Blindagem de Flávio é mais um pum de Bolsonaro que ele não soltou
Falas do então presidente em áudio de reunião sobre blindar seu filho ilustram a importância do movimento “Peidei, mas não fui eu”
O irreverente — para dizer pouco — e grande cantor e compositor Lobão, em sua “primeiríssima manifestação de repúdio e oposição ao mensalão, ao PT, ao Lula”, apareceu em público em 2005, trajando uma camiseta com os dizeres: “Peidei, mas não fui eu”. Como ainda estou “juninho” em O Antagonista, estreando esta coluna diária, preferi suavizar o título com um “pum”. Com o tempo, colocarei minhas manguinhas de fora.
Jair Bolsonaro (foto), ao que parece, foi novamente pilhado em supostos e graves crimes. Desta vez, através da publicação, na íntegra, por ordem do Xandão, do áudio da reunião de 25 de agosto de 2020, no Palácio do Planalto, em que discutiu abertamente formas para blindar o pimpolho presidencial 01, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), de investigações sobre rachadinhas em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj).
Reunido em um equipamento público, com agentes públicos — o deputado federal Alexandre Ramagem, à época diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), e o general Augusto Heleno, à época chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) —, o então presidente da República, ao lado do filho-senador e de duas advogadas, distribuía ao seu time, como um camisa 10 de várzea, bolas absolutamente nada republicanas.
“A gente nunca sabe se alguém está gravando“
Por mais de uma hora, Bolsonaro esqueceu-se de cloroquina e ivermectina, e instruiu as doutoras: “É o caso de conversar com o chefe da Receita. O [José] Tostes”. Mas, atenção! Não vá o leitor amigo, a leitora amiga, prejulgar o mito, não, hein! Ele deixou bem claro: “Ninguém está pedindo favor aqui, não estamos procurando favorecimento de ninguém”. E fulminou: “A gente nunca sabe se alguém está gravando alguma coisa”.
Bem, deixe-me ver: advogadas de um senador investigado, procurando o chefe da Receita Federal, a mando do presidente da República? Ah, quer saber? Tudo bem. Bolsonaro tem razão: “Ninguém está pedindo favor aqui”. Era apenas um bate-papo sobre como preencher adequadamente a declaração do Imposto de Renda: “Dr. José, posso declarar a consulta veterinária do meu hamster?”. Pois é. O mito fez outro pum, mas não foi ele. Como sempre.
Ricardo Kertzman, que estreia coluna no portal O Antagonista, é um empresário mineiro caído sem paraquedas na Comunicação. Começou sua jornada de forma despretensiosa com o blog Opinião Sem Medo, em 2016, e acabou colaborando com Estado de Minas e Portal UAI, do grupo Diários Associados; revista Istoé impressa e virtual; revista Encontro, de Belo Horizonte; Rádio Itatiaia e Rede 98, também veículos de Minas Gerais; além de seu próprio site, O Fator, parceiro de O Antagonista. Acompanhe diariamente os artigos de Ricardo Kertzman e outras análises na aba “Colunistas”.
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