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“Sequestro de prédio público” na UERJ é feitiço da esquerda contra a feiticeira

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Felipe Moura Brasil
7 minutos de leitura 21.08.2024 15:59 comentários
Análise

“Sequestro de prédio público” na UERJ é feitiço da esquerda contra a feiticeira

Universidade marcada por escândalos classifica como “agressiva” e “antidemocrática” reação de alunos a cortes em bolsas de assistência

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Felipe Moura Brasil
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“Sequestro de prédio público” na UERJ é feitiço da esquerda contra a feiticeira
Rio de Janeiro (RJ) 29/07/2024 – Estudantes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) protestam contra cortes e limitação de benefícios que garantem a permanência estudantil, como auxílio-alimentação e bolsa de apoio a alunos em vulnerabilidade social. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Depois que alunos insatisfeitos com cortes de benefícios oferecidos durante a pandemia bloquearam acessos do Pavilhão João Lyra Filho na noite de terça-feira, 20, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) classificou como inaceitável e descabido o sequestro de um prédio público, com claros e imediatos prejuízos à toda comunidade acadêmica”.

De acordo com a nota, “o movimento dos estudantes que ocupa as salas da Reitoria há três semanas conseguiu” os novos bloqueios “em mais um ato físico contra os agentes patrimoniais da universidade, usando os seus corpos de maneira ostensiva e agressiva. Na sequência, tornaram a posicionar o mobiliário da instituição para impedir as passagens.”

Ainda segundo a Reitoria, “a ação levou apreensão aos demais estudantes e aos servidores da UERJ, que tinha o seu funcionamento normalizado até o fim da tarde” de terça.

O que são os BAVS da UERJ?

O objetivo do “movimento” é reverter o Ato Executivo de Decisão Administrativa 38/2024, publicado no final de julho e apelidado de “AEDA da Fome” por ter estabelecido a redução, a partir de agosto, do número de beneficiários das Bolsas Apoio à Vulnerabilidade Social (BAVS). Até então, alunos com renda familiar bruta de até um salário mínimo e meio recebiam o auxílio mensal, agora restrito a alunos com renda familiar bruta de até meio salário mínimo, conforme o critério de vulnerabilidade adotado em outras universidades públicas. Criado para vigorar no período de emergência sanitária, encerrado oficialmente pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em maio de 2023, o auxílio para não-cotistas ainda se estendeu por mais 1 ano e dois meses além do prazo. Em 2024, seu valor é de 706 reais mensais.

As universidades fluminenses são dependentes do estado e, a cada ano, enviam planos de gastos à Assembleia Legislativa (Alerj), onde os deputados estaduais decidem o valor a ser repassado. Em sua proposta orçamentária de 2024, a UERJ estipulou precisar de R$ 4 bilhões, mas obteve R$ 1,9 bilhão. Como o Rio passa por um regime de recuperação fiscal, aumentos de despesa são travados; e as suplementações vindas do governo estadual cessaram.

A UERJ espera que a razão prevaleça?

Segundo a UERJ, os manifestantes já haviam usado de violência mais cedo, quando a sessão do Conselho Universitário foi suspensa pela segunda vez e eles invadiram o plenário, tentando impedir a saída dos conselheiros, fazendo uso do mesmo expediente do ‘cordão humano’. O gesto inaceitável, por cercear o direito de ir e vir, deixou pessoas feridas – um conselheiro e um membro da equipe da Reitoria -, que registraram boletins de ocorrência sobre o fato.”

A UERJ criticou os alunos envolvidos, mas apresentou uma proposta de solução intermediária para a crise.

“Ao contrário dos manifestantes, irredutíveis na postura de não negociar o impasse do AEDA 38/2024, agindo de maneira antidemocrática, como se viu na tentativa de calar opiniões contraditórias às suas no Conselho Universitário, a equipe designada pela gestão se reuniu ontem com representantes do Diretório Central dos Estudantes e dos Centros Acadêmicos das Unidades e apresentou uma proposta para encerrar a crise, acolhendo parte das reivindicações estudantis.

Nesse sentido, a Reitoria espera que a razão prevaleça e o movimento recue na posição de sequestrar os espaços que não pertencem exclusivamente a ele mas a toda a comunidade uerjiana, composta por 35 mil alunos, 3 mil docentes e quase 6 mil servidores técnicos administrativos.

Diante das impossibilidades e da insegurança causada pelo ato, estão suspensas as atividades acadêmicas e administrativas no Pavilhão João Lyra Filho, do campus Maracanã, nesta quarta-feira (21/8).”

