ou com os atendimentos hospitalares.

Se houver mais de um instituto captando a mesma tendência e ela confirmar uma expectativa — como no caso do que se esperava da influência do horário eleitoral obrigatório em São Paulo —, a credibilidade dos números aumentará.

Torcida

Em disputas mais consolidadas, como as de Rio de Janeiro e Recife, onde os prefeitos Eduardo Paes (PSD) e João Campos (PSB) devem se reeleger com folga, é bem mais fácil acertar.

Mas, apesar de algumas divergências nas pesquisas de São Paulo, todas apontam Nunes, Marçal e Boulos como os principais candidatos, e, levando em conta as margens de erro, que variam de dois a cinco pontos percentuais, a depender do recorte, todos estão mais ou menos na mesma faixa de votos.

Que um ou outro apareça à frente ou em terceiro lugar não quer dizer muita coisa a esta altura do campeonato. Ou melhor, os números dirão aquilo que os analistas interpretarem, mas também o que cada candidato afirmar na tentativa de convencer os eleitores em disputa.

Mas não há garantia de nada. Resta aos institutos publicar seus números e torcer.

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Rodolfo Borges

Rodolfo Borges é jornalista formado pela Universidade de Brasília (UnB). Trabalhou em veículos como Correio Braziliense, Istoé Dinheiro, portal R7 e El País Brasil.

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