Burocracia da OMS atrasa entrega de vacinas contra Mpox na África
Atraso na aprovação pela OMS impede a distribuição de vacinas contra Mpox na República Democrática do Congo
A República Democrática do Congo, epicentro da emergência global de saúde, enfrenta uma escassez crítica de vacinas contra a Mpox, mesmo após ter solicitado doses há dois anos. A situação se agrava, uma vez que fabricantes afirmam ter estoques disponíveis. “O mais importante que precisamos agora são as vacinas“, declarou Samuel-Roger Kamba, ministro da saúde do Congo, questionando a ausência das doses.
Segundo reportagem do The New York Times, As vacinas contra Mpox estão retidas em um processo regulatório da Organização Mundial da Saúde (OMS). Embora os Estados Unidos e a Europa já tenham aprovado o uso da vacina Jynneos, a OMS ainda não emitiu uma licença oficial, essencial para que organizações como Unicef e Gavi possam comprar e distribuir as doses em países de baixa renda. Esta aprovação atrasada ocorre três anos após o último surto global de Mpox.
Blair Hanewall, consultora de saúde global e ex-diretora adjunta da Fundação Bill e Melinda Gates, aponta que a OMS, preocupada com a preservação de sua credibilidade, tem se mostrado avessa ao risco e lenta para reagir em situações de emergência. “Eles não têm flexibilidade para usar abordagens alternativas“, observa Hanewall. A OMS só considera a pré-qualificação de vacinas após uma revisão completa dos dados, um processo que pode demorar anos.
Crescimento dos casos de Mpox no Congo
Até agora, o Congo relatou mais de 15 mil casos de Mpox este ano, resultando em pelo menos 550 mortes, muitas delas de crianças. Uma nova variante do vírus já se espalhou para 13 países vizinhos, levando a OMS a declarar uma emergência global em 14 de agosto. Paul Chaplin, CEO da Bavarian Nordic, fabricante da Jynneos, afirma que a empresa possui 350 mil doses prontas para entrega e capacidade para produzir mais 10 milhões até o final de 2025. No entanto, sem pedidos em andamento, essas vacinas permanecem paradas.
Sob pressão dos Estados membros, a OMS recentemente autorizou a Gavi a iniciar negociações com a Bavarian Nordic para a compra de vacinas, mesmo sem uma aprovação formal. A organização justificou que as regras internas e a falta de dados atrasaram o processo. A empresa dinamarquesa, por sua vez, enviou documentos com dados de pesquisa para a OMS em maio de 2023, incluindo informações que levaram à aprovação pela Agência Europeia de Medicamentos anos antes.
Nas últimas semanas, a crítica à lentidão da OMS se intensificou. Especialistas em saúde pública argumentam que a organização deveria ter emitido uma licença de uso emergencial baseada nas aprovações já concedidas por reguladores dos EUA e Europa. A OMS planeja revisar os dados durante uma reunião de especialistas na semana de 16 de setembro e pode emitir uma licença se satisfeita com os resultados.
Soluções para a vacinas contra Mpox
Enquanto isso, a demora na aprovação de vacinas no Congo levantou suspeitas entre agências de saúde. O próprio Congo aprovou recentemente as vacinas Jynneos e LC16, mas enfrenta desafios financeiros para adquiri-las.
O custo de produção e o preço elevado das vacinas são obstáculos, assim como a complexidade na administração da vacina japonesa LC16. O Congo depende de doações internacionais e da ajuda da Gavi, que reservou US$ 500 milhões para responder a pandemias.
Especialistas sugerem que o modelo atual da Gavi, que depende da pré-qualificação da OMS, poderia ser revisto para permitir respostas mais rápidas em emergências. Com o aumento dos casos e o risco de uma nova disseminação global, a necessidade de soluções ágeis e eficazes é cada vez mais urgente.
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