Jerônimo Teixeira na Crusoé: Impressões sobre um atentado
Popular em canais de notícia, a conversa sobre ódio na política é um clichê que não serve para explicar a tentativa de assassinar Trump
Esse negócio de canais de televisão exclusivamente noticiosos pode não ter sido uma boa ideia. Se até jornais diários precisam de irrelevâncias para preencher suas páginas, o que esperar de quem transmite notícias sem parar, até nas horas da insônia? Nós, jornalistas, deveríamos aceitar humildemente a realidade: não é todo dia que acontece tanta coisa relevante.
Outro dia, aconteceu algo realmente importante, uma notícia titilante e sensacional: um atentado contra o candidato favorito às eleições presidenciais daquele que ainda é o país mais poderoso do mundo. Liguei a TV na CNN americana assim que soube do ocorrido. Permaneci perto de uma hora estupidamente hipnotizado por um loop contínuo das poucas e ainda imprecisas informações do disponíveis nas primeiras horas depois que uma bala passou raspando pela orelha de Donald Trump.
A redundância é a alma do jornalismo televisivo. O âncora no estúdio às vezes dava as mesmas informações que os repórteres de campo. Repetiu-se várias vezes a imagem de Trump no palanque, levando a mão à orelha. Um pouco mais tarde, a CNN conseguiu um vídeo de celular, gravado por alguém na plateia do comício em Butler, Pensilvânia. Era uma barafunda incompreensível de imagens tremidas. Em boa parte do vídeo, só se via o chão.
Então chegou o momento da previsível análise da notícia: os especialistas que a produção conseguiu encontrar no calor daquela hora tão grave foram entrevistados. Um ex-funcionário dos serviços de segurança federais falou muito cautelosamente sobre a necessidade de barrar a linha de visão dos telhados próximos a um evento público, para impedir que o franco atirador encontre um ponto elevado de onde veja bem seu alvo.
Seguiram-se considerações políticas. Ainda não se conhecia a identidade do atirador, mas já se tinha como certo que sua motivação era o ódio – o ódio político, o ódio polarizado que divide a política americana hoje, o ódio que se propaga nas redes sociais. O tiro que poderia ter matado Trump deveria servir, disse um comentarista, como um sinal de alerta: é preciso conter o ódio.
No entanto,…
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