Lula ainda tem de se explicar sobre Silvio Almeida
Há indícios de que o presidente sabia há tempos das acusações sobre o ministro. Importa saber se deixou para lá
Silvio Almeida foi defenestrado do ministério dos Direitos Humanos por seu chefe, o presidente Lula.
Não lhe foi dada a oportunidade de assinar uma carta de demissão, como se faz quando o desejo é preservar alguma nesga da reputação de quem está de saída.
Almeida foi demitido. Com palavras duras: “O presidente considera insustentável a manutenção do ministro no cargo considerando a natureza das acusações de assédio sexual”.
Isso, contudo, não encerra o caso.
A cronologia importa
O agora ex-ministro terá de lidar com uma investigação da PF e com a provável divulgação de histórias demolidoras. Tem anos sombrios pela frente – que sua família, infelizmente, também terá de atravessar.
O que mais interessa ao país, no entanto, é conhecer em detalhes a cronologia dessa história. Pois há muitos indícios de que os casos de assédio sexual já eram conhecidos dentro do Palácio do Planalto e Lula tardou em agir.
Segundo reportagem do UOL, o diretor-geral da PF, Andrei Passos, já sabia desde o início deste ano das acusações. Passos é muito próximo de Lula. Difícil imaginar que não tenha relatado um problemão desses ao presidente.
Eu mesmo ouvi há pouco de uma fonte que o governo poderia ter agido há algum tempo, em vez de esperar que as denúncias explodissem. Quanto tempo? Dias, semanas, meses? “Há algum tempo”, reiterou o político.
Havia operação abafa?
Na manhã desta sexta, 6, escrevi um artigo observando que a primeira reação de Almeida às acusações indicava uma estratégia: acusar inimigos externos de conspirar contra ele.
Ele parecia esperar que tudo fosse contornável dentro do governo. O que levanta a pergunta: já estava em curso uma operação abafa? Há quanto tempo?
É importante cobrar do presidente da República explicações detalhadas sobre essa história lamentável.
Pois uma alongada leniência com casos de assédio sexual que lhe tenham sido relatados é absolutamente incompatível com o discurso de proteção às mulheres que Lula ostenta e que ajudou a elegê-lo. Lembremos que um eleitorado feminino cansado da truculência de Jair Bolsonaro e do seu desprezo pela vida durante a pandemia desempenhou papel fundamental na vitória do petista em 2022.
É preciso saber se Lula tem convicções de fato nesse campo ou se age apenas a partir do mais reles cálculo político.
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