Defesa do aborto será tema central da campanha democrata
De acordo com a pesquisa mais recente do Pew Research Center, 63% dos americanos acreditam que o aborto deve ser legal em todos ou na maioria dos casos
Kamala Harris, provável adversária de Donald Trump na eleição de novembro, está intensificando seus esforços para centralizar a eleição de 2024 em torno do aborto.
A vice-presidente americana, que tem sido uma defensora fervorosa do direito ao aborto, embarcou em uma “turnê de liberdades reprodutivas” e está se encontrando frequentemente com legisladores democratas, procuradores-gerais, donos de clínicas de aborto e ativistas para criar estratégias de combate a qualquer limitação ao procedimento.
Harris recebeu apoio imediato de dois importantes grupos de direitos ao aborto, Reproductive Freedom for All e Emily’s List, que rapidamente endossaram sua candidatura. “Ela é o tipo de candidata que vai gerar mais entusiasmo entre elementos do nosso movimento, incluindo independentes e republicanos descontentes após a decisão Dobbs”, disse Mini Timmaraju, presidente do Reproductive Freedom for All.
A provável candidata a presidente tem sido clara e direta sobre o assunto. Em um evento na Universidade de Maryland, ela culpou diretamente Donald Trump pelas restrições ao aborto e destacou o impacto dessas políticas para as mulheres americanas.
A questão do aborto tem se tornado cada vez mais influente no cenário político americano, especialmente após a decisão da Suprema Corte que derrubou Roe v. Wade em 2022. De acordo com a pesquisa mais recente do Pew Research Center, realizada em abril de 2024, 63% dos americanos acreditam que o aborto deve ser legal em todos ou na maioria dos casos.
Este número representa um aumento de 4 pontos percentuais desde 2021, antes da decisão Dobbs v. Jackson Women’s Health Organization. Existe uma clara divisão partidária: 85% dos democratas e independentes que tendem para o Partido Democrata apoiam a legalidade do aborto na maioria ou em todos os casos, em comparação com uma porcentagem significativamente menor entre os republicanos.
A pesquisa Gallup de 2023 também revelou tendências semelhantes: 61% dos americanos se opõem à decisão da Suprema Corte de derrubar Roe v. Wade. A porcentagem de americanos que se identificam como favoráveis ao aborto atingiu um recorde de 69% em 2023.
A questão tem se mostrado um fator cada vez mais importante nas decisões de voto dos americanos. O tema tem sido particularmente eficaz na mobilização de eleitores democratas e independentes. A pesquisa do Pew Research Center mostrou que 54% dos americanos acreditam que “a decisão sobre ter um aborto deve pertencer exclusivamente à mulher grávida”.
A reação dos eleitores à decisão Dobbs foi vista como importante para limitar os avanços republicanos nas eleições de 2022. Desde a decisão Dobbs, todas as sete votações estaduais sobre o tema resultaram em vitórias para os defensores dos direitos ao aborto, mesmo em estados tradicionalmente conservadores como Ohio, Kansas e Kentucky.
A pesquisa do PRRI (Public Religion Research Institute) indicou que o aborto é uma questão particularmente importante para eleitores jovens, especialmente aqueles entre 18 e 29 anos. O relatório do PRRI também mostrou um aumento significativo no apoio aos direitos ao aborto entre os eleitores democratas, passando de 71% em 2010 para 86% em 2023.
Em estados decisivos como Arizona e Florida, onde referendos sobre o aborto estão previstos para 2024, espera-se que a participação em favor dos direitos ao aborto possa ajudar os candidatos democratas.
A aglomeração em frente ao tribunal não apenas sublinha as profundas divisões na sociedade americana sobre a questão do aborto, mas também antecipa o impacto significativo que a decisão do caso terá, independentemente do resultado.
A revogação do Roe v. Wade
Em 24 de junho de 2022, a Suprema Corte dos Estados Unidos emitiu uma decisão que marcou a história do país ao anular a decisão Roe v. Wade de 1973.
Esta decisão anterior garantia a legalidade do aborto em todo o país, sob a interpretação de que a Constituição protegia essa escolha como parte da privacidade individual. A nova decisão, resultante do caso Dobbs v. Jackson Women’s Health Organization, transferiu a autoridade para regular o aborto de volta aos estados, abrindo um novo capítulo na legislação americana sobre o tema.
