Judoca israelense é boicotado por atleta argelino
O judoca argelino foi desclassificado por estar acima do peso, mas acredita-se que a verdadeira razão seja política
O judoca israelense Tohar Butbul (foto), em sua estreia nos Jogos Olímpicos de Paris, entrou no tatame da Arena Champ de Mars, cumprimentou o árbitro e foi declarado vencedor por ippon, avançando assim para as oitavas de final.
Seu adversário, Dris Messaoud Redouane, da Argélia, que é conhecido por rezar e ler o Alcorão antes das competições, foi desqualificado durante a pesagem. No dia anterior, ele apareceu com 73,4 kg, excedendo o limite de peso da categoria (-73kg). Contudo, acredita-se que a verdadeira razão seja política, com Redouane recusando-se a competir contra um israelense devido aos conflitos entre os países.
Consequências para o judoca argelino
Segundo reportagem do O Globo, a Federação Internacional de Judô poderá punir Redouane caso se comprove que sua desclassificação foi intencional por motivos políticos.
Na fase seguinte, Tohar enfrentou Hidayat Heydarov, do Azerbaijão, atual campeão mundial e número um do mundo, sendo eliminado dos Jogos de Paris-2024.
“Eu o respeito. Ele é um bom atleta. Não o odeio. Gostaria de ter lutado. Não aconteceu. Às vezes, a política atrapalha o esporte. Pode ser que ele quisesse lutar, mas seu governo não permitiu. Acredito que os atletas argelinos e a maioria dos atletas muçulmanos não podem lutar contra israelenses. Acho que são vítimas“, lamentou Tohar, após sua eliminação na luta seguinte.
“Quem sabe um dia haja paz, eu possa apertar sua mão e a gente possa se enfrentar. Que ele possa treinar em Israel e eu, na Argélia. A Olimpíada é uma boa chance para essa mensagem de paz”, completou Tohar, dirigindo-se a Dris.
Reincidência de boicotes
Tohar já havia enfrentado uma situação semelhante em Tóquio-2020, quando Fethi Nourine, também da Argélia, desistiu de competir contra ele. Devido a esse episódio, o treinador de Nourine, Amar Benikhlef, foi suspenso por 10 anos.
“Isso acontece muitas vezes, comigo já foram três, contando o Mundial de 2019, no Japão. E acho que todos contra atletas argelinos. É complicado. Eu sou atleta, esse é meu trabalho e vim lutar. Ele também se esforçou muito para estar nos Jogos Olímpicos, mas acredito que seu governo o forçou. Eu entendo essa situação“, explicou Tohar, pacientemente, sobre o tema.
Posicionamento oficial
Os organizadores dos Jogos comunicaram a desclassificação de Redouane: “Dris, inscrito na prova masculina de até 73 kg, falhou na pesagem. Conseqüentemente, seu oponente Tohar Butbul vencerá a luta programada por desistência.“
O Comitê Olímpico de Israel afirmou que sua “delegação continuará a competir com os valores olímpicos em mente. Acreditamos que esse tipo de comportamento não tem lugar no esporte.“
O treinador de Tohar, Guy Fogel, também acredita que a decisão pode não ter sido do atleta ou do treinador.
“Às vezes vem de cima. Não sei, não me importo. Ele não quis lutar, não seguiu as regras, ele perdeu a luta. Para nós foi uma vitória por ippon, mas preferia que tivesse tido a luta. Você pode não gostar, não se ama todos, mas isso é esporte“, disse Fogel que contou que não teve contato com os treinadores argelinos. “Se ele não quis lutar, não há nada que pudéssemos fazer. Não me sinto feliz, nem triste. Isso acontece muito com a gente. Já aconteceu. Eu sei qual é a situação de Israel, não gostamos. Bom, se quiser me dar a mão, se quiser ser amigo, para mim está bom… Isso aqui é esporte, vá para luta e fim“.
Um dos boicotes olímpicos mais conhecidos ocorreu nos Jogos de Atenas, em 2004, quando Arash Miresmaeili, então campeão mundial de judô, deliberadamente falhou na pesagem para evitar uma luta com o judoca israelense Udi Wax.
Miresmaeili admitiu ter feito isso por razões políticas, afirmando: “Apesar de meses de treinamento e de estar em boa forma, eu me recuso a lutar contra um israelense por empatia pelo sofrimento do povo palestino. Não estou nem um pouco desapontado.“
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