O “bom negócio” do Banco Master com a Caixa
Gerentes perderam cargos na estatal após se oporem a operação arriscada; presidente do Master se diz surpreso com revelação de relatório
O presidente do Banco Master, Daniel Vorcaro, defendeu a operação de R$ 500 milhões vetada por parecer técnico da Caixa Econômica Federal. Como mostrou O Globo, dois gerentes perderam os cargos na estatal após se oporem ao negócio, considerado arriscado demais para os padrões do banco.
“Tenho investidores profissionais e de alta performance que adquiriram esse ativo”, disse Vorcaro ao jornal carioca, sem revelar quem são os compradores. Ele classificou a aquisição como “um bom negócio”.
O jornal chamou a atenção para um parecer sigiloso da área de renda fixa da Caixa Asset que “desaconselhou enfaticamente” a operação, considerada “atípica” e “arriscada” em razão do valor alto demais e por causa do rating do banco, de BB+, risco médio.
O documento classifica o modelo de negócios do Master como de “de difícil compreensão” e indica “alto risco de solvência”, o que levou o assunto a ser retirado da pauta de reunião do comitê de investimento da Caixa Asset em 4 de julho.
Quatro dias depois da reunião, os gerentes Daniel Cunha Gracio, de renda fixa, que assina o parecer, e Maurício Vendruscolo, de renda variável, que também avalizou os documentos, perderam seus cargos.
O presidente do Banco Master admitiu ao jornal que a venda dos papéis foi abalada pela revelação do parecer divulgado na sexta-feira, 12 de julho.
Ele disse ainda ter se reunido “uma ou duas vezes” com a diretoria da Caixa para tratar sobre a venda das letras financeiras. A equipe do Master, segundo Vorcaro, se encontrou diversas outras vezes com o time da Caixa Asset, o braço de gestão de ativos do banco estatal.
“Ficamos surpresos com essa questão do relatório. Até onde a gente entende, e pelas conversas que temos com a Caixa e a Caixa Asset, eles têm uma opinião diferente do que está no parecer. A opinião do relatório não é a opinião efetiva da Caixa sobre o banco Master”, afirmou.
Retaliação?
As demissões dos gerentes Daniel Cunha Gracio e Maurício Vendruscolo foram interpretadas como uma tentativa de retaliação nos bastidores, segundo O Globo.
“Desde então, abriu-se uma crise no banco, que repercutiu entre operadores do mercado financeiro, segundo apurou a equipe do blog com três fontes a par do assunto ouvidas em caráter reservado”, informa a coluna de Malu Gaspar.
A Caixa Asset negou retaliação, alegando, em nota, que “realiza, periodicamente, uma avaliação do time de gestores, e não faz parte da política da empresa nenhum tipo de retaliação, sendo que as substituições se dão com critério exclusivamente profissional”.
Bancos
O caso da Caixa lembra reportagem exclusiva publicada por Crusoé em 21 de junho sobre O estranho acordo de R$ 600 milhões do Banco do Brasil. Com a diferença de que o caso do Banco do Brasil se consumou, e com a assinatura do ministro Superior Tribunal de Justiça (STJ) Luís Felipe Salomão num domingo à noite.
Impossível não lembrar também de quando Lula pediu publicamente ao então presidente do Santander, Emilio Botín, em 2014, a demissão de uma executiva que alertou para os riscos da reeleição de Dilma Rousseff para a economia brasileira.
“Essa moça tua que falou não entende porra nenhuma de Brasil e nada de governo Dilma… pode mandar embora”, discursou Lula em palanque. A “moça” foi de fato mandada embora, e cobrou na Justiça indenização do petista. O tempo mostrou de forma avassaladora, com o peso de um impeachment, que a analista do Santander estava correta.
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