L. Barreto na Crusoé: A responsabilidade histórica de Lula na crise da Venezuela
Maquiavel estabeleceu que o político não está submetido a regras e a julgamentos de condutas que regem o mundo ordinário. Há quem enxergue nessa premissa uma caracterização da política como uma luta de vale-tudo, mas não é bem assim
Colunista de Crusoé, o cientista político Leonardo Barreto escreveu sobre o papel desempenhado pelo governo Lula na crise da Venezuela desencadeada pela farsa eleitoral de Nicolás Maduro. Leia o início da análise a seguir e assine a revista para ler as conclusões:
“Nicolau Maquiavel, sempre ele, foi o primeiro a separar o mundo dos comuns do planeta dos políticos. Ele dizia que o príncipe, se desejava ser bom ou manter-se como um ser moral nos assuntos públicos, se arruinaria rapidamente, pois estaria lidando com atores e circunstâncias que exigiriam outro tipo de comportamento.
Leitores obtusos do escritor florentino enxergaram nessa premissa uma caracterização da política como uma luta de vale-tudo, mas não é bem assim. Ele estabeleceu que o político não está submetido a regras e a julgamentos de condutas que regem o mundo ordinário porque seu compromisso não é consigo mesmo ou com a salvação pessoal da sua alma, mas com a paz e a segurança do seu povo.
Max Weber, também sempre ele, traduziu a sociologia política existente em Maquiavel e desclassificou logo quem interpreta a ideia de uma ética específica dos políticos como um jogo do poder pelo poder. O famoso ditado “os fins justificam os meios” não pode ser usado fora de um contexto no qual precisa haver um objetivo maior, no que Weber chama de “ética de responsabilidade”, onde o que importa é o resultado para “o vulgo”, expressão que Maquiavel usa para designar o povo (como entidade).
Nada melhor do que exemplos para mostrar como esse dilema ético se materializa. Durante a Segunda Guerra, a Inglaterra teve dois primeiros-ministros, Neville Chamberlain e Winston Churchill. Após o conflito, a História decidiu que ambos ocupariam prateleiras completamente diferentes na categoria dos líderes políticos.
Num patamar mais baixo está Chamberlain, que governava quando se iniciou o comportamento agressivo da Alemanha. Obcecado pela paz, fez várias concessões (com territórios dos outros, é bom dizer) e tentou contemporizar com Adolf Hitler até o ponto de perder a condição de superioridade militar. Suas escolhas, mesmo que bem justificadas (“não importa os motivos da guerra, a paz é sempre mais importante”, diria Roberto Carlos) passar pano irresponsavelmente para a escalada nazista estimulou suas ambições ao invés de eliminá-las.
Lá no alto está Churchill, que assumiu o comando do país após o próprio Chamberlain, derrotado, ter declarado guerra contra a Alemanha. Ele encontrou uma situação dramática, com praticamente todo o exército inglês acuado no lado francês do Canal da Mancha e uma perspectiva real de invasão da ilha. Resistiu ao conseguir armar totalmente os espíritos dos ingleses, sinalizando não haver qualquer chance de negociação com Hitler e definindo que não haveria outro fim que não fosse a destruição total de um dos lados. Vencendo primeiro a batalha “no Templo”, como diria Sun Tzu, teve condições para tomar as decisões difíceis que precisou tomar, entre elas escolher cotidianamente quais vidas de soldados sacrificar para salvar objetivos estratégicos.
Sob a luz…
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