Rodolfo Borges na Crusoé: Submissão olímpica
Uma sugestão de sátira um pouco mais ousada para a cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de Paris, inspirada em Houellebecq
Os franceses organizaram uma abertura de Jogos Olímpicos como nunca antes, fora de um estádio, percorrendo as águas do rio Sena e com apresentações em diferentes pontos de Paris, mas o que ficou da festa foi uma polêmica religiosa. Um mal-entendido, alegam os organizadores, que não conseguiram convencer um único cristão de suas boas intenções.
É ironicamente trágico que a encenação que ofendeu católicos ao profanar a Santa Ceia tenha ocorrido na França. Enquanto os bispos franceses se escandalizavam com drag queens, os marroquinos simplesmente não assistiram à performance, porque a emissora pública de seu país a censurou, como registrou a revista L’Equipe.
A população do Marrocos é majoritariamente islâmica, uma religião cujos adeptos não têm lá muita tolerância com brincadeiras sobre suas crenças. Não por acaso, a exibição de drag queens em alusão ao quadro clássico de Leonardo Da Vinci trouxe à memória coletiva o atentado terrorista à redação do Charlie Hedbo, em 2015, na mesma capital francesa, que levou à morte de 12 pessoas.
Os jornalistas da revista satírica tinham publicado charges de Maomé em solidariedade ao jornal dinamarquês Jyllands-Posten, que fora ameaçado antes, por ser o primeiro a publicar ilustrações do profeta. Os irmãos Chérif e Said Kouachi não gostaram e entraram atirando na redação em 7 de janeiro daquele ano.
A reação dos cristãos à provocativa apresentação, montada em nome da diversidade, não passou do “cyberbullying” contra a DJ Barbara Butch, que representou Jesus na cena. As provocações e ameaças foram registradas pelas autoridades francesas.
“Certamente os romanos tiveram a sensação de ser uma civilização eterna, logo antes da queda de seu império; teriam, eles também, se suicidado? Roma foi uma civilização brutal, competente ao extremo no plano militar — uma civilização cruel também, em que as distrações propostas à massa eram combates mortais entre homens, ou entre homens e feras. Teria havido entre os romanos um desejo de desaparecer, uma falha secreta?”, questiona-se François, o narrador de Submissão, lançado por Michel Houellebecq naquele mesmo 7 de janeiro de 2015 em que o Charlie Hebdo foi atacado.
No enredo, os franceses elegem presidente Mohammed Ben Abbes, candidato da Fraternidade Muçulmana, com medo da Frente Nacional, à semelhança do que ocorreu nas eleições legislativas deste ano, quando a esquerda se uniu à extrema-esquerda, também em flerte com o islamismo, para evitar a vitória de Marine Le Pen.
O livro de Houellebecq, cuja história se passa em 2022, tem a aura profética de Os Demônios, de Dostoievski, que captou o clima que levaria décadas depois à revolução russa.
Na história contada pelo francês,…
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