A briga de Marçal e Bolsonaro: como no filme, só pode haver um
A lógica dos neofundamentalistas da política brasileira é essa. Não há espaço para deuses no monoteísmo político de Banânia
Praticamente nove em cada dez brasileiros (89%) acreditam em Deus, segundo a pesquisa Global Religion 2023, produzida pelo instituto Ipsos no ano passado. Isso coloca o Brasil no topo de um ranking de 26 países pesquisados.
O mesmo levantamento mostrou que 70% dos brasileiros acreditam em Deus exatamente como descrito nos livros religiosos – Bíblia, Corão, Torá etc. -, e que 19% acreditam em “uma força superior”; não especificamente em Deus.
Porém, se 89% dos entrevistados no Brasil disseram acreditar em Deus – ou em um poder superior equivalente -, diminui para 76% o número de fieis que afirmam seguir e praticar uma religião cotidianamente, sempre segundo o estudo.
Teocracia x Democracia
Não surpreende, portanto, o crescimento contínuo – já há décadas – das bancadas religiosas nos parlamentos brasileiros, notadamente a chamada “Bancada Evangélica”, no Congresso Nacional. A fé, além de montanhas, move votos.
A cada frustração com o Estado e a cada expectativa não correspondida pelos “políticos tradicionais”, a despeito de tanto investimento pessoal (trabalho duro) em uma vida melhor, o brasileiro caminha em direção à crença em um salvador.
Neste momento, a política e o império das leis – ou seja, a própria democracia -, passam a ser relativizados em prol de religião e crença. Se a primeira opção mostrou-se incapaz, talvez a segunda (teocracia) funcione, arrisca o eleitor desiludido.
Messias e fundamentalismo
Não são à toa, portanto, os messiânicos de turno (Bolsonaro), e nem tão de turno assim (Lula), já que velhacos na exploração da fé e da esperança como política. E o mais novo Messias, Pablo Marçal, vem com um elemento extra: o culto à prosperidade.
“Enquanto ele tiver chances, eu vou apoiá-lo, porque sei que foi Deus que o levantou. Não é sobre Pablo e Bolsonaro, e, sim, a libertação e a prosperidade de um povo“, profetizou o candidato à Prefeitura de São Paulo, na Avenida Paulista, em 7 de setembro.
Marçal expõe sua fortuna – adquirida de maneira pouco transparente e comum -, que promete ser acessível a todos: basta querer e orar que Deus a trará! Ao mesmo tempo, investe na mais virulenta agressividade, tornando todos verdadeiros inimigos.
Só pode haver um
E quando digo todos, não é exagero meu. Marçal “abre fogo” também contra expoentes do mesmo espectro ideológico e religioso, pois um monoteísta que se preza só admite a si mesmo como o único deus – no caso, Deus.
Uma franquia famosa de Hollywood – fotografia e trilha sonora impecáveis -, Highlander (1986-1994), contava a história de um imortal que ultrapassava os séculos. Connor Macleod, a cada cabeça que decepava, gritava: “There can be only one”.
A lógica de Marçal, ou melhor, de todos os neofundamentalistas da política brasileira, é essa mesma: só pode haver um! Não há espaço para deuses no monoteísmo político de Banânia. A ver qual deles prevalecerá. Que Deus – e não o deles! – nos ajude.
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Comentários (1)
Paulo Pires
09.09.2024 13:10Bolsonaro tem se mostrado incapaz de renovar a sua retórica populista. Isso ficou claro na manifestação de 7 de Setembro de 2024 realizada em São Paulo, que reuniu cerca de 45 mil pessoas, bem menos do que as 185 mil que estiveram no ato bolsonarista anterior, em fevereiro deste ano. Seu rebanho deve estar migrando para o mais novo salvador da pátria: Pablo Boçal!