Caiu a máscara: nem o governo nem o PT estão interessados em combater fake news. Se estivessem, a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, não teria saído em defesa de uma usina de fake news, o militante petista Thiago Reis, dono do canal Plantão Brasil, bem no meio do escândalo sobre o tal “gabinete da ousadia”.
Segundo o Estadão, ele fatura US$ 110 mil por mês com visualizações. Produz conteúdos bastante criativos. Por exemplo, anunciou a morte de Bolsonaro, o flagra de Michelle beijando outro homem e noticiou que Pablo Marçal encomendou a morte de Lula. Mesmo assim, foi defendido por Gleisi Hoffmann no Twitter.
A maioria das pessoas vai focar no conteúdo dito e em como desmentir. É mais fácil, mais gostoso, mais apaixonante. Também é possível se iludir e achar que só os adversários fazem coisas do tipo. Seria mais inteligente focar no contexto: hoje, todas as forças políticas organizam suas tropas digitais. A questão crucial é: quais são os limites éticos, morais e legais que nós, cidadãos, exigiremos dessas tropas digitais?
Essas tropas digitais operam em múltiplas plataformas, não apenas nas redes sociais públicas, mas também em grupos privados de WhatsApp, Telegram e Facebook. São campanhas organizadas, não reflexões espontâneas. Todos os partidos fazem isso, e não apenas no Brasil.
No entanto, comparar o gabinete do ódio bolsonarista com o gabinete do amor petista, ou como é chamado, gabinete da ousadia, é um erro. Eles são diferentes em natureza, interferem na sociedade de maneiras distintas e têm consequências diferentes.
Um gabinete formado pelo PT tem uma configuração que parte do institucional para tentar ganhar o popular. Jornalistas e militantes alinhados ao PT são recrutados e treinados para agir em ambientes virtuais. Já no caso do bolsonarismo, o movimento é oposto: começa no popular e espontâneo, em gente que acredita na causa e depois essas pessoas são absorvidas pelos gabinetes.
As consequências para os alvos desses dois sistemas são distintas. Quem é alvo do sistema petista pode enfrentar problemas com emprego, ser vetado em mídias ou perder patrocínios. Já os alvos do sistema bolsonarista enfrentam ameaças mais diretas e pessoais, como perseguições, ameaças à família e tentativas de intimidação na vida cotidiana.
Como vivemos uma era de busca pela pureza e apoteose da superficialidade, existe a tentação de moralizar e apontar que só um lado faz uso dessas táticas. A realidade é que exércitos e batalhas digitais são uma realidade suprapartidária da política. A pergunta que fica é: quando o eleitorado brasileiro vai se dar conta disso e focar no que realmente importa, que é estabelecer critérios e limites éticos e morais para esse tipo de atuação?