Leonardo Barreto na Crusoé: O velho professor venezuelano
A situação da Venezuela neste final de semana é mais delicada do que a do Brasil em 2014
No auge do milagre chavista, com os países da América do Sul surfando no super ciclo das commodities, recebemos na universidade uma delegação de professores e estudantes venezuelanos. O líder da missão fez a palestra de abertura e surpreendeu a todos com o tom pessimista com que narrou a deterioração democrática que já ocorria sob o comando de Hugo Chávez, morto em 2013.
Com um velho ar aristocrático, o professor falou das políticas populistas, do cerceamento da imprensa, da desorganização dos partidos tradicionais, do crescente aparelhamento do Estado e do discurso de divisão social.
As palavras provocaram um anticlímax junto à plateia que esperava notícias bem diferentes, otimista que estava em relação aos resultados da onda rosa de governos esquerdistas que tomavam o continente. Ao final,em vez de prestar atenção nos avisos vindos do colega acadêmico, a imensa maioria deu de ombros e classificou a palestra como “ranço da classe”.
Pouco mais de uma década depois, às vésperas de uma eleição dramática que ninguém acredita que ocorrerá de forma justa, não sei se o antigo professor ainda leciona, se mora na Venezuela ou teve que se exilar ou mesmo se está vivo. Seu país, por sua vez, seguiu, uma tragédia após a outra, o roteiro sinistro traçado naquela noite.
Presos políticos e milhões desterrados, infelizmente, são a face de um debate que os analistas são obrigados a fazer trazendo o ponto de vista institucional. Nesse sentido, a pergunta que deve ser feita é se toda essa turbulência poderia ter sido evitada ou, em outras palavras, quais motivos de a estabilidade política ser um recurso tão escasso por aqui.
No seu sentido moderno e formal, a democracia é um sistema que promove uma competição mais ou menos compactuada entre os grupos políticos de um país. Para que funcione, é preciso um acordo em torno das regras de disputa política e do processo decisório nacional, com as partes exercendo seus papéis no desenho e implementação de políticas públicas.
Se o consenso entre os grupos é essencial, o primeiro sintoma é o desacordo em torno das regras. Por isso questionamentos sobre a confiabilidade nas urnas eletrônicas no Brasil ou dúvidas sobre o processo de votação nos Estados Unidos são tão importantes. Não são causa, mas sintoma de que as facções políticas discordam em um nível acima do desejável.
No caso da Venezuela,…
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