A decisão Roe v. Wade de 1973 estabeleceu um precedente legal, interpretando que a Constituição americana amparava o direito da mulher de escolher realizar um aborto, enquadrando essa escolha dentro dos direitos de “privacidade individual”. Isso levou à legalização do aborto em todo o país, estabelecendo um marco nos debates sobre saúde e legislação.
Através do caso Dobbs v. Jackson Women’s Health Organization, a Suprema Corte reexaminou e, posteriormente, revogou a decisão Roe v. Wade. Com uma maioria de 6 votos a 3, os juízes decidiram que a Constituição não contempla explicitamente o aborto, concluindo que a regulamentação desse procedimento cabe aos estados, e não ao governo federal.
A decisão de revogar Roe v. Wade alterou significativamente o cenário de regulamentação do aborto nos Estados Unidos. Já se observa um movimento em vários estados no sentido de implementar suas próprias legislações, que variam desde a restrição até a proibição total do procedimento.
“Jane Roe”, do Roe v. Wade, passou a defender a vida após conversão religiosa
Norma McCorvey, conhecida como “Jane Roe” no famoso caso Roe v. Wade, foi a figura central no caso de 1973 que levou a Suprema Corte dos Estados Unidos a legalizar o aborto em todo o país.
Em meados dos anos 1990, McCorvey se converteu ao Protestantismo e, posteriormente, ao Catolicismo. Essa conversão religiosa marcou o início de uma mudança drástica em suas crenças e em sua posição sobre o aborto.
Após sua conversão, McCorvey tornou-se uma ativista pró-vida, passando a trabalhar com o grupo Operation Rescue, uma organização antiaborto. Ela declarou publicamente sua dedicação a reverter a decisão que legalizou o aborto, afirmando que passaria o resto da vida tentando desfazer a lei que leva seu nome.
Em 1998, McCorvey testemunhou perante o Senado dos EUA contra o aborto. Além disso, ela acionou a Suprema Corte pedindo a revisão do julgamento de Roe v. Wade. Em 2009, McCorvey foi presa durante um protesto contra a indicação de uma juíza progressista para a Suprema Corte. Essas ações públicas demonstraram seu forte compromisso com a causa pró-vida.
McCorvey alegou que, em sua juventude, havia sido manipulada pelos grupos feministas para se tornar a figura central no caso Roe v. Wade. Ela passou a chamar as clínicas de aborto de “centros de assassinos” e enfatizou os riscos do aborto químico para a saúde feminina.
Quem foi Norma McCorvey
Norma McCorvey, nascida em 22 de setembro de 1947, em Simmesport, Louisiana, ficou conhecida como “Jane Roe” no caso histórico Roe v. Wade. Esse julgamento levou a Suprema Corte dos Estados Unidos a declarar inconstitucionais as leis estaduais que proibiam o aborto, legalizando o procedimento em todo o país em 1973.
Durante sua infância, McCorvey enfrentou uma vida familiar difícil. Seus pais se divorciaram quando ela tinha 13 anos, e ela e seu irmão foram criados por uma mãe alcoólatra e violenta. Aos 16 anos, McCorvey se casou com Woody McCorvey, mas deixou o marido após ser agredida por ele. Ela deu à luz sua primeira filha, Melissa, em 1965, e posteriormente teve mais dois filhos, que foram colocados para adoção.
Em 1969, grávida de seu terceiro filho e buscando um aborto, McCorvey foi apresentada aos advogados Linda Coffee e Sarah Weddington, que a representaram no caso Roe v. Wade. O processo levou três anos para chegar à Suprema Corte, e McCorvey nunca compareceu a um julgamento. Durante o processo, ela deu à luz e colocou o bebê para adoção.
Nos anos 1990, McCorvey se converteu ao Protestantismo e, mais tarde, ao Catolicismo, tornando-se uma ativista antiaborto. McCorvey trabalhou com o grupo Operation Rescue e declarou publicamente que se dedicaria a reverter a decisão Roe v. Wade. Em 1998, ela testemunhou perante o Senado dos EUA contra o aborto e, em 2009, foi presa durante um protesto contra a indicação de uma juíza progressista para a Suprema Corte.
Em 2020, um documentário acusou McCorvey de ter sido paga para adotar a postura antiaborto, mas sem dar provas definitivas. Norma McCorvey faleceu em 18 de fevereiro de 2017, em Katy, Texas, aos 69 anos.
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