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O vídeo de Tabata sobre Marçal é muito mais grave do que parece

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Ricardo Kertzman
5 minutos de leitura 26.08.2024 12:53 comentários
Análise

O vídeo de Tabata sobre Marçal é muito mais grave do que parece

Tabata atirou no que viu. Agora, o País precisa apurar e corrigir o que ela não viu. Algo ainda muito mais sério pode estar em curso

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O vídeo de Tabata sobre Marçal é muito mais grave do que parece
Foto: Reprodução/ X

A deputada federal e candidata à Prefeitura de São Paulo, Tabata Amaral (PSB), gravou e divulgou um vídeo extremamente impactante a respeito de seu rival, o ex-coach Pablo Marçal (PRTB), que não apenas tem potencial de mexer com as eleições paulistanas como pode ser o fio desencapado de um emaranhado ainda muito maior, e já sob ampla suspeita, que é a participação efetiva do crime organizado na política paulista.

Não são poucos os casos noticiados pela imprensa de políticos – por todo o Brasil, diga-se – conectados a milícias e grupos de extermínio; quadrilhas de roubo de veículos e de cargas; traficantes de drogas; pedofilia e toda sorte de crime organizado, inclusive aos dois mais poderosos grupos criminosos do país, o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC). Sem falar, claro, nas quadrilhas de “crimes do colarinho branco”.  

Em uma superprodução de marketing eleitoral, Tabata narra a trajetória de Marçal e lembra de sua prisão preventiva, em 2005, por envolvimento, segundo ela, com “A maior quadrilha de fraudes bancárias do Brasil”. Em 2010, Pablo foi condenado, mas após oito anos de recursos sua pena prescreveu. A deputada, então, questiona: “Recorrer custa caro. Pablo ainda não era empresário. Então, de onde veio o dinheiro para estes recursos?”.

Senta, que tem mais

Em 2023, de acordo com o vídeo de Tabata, a Polícia Federal realizou uma operação de busca e apreensão na casa de Pablo Marçal, então candidato a deputado, em investigação de falsidade ideológica, apropriação indébita e lavagem de dinheiro, relacionadas à sua campanha. Já um ano antes, em 2022, teve sua candidatura anulada por irregularidades no registro eleitoral. A deputada pergunta novamente: “De onde vem esse dinheiro?”.

No trecho mais dramático da denúncia de Tabata, perguntando, “De onde vem esse dinheiro, quem está por trás de Pablo Marçal, quem banca essa candidatura?”, ela mesma, em seguida, responde: “Uma pesquisa por seus aliados esbarra sempre nas mesmas letras: P de Pablo, C de coach, C de criminoso”. E continua: “Presidente do partido, ex-presidente do partido, aliados, esquema de troca de carros de luxo por cocaína”.

São tantos e tão graves os fatos e suposições até então apresentados no vídeo, que a ameaça final de Tabata – divulgar como Pablo Marçal conseguiu seguidores nos novos perfis de redes sociais que criou, após o bloqueio judicial dos antigos por suspeitas de crimes eleitorais – chega a ser menos impactante. Até mesmo o recado, “Eu sei que você está com medo de ser preso e pensa em desistir, Pablo”, soa adjacente.

Fora de controle

Dias atrás, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse que há mais de mil postos de gasolina nas mãos do PCC. Em abril, a Operação Fim da Linha, do Ministério Público, Polícia Militar, Receita Federal e Cade, apurou que duas empresas de ônibus que operam na capital paulista, supostamente ligadas ao PCC, receberam mais de 800 milhões de reais da Prefeitura, apenas em 2023.

Durante o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ocorrido este mês em Recife, o coronel Pedro Luis Souza Lopes, chefe do Centro de Inteligência da Polícia Militar de São Paulo, afirmou: “A participação do crime organizado nas eleições é bem maior do que eu imaginava. Não dá para falar que são 100, 200 municípios, mas tem vários com indícios palpáveis de alguma movimentação importante do tráfico como financiador de campanha”.

A recente Operação Decurio, da Polícia Civil de São Paulo, mostrou que o PCC tenta lançar candidatos a cargos municipais pelo estado. De acordo com as investigações, João Gabriel de Mello Yamawaki, preso preventivamente, um dos responsáveis pelo esquema de lavagem de dinheiro da facção, é o coordenador do núcleo político da quadrilha. Sua atuação tinha relação com as eleições em Ubatuba, Mogi e Santo André.

Isso precisa parar

Dois candidatos a vereador foram alvos dessa operação: um do União Brasil, em Mogi, e um outro do PSD, em Santo André. A Justiça solicitou o bloqueio de oito bilhões de reais e cumpriu 20 mandados de prisão temporária e 60 mandados de busca e apreensão em São Paulo, Mogi das Cruzes, Ferraz de Vasconcelos, Itaquaquecetuba, Guarulhos, Mauá, Santo André, São Caetano do Sul, Santos, Praia Grande, Mongaguá, Ubatuba, São José dos Campos, Campinas e Sorocaba.

Tabata Amaral apresentou fatos já ocorridos e muito graves. Alguns, inclusive, sob investigação. Marçal, obviamente, não está sendo condenado e terá garantido o direito de resposta e todo o devido processo legal que porventura venha a ocorrer. Aqui não segue qualquer juízo de valor sobre as alegações de um, ou de outro, mas a correlação de fatos que indica que algo muito mais sério pode estar em curso no estado mais rico do país.

O Rio de Janeiro – o segundo mais rico – já se encontra de joelhos, há décadas, para o crime organizado. Estados do norte e do nordeste brasileiros vêm sendo “colonizados” pelas facções do sudeste (PCC e CV, principalmente). Somente o Primeiro Comando da Capital, segundo estimativas, conta com 40 mil homens e fatura mais de 1 bilhão de dólares por ano em diversos países. Tabata atirou no que viu. Agora, o país precisa apurar e corrigir o que ela não viu.

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