Decisão sobre juros pode esvaziar discurso de Lula e salvar o país
Declarações do petista sobre a política monetária têm se tornado tiros pela culatra, piorando as expectativas e mantendo as taxas altas
Quando o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central divulga a nova taxa de juros básica, todo o mercado financeiro estará de olho no posicionamento dos membros da autoridade monetária.
A votação dividida do colegiado na reunião de maio deixou cicatrizes na credibilidade do grupo e uma pitada de desconfiança sobre a firmeza com que a instituição terá no combate a inflação a partir de 2025. No mês passado, todos os quatro indicados até agora pelo petista para autarquia votaram pela continuação do ritmo de cortes da Selic em 0,50 ponto percentual, mas os cinco diretores herdados do governo passado definiram, por maioria, a redução da magnitude do corte para 0,25 ponto percentual.
Às 18h30 desta quarta-feira, 19, quando a autoridade monetária publicar o comunicado do Comitê em que explica a decisão sobre a taxa básica e explicita os votos de cada membro, a expectativa do mercado é que todos apresentem o mesmo posicionamento. Se isso acontecer, as bravatas de Lula na entrevista concedida na manhã de terça-feira, 18, em que sugere que o presidente do Banco Central estaria trabalhando para prejudicar o governo dele e que a autarquia seria a única coisa desajustada no país, cairão por terra.
Isso porque todos os indicados pelo petista teriam aderido a esperada manutenção dos juros em patamares considerados inadequados pelo presidente. Como então Lula conseguiria manter o discurso do agente bolsonarista infiltrado no Banco Central que tem como missão prejudicar os mais de 200 milhões de brasileiros com a política monetária, uma vez que os escolhidos por ele concordam com a estratégia?
A derrocada da argumentação do petista, no entanto, pode ser mais importante do que apenas mostrar, mais uma vez, que Lula se utiliza de mentira e ficção para tentar controlar a retórica política. Um posicionamento claramente voltado ao combate à inflação pelos indicados do governo atual pode reduzir a expectativa de alta nas taxas futuras de juros e são elas que incidem diretamente sobre as decisões de investimento do setor produtivo.
Portanto, um posicionamento unânime e alinhado do grupo nesta quarta-feira, 19, pode devolver aos agentes econômicos alguma confiança de que, mesmo um BC “lulista” poderia manter o compromisso com o combate à inflação.
Em janeiro do ano que vem, Lula terá indicado sete dos nove membros do BC e, portanto, terá maioria no colegiado. Credibilidade é um ativo essencial para reduzir o custo da política monetária e não pode ser tratado como joguete político.
Ao fim e ao cabo, tudo o que o petista tem alcançado com a verborragia incontrolada sobre assuntos que parece ter pouco discernimento é manter os juros em patamares mais altos. O efeito colateral, no entanto, pode ser benéfico ao levar a uma união dos membros do BC e tranquilizar os agentes econômicos sobre a independência decisória da autoridade monetária, o que pode, no futuro, levar a juros mais baixos.
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