Crusoé: TCU vai atrás de viagens internacionais em “estatal dos encostados”
Trio de diretores da estatal gastou 116 mil reais em passagens e diárias para Lisboa
Um processo em tramitação no Tribunal de Contas da União (TCU), analisa indícios de viagens internacionais de diretores e servidores da ENBPar, a estatal sucessora da Eletrobras, pagas pela estatal — mas que na verdade bancaram turismo na cidade de Lisboa.
A denúncia é mais uma a atingir a “estatal dos encostados”, holding que reúne as ações do governo em Itaipu, na Eletronuclear e responsável por gerir políticas públicas no setor elétrico.Um caso em análise da Corte de Contas remete a uma viagem em outubro de 2023 que se destaca na planilha de custos de viagens da ENBPar: dois diretores e uma assessora foram a Lisboa para acompanhar um fórum do setor de energia elétrica na capital portuguesa, onde apenas um nome estava originalmente convidado. Este trio, no entanto, não foi visto nos eventos oficiais.Originalmente, sóo consultor jurídico Fábio Amorim da Rocha estava agendado para viajar ao evento — durante o encontro na capital portuguesa, ele lançou um livro sobre “temas relevantes do direito de energia elétrica” e participou de uma mesa de debate, representando a ENBPar. No entanto, uma missão oficial foi composta incluindo também o diretor de Gestão Corporativa, Leandro Xingó, e o diretor Miguel da Silva Marques.Xingó e Marques receberam 8,5 diárias e, com isso, seus gastos explodiram: cada um custou 46.040 reais, com passagens e diárias. Fábio Amorim ficou por sete diárias, e seu deslocamento total custou 24.674 reais. No total, 116,7 mil reais.Segundo fontes na empresa, um quarto nome que não aparece nas planilhas de Transparência estaria na viagem: a assessora Michelle de Souza Lorenzatto. Segundo a denúncia, apresentada ao MPTCU e encaminhada à Corte de Contas, os custos da viagem da assessora não foram informados pela ENBPar. O texto segue dizendo que “ela permaneceu ausente de suas funções normais na sede da empresa por uma semana, sem que houvesse qualquer desconto em sua remuneração”. Michelle (que teria ido e voltado de Lisboa em classe executiva, custeada por fundos próprios) não teria sido oficialmente autorizada a deixar a empresa, configurando uma possível irregularidade administrativa.O denunciante ao TCU, que indica ter conhecimento do dia a dia da empresa, diz que Michelle seria em tese a coordenadora sobre o programa Procel — o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica. Na prática, entretanto, ela seria secretária de Miguel.Em resposta a um pedido de Lei de Acesso à Informação — também presente no processo do TCU — a estatal apenas afirma que Xingó e Marques, viajaram, juntamente com o Fábio Amorim da Rocha, “a convite do Ministério de Minas e Energia para a Missão Internacional ‘Mibel: Transição Energética e Novas Tecnologias'”.Os custos (que incluíram uma taxa de inscrição no evento, avaliada em 5 mil reais por pessoa) foram pagos pela estatal, e deveriam ser justificadas pelos diretores.Mas os diretores nada fizeram. O autor do vazamento ao MPTCU diz que Fábio, que foi até o país participar do lançamento do livro, “não apresentou qualquer relatório das atividades desenvolvidas ou evidência de ganhos para a empresa decorrentes de sua viagem”. O denunciante segue e diz que “em 10 meses ocupando o cargo, ele [Fábio] não produziu nenhum parecer jurídico e ficou quase dois meses sem comparecer à sede da empresa em Brasília para trabalhar.”
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