O “Tigrinho” está em todo lugar
Vídeos automáticos do "jogo do Tigrinho" de longa duração e promessas de lucro fácil têm aparecido em canais de culinária e conteúdo infantil
Lives do Fortune Tiger, conhecido popularmente como jogo do Tigrinho, têm surgido inesperadamente em canais de YouTube voltados para culinária, música e jogos infantis. Esses vídeos não são transmissões ao vivo, mas sim repetições contínuas de conteúdos previamente gravados, com o objetivo de promover estratégias supostamente lucrativas no jogo de caça-níqueis.
Os vídeos apresentam um anfitrião que alega ter encontrado uma falha no Fortune Tiger, prometendo grandes lucros em curtos períodos. Em um dos vídeos analisados pelo, o apresentador afirma ter ganho o equivalente a oito salários em apenas 30 minutos. No entanto, as diretrizes do YouTube proíbem vídeos que prometam ganhos financeiros rápidos, considerando-os enganosos e prejudiciais.
O G1 analisou oito dessas transmissões, publicadas em sete canais diferentes, todos com grande número de seguidores, variando entre 1 milhão e 7,2 milhões. Após o contato da reportagem com os donos dos canais, sete vídeos foram retirados do ar, e um foi removido pelo próprio YouTube por violar as políticas da plataforma.
A ilegalidade das transmissões do jogo do Tigrinho
Especialistas em apostas e advogados apontaram a ilegalidade dessas transmissões, ressaltando que jogos de azar não devem ser promovidos como fonte de renda. “O jogo regulamentado é randômico e auditável, e não há como prever o resultado futuro. Oferecer estratégias para garantir lucros é enganoso“, afirmou Ana Gatti, diretora de operações da Associação Brasileira dos Bingos Cassinos e Similares (Abrabincs) que falou ao portal de notícias.
Os responsáveis por dois dos sete canais investigados (@familiasantana e @leomedeiros) alegaram que suas contas foram invadidas e negaram envolvimento com as lives. Outros quatro canais não responderam aos pedidos de comentário, e um canal não pôde ser contatado.
Comentários promovendo sites de apostas
Enquanto essas transmissões ocorrem, é comum ver comentários repetitivos promovendo sites de apostas, indicando a utilização de bots para inflar artificialmente o engajamento. Em um dos vídeos, a frase “muito boa essa plataforma” apareceu 80 vezes em 25 minutos, postada por 22 contas diferentes. Essa prática de manipulação de comentários também é proibida pelo YouTube.
Além dos elogios automáticos, os comentários frequentemente contêm links para sites de apostas sediados no exterior. Sites como mmabet.com e go.aff.apostatudo.bet afirmam ter autorização do governo de Curaçao para operar.
De acordo com o advogado Fábio Jantalia, empresas estrangeiras podem oferecer jogos de azar para brasileiros, desde que possuam as autorizações necessárias dos países onde estão sediadas. “Mesmo que ofereçam o jogo do tigre em plataformas sediadas no exterior, não há irregularidade se o país onde estão licenciadas permite tal operação“, explica Jantalia.
Regulamentação dos sites de apostas
No Brasil, o setor de apostas está em fase de regulamentação, com a lei publicada em dezembro de 2023 definindo os parâmetros para jogos online. Para que o jogo do Tigrinho seja oferecido legalmente no Brasil, ele precisará passar por um processo de certificação e obter autorização do Ministério da Fazenda, conforme destaca o advogado Luis Felipe Ferrari.
As empresas interessadas têm até 31 de dezembro de 2024 para se adequarem à nova legislação. A partir de 1º de janeiro de 2025, as atividades de monitoramento e fiscalização começarão, e apenas empresas autorizadas pelo Ministério da Fazenda poderão operar no Brasil.
O jogo do Tigrinho não escolhe classe social
Uma investigação do Departamento de Investigações Criminais (Deic) da Polícia Civil de São Paulo revelou a amplitude do impacto causado pelo cassino online conhecido como jogo do Tigrinho. O delegado Eduardo Miraldi, um dos responsáveis pela apuração, revelou que o jogo não escolhe idade, classe social ou endereço de suas vítimas. A organização criminosa por trás deste caça-níquel já afetou idosos, jovens, pobres e ricos.
O mecanismo do jogo do Tigrinho é simples: o jogador faz uma aposta e gira a roleta na esperança de alinhar figuras repetidas para ganhar prêmios em dinheiro. No entanto, a polícia afirma que trata-se de um jogo de azar, pois o ganho depende exclusivamente da sorte, sem qualquer elemento de habilidade ou estratégia.
500 boletins de ocorrência contra o jogo do Tigrinho
De acordo com reportagem da Folha de S. Paulo, desde o ano passado, aproximadamente 500 boletins de ocorrência mencionando o jogo foram registrados no estado. No entanto, a polícia acredita que o número real de vítimas seja significativamente maior. Entre os alvos da Polícia Civil estão influenciadores digitais com grandes audiências, que utilizam sua fama para atrair novos jogadores para a armadilha.
“Essas plataformas de jogos buscam influenciadores para firmar parcerias, e esses influenciadores então promovem o jogo em seus perfis“, explica o delegado Miraldi. “Eles costumam fazer postagens afirmando que estão ganhando valores exorbitantes, o que é uma mentira. Eles redirecionam as pessoas para o site do jogo de azar, onde é necessário fazer um cadastro. Esse cadastro geralmente custa entre R$ 10 e R$ 20, e a partir daí a pessoa pode começar a jogar“, disse o delegado
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