“Doppelgänger”: como o Kremlin tentou criar uma psicose nuclear “Doppelgänger”: como o Kremlin tentou criar uma psicose nuclear
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“Doppelgänger”: como o Kremlin tentou criar uma psicose nuclear

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Redação O Antagonista
5 minutos de leitura 06.09.2024 14:23 comentários
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“Doppelgänger”: como o Kremlin tentou criar uma psicose nuclear

Na primavera de 2022, o Kremlin deu o sinal de partida para uma campanha de desinformação sem precedentes. Os documentos do FBI mostram, pela primeira vez, como os estrategistas de Putin visaram não apenas os Estados Unidos, mas também a Europa

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“Doppelgänger”: como o Kremlin tentou criar uma psicose nuclear
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Na primavera de 2022, o Kremlin deu o sinal de partida para uma campanha de desinformação sem precedentes. Os documentos do FBI mostram, pela primeira vez, como os estrategistas de Putin visaram não apenas os Estados Unidos, mas também a Europa.

A data é 16 de abril de 2022. Algumas semanas antes, as tropas russas tiveram que se retirar da região ao redor de Kiev. Os estrategistas do presidente Vladimir Putin calcularam mal quando presumiram que a capital ucraniana poderia ser capturada num curto período de tempo. Neste dia de primavera já estava claro que a guerra iria durar mais.

O vice-chefe da administração presidencial, Sergei Kiriyenko, convida, então, algumas pessoas para uma importante reunião, em Moscou.

No passado, Kiriyenko estava principalmente preocupado em garantir que as eleições na Rússia de Putin ocorressem sob o controle do Kremlin. Mas agora ele tem outra tarefa de controle e precisa voltar a sua atenção para a opinião pública na Europa.

A reunião de 16 de abril discutiu como persuadir mais europeus a apoiar a guerra da Rússia na Ucrânia. É o início de uma campanha de desinformação russa sem precedentes que ficou conhecida como “Doppelgänger”.

Psicose nuclear”

Pela primeira vez, os detalhes sobre como esta campanha foi planejada no Kremlin tornaram-se públicos. Só entre abril de 2022 e abril de 2023 ocorreram pelo menos 20 reuniões desse tipo na administração presidencial. É o que emerge de mais de 270 páginas de documentos que o FBI divulgou num tribunal dos EUA.

Na primeira reunião da administração presidencial russa, os participantes discutiram possíveis temas de propaganda. Kiriyenko, um dos presentes, elogia várias ideias. Ele então disse ao grupo que, para serem eficazes, eles deveriam usar dois métodos: além do “exagero”, ele mencionou sobretudo a criação da “psicose atômica”.

Do ponto de vista do Kremlin, é crucial alimentar o receio de uma guerra nuclear. O próprio Putin já ameaçou usar armas nucleares.

Foco na Alemanha

Três meses depois, o Kremlin organizou outra reunião para planejar e preparar a campanha “Doppelgänger”. De acordo com as notas de um participante, Kiriyenko estava cético e falava de uma “tarefa impossível”. As pessoas com quem ele conversou queriam começar em cinco países. Kiriyenko rejeita isso. O grupo decide concentrar os seus esforços na Alemanha.

Os presentes concordaram em três objetivos principais para a Alemanha: “Em primeiro lugar, devemos desacreditar os EUA, a Grã-Bretanha e a Otan. Em segundo lugar, “a verdade sobre a guerra na Ucrânia” deve ser transmitida e, em terceiro lugar, os alemães devem ser convencidos a tomar posição contra esta “política de sanções ineficientes”. Os participantes passaram o resto da reunião discutindo como difundir narrativas anti-ucranianas e pró-russas na Alemanha.

O plano é apresentado a Putin

Duas semanas depois, Kiriyenko instruiu novamente seus estrategistas a se concentrarem na Alemanha. O objetivo é “normalizar as relações”.

O plano é tão importante que será apresentado pessoalmente a Putin. Quando o pequeno grupo se reúne novamente em janeiro de 2023, um funcionário da administração presidencial afirma que o presidente foi informado sobre o projeto. Neste dia também é decidido não se limitar mais a países individuais, mas sim espalhar as histórias de propaganda o mais amplamente possível.

Algumas das ideias discutidas nas conferências da administração presidencial já são muito concretas: um participante sugere inventar notícias falsas sobre um soldado norte-americano que violou uma mulher alemã.

Agência de Design Social”


Notícias falsas direcionadas em sites que simulam a mídia real devem ser divulgadas e amplificadas por meio de comentários nas redes sociais. A empresa de relações públicas de Moscou “Agency for Social Design” foi responsável pela implementação dessa parte do plano. Seu chefe participou das discussões na administração presidencial e lavrou atas.

A empresa estabeleceu como meta distribuir um total de 60.000 comentários por mês na Alemanha e na França. Isto emerge de um documento interno da “Agência de Design Social” que foi anexado ao relatório do FBI.

A agência planejou detalhadamente como iria influenciar a campanha eleitoral nos EUA e a opinião pública na Europa e deu aos seus funcionários instruções precisas, incluindo sugestões de redação para as redes sociais.


Plano detalhado para Alemanha


Um documento de seis páginas com o título aparentemente inócuo “Gestão de Conflitos Internacionais – Projeto” explica como a Alemanha e a França deveriam ser influenciadas.

A tarefa do projeto é “aumentar as tensões internas no território dos aliados dos EUA com o objetivo de promover os interesses da Federação Russa no cenário internacional”.

A equipe é instruída a analisar e intensificar os conflitos existentes na Alemanha e na França “a fim de desestabilizar a situação social”. Ao mesmo tempo, devem ser promovidas narrativas favoráveis à Rússia.

Deveriam ser distribuídas postagens reais ou falsas nas quais refugiados ucranianos reclamam da Alemanha. A esperança dos estrategistas era que os alemães ficassem indignados e que o clima no país se voltasse contra os ucranianos.

Num outro cenário, lidaram com a AfD, que se vê exposta à “repressão silenciosa” por parte do governo federal. “Usando todos os instrumentos, apoiamos o partido criando a imagem de mártires que sofrem pela democracia e pelos interesses nacionais da Alemanha.”

A propaganda russa prossegue


A campanha “Doppelgänger”, desenvolvido por um dos mais importantes assessores de Putin, aparentemente continua em curso. Uma equipe internacional de analistas mostrou mais de 1.200 postagens na rede social X referentes a junho de 2024, que atribuíram à campanha

Leia mais: A operação da Rússia para monitorar (e manipular) o mundo

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Comentários (2)

ALDO FERREIRA DE MORAES ARAUJO

07.09.2024 11:49

O certo é que, nem nos piores pesadelos, Putin imaginou que dois anos e meio depois ele ainda estaria tentando ocupar a Ucrânia, porque certamente não é só a anexação do que ele diz ter direito, mas colocar um fantoche governando aquele país. E pior, na minha opinião, ele está transformando a Rússia num vassalo da China, de agora em diante, para tudo ele precisará do apoio chinês. Pedro, o grande (1672-1725) foi o czar que colocou a Rússia na mapa da Europa, Putin é o ditador que a tirou. A médio prazo não será bom negócio.


Marcelo Augusto Monteiro Ferraz

06.09.2024 16:40

Mentira: a matéria prima dos recalcados!


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