Jerônimo Teixeira na Crusoé: Espírito olímpico para quem não gosta de esportes
Poucas mais belas, as vitórias brasileiras em Paris são um aceno para o país que poderíamos ser – e nos consolam do papelão que o Brasil está fazendo na Venezuela
As Olimpíadas de Paris estão em seus últimos dias. Já sinto certa nostalgia pelas horas que passei vendo competições cujas regras não entendo e que só me despertam interesse uma vez a cada quatro anos. Arco e flecha, por exemplo: assisti a uma disputa, pela primeira vez, nas Olimpíadas de Tóquio. Quedei fascinado, em uma madrugada insone, com a serenidade zen dos arqueiros. Nem lembro a nacionalidade dos competidores que vi naquele ano pandêmico. Nesta Olimpíada, encontrei brasileiros por quem torcer. Marcus D’Almeida é o número 1 do ranking mundial. Infelizmente, perdeu para o número 2, o coreano Woojin Kim, nas oitavas.
Muita gente que não acompanha esportes regularmente acaba se entusiasmando nas Olimpíadas. Eu sou um caso extremo: em outras épocas, minha indiferença pelo esporte é absoluta. Não dou bola (trocadilho ruim mas irresistível) nem para o futebol, que ainda é, ao lado do concurso público, o esporte nacional por excelência. Sou aquela figura caricata das crônicas de Nelson Rodrigues: o intelectual que não sabe bater corner. E se como intelectual não sou lá grande coisa, na incapacidade de chutar (ou de arremessar, rebater, sacar, cortar, bloquear) a bola não há quem me supere.
Lamento ser assim. Percebo que a incapacidade física e a insensibilidade espiritual para o esporte me privam de um naco substantivo da experiência humana. Nas semanas olímpicas, porém, alcanço uma compreensão rudimentar dos dramas que se desenrolam em estádios, campos, quadras, pistas, piscinas. Para minha felicidade, a TV por assinatura ofereceu uma boa variedade de canais transmitindo eventos olímpicos sem comentaristas. Nesse silêncio misericordioso, era um prazer acompanhar embates de esgrima e corridas de bicicleta.
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