A UERJ é reduto histórico da esquerda e de escândalos?

A atual reitora da UERJ, empossada em 10 de janeiro de 2024, é a professora e médica sanitarista Gulnar Azevedo e Silva, do Instituto de Medicina Social Hesio Cordeiro (IMS). Em 2022, ela endossou um manifesto em apoio à candidatura de Lula. Em seu Instagram, Gulnar aparece em fotos com a primeira-dama Janja, as ministras Nísea Trindade (Saúde) e Anielle Franco (Igualdade Racial), além de petistas como o ministro Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social) e a deputada federal Maria do Rosário.

O antecessor de Gulnar na Reitoria foi Ricardo Lodi, um dos advogados de Dilma Rousseff no processo de impeachment de 2016. A convite do também petista André Ceciliano, Lodi deixou o cargo em abril de 2022 para se candidatar a deputado federal pelo PT, mas não foi eleito. Sua renúncia como reitor foi anunciada por ele no evento “Encontro Internacional Democracia e Igualdade”, realizado no campus da UERJ, com a presença do então candidato Lula. O professor Mario Sergio Carneiro, até então vice-reitor, assumiu o mandato-tampão e tentou a reeleição, mas foi derrotado por Gulnar.

Em junho de 2023, Ricardo Lodi se tornou figura central no escândalo das folhas secretas da UERJ, no qual o Ministério Público do Rio (MPRJ) viu rachadinha e abuso de poder político.

A universidade, de acordo com o UOL, pagou R$ 789 mil a 73 cabos eleitorais de 17 candidatos de partidos de esquerda: PT, PV, PSB, PCdoB, PSOL e PDT. A maior parte trabalhou para candidatos do PT a deputado que fizeram campanha ao lado do ex-reitor. Segundo o portal, a UERJ desembolsou R$ 433 mil à família (sogra e esposa) do coordenador da campanha eleitoral de Lodi, Samuel Marques dos Santos.

Em agosto de 2023, Lodi ainda passou a ser investigado pelo Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCE-RJ) por gastos de R$ 640 milhões com remuneração de pessoal, em 21 projetos de pouca transparência ao longo de 2021 e 2022, durante sua gestão na universidade.

Na esteira do escândalo, o governador do Rio, Cláudio Castro, que foi reeleito com apoio de Jair Bolsonaro e manteve aliança com o PT local por intermédio de André Ceciliano, acabou absolvido pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ) em 23 de maio de 2024, por 4 votos a 3, em julgamento marcado pela mudança decisiva de voto da desembargadora Kátia Junqueira no último momento. Em 8 de agosto, a Procuradoria Regional Eleitoral, órgão do Ministério Público Eleitoral, apresentou recurso, pedindo anulação da decisão do TRE porque o acórdão “não fez o devido esclarecimento sobre as condutas imputadas a cada réu”. Os procuradores entendem que Castro também se beneficiou eleitoralmente dos desvios na UERJ.

Qual é a lição que a esquerda nunca quis aprender?

Em março de 2014 – há mais de uma década -, o autor americano Dennis Prager ensinou:

“Quanto mais as pessoas passam a confiar no Estado para cuidar delas, mais elas começam a desenvolver um sentimento de ‘direito’. Um sentimento de ‘direito’ é a crença de que você não deve aos outros, mas que outros – neste caso, o Estado e seus concidadãos, cujo dinheiro sustenta o Estado – devem a você. Um sentimento de ‘direito’ cria dois outros traços de caráter ruins: ingratidão e ressentimento. Quanto mais as pessoas esperam que seja dado a elas, menos gratas elas serão pelo que lhes é dado. E elas ficam ressentidas quando qualquer desses ‘direitos’ são tirados.”

Lula, PT, seus aliados acadêmicos e porta-vozes midiáticos sempre exploraram tanto o sentimento de ‘direito’ das massas quanto o ressentimento delas contra quem corta o que já foi dado, notadamente quando o corte é feito por rivais políticos e ideológicos, mesmo que na esteira de crises econômicas e escândalos de corrupção deixados por governos petistas.

A instrumentalização histórica da UERJ pela esquerda lulista e por aliados de ocasião tem agora esse efeito reverso: a Reitoria camarada precisa lidar com alunos que, seguindo a tradição dos movimentos esquerdistas, agem de maneira “agressiva” e “antidemocrática” quando, para sustentar seus recentes ‘direitos’, falta dinheiro público – parte dele desviado para campanhas políticas da própria esquerda.

Dessa vez, o feitiço virou contra a feiticeira.

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