Corrupção, para Lula, é no máximo um “erro” que pode ser apagado Corrupção, para Lula, é no máximo um “erro” que pode ser apagado
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Corrupção, para Lula, é no máximo um “erro” que pode ser apagado

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Felipe Moura Brasil
5 minutos de leitura 13.06.2024 14:30 comentários
Análise

Corrupção, para Lula, é no máximo um “erro” que pode ser apagado

Comentário do presidente sobre indiciamento de ministro mostra o legado da impunidade na linguagem

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Felipe Moura Brasil
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Corrupção, para Lula, é no máximo um “erro” que pode ser apagado
Foto: Ricardo Stuckert / PR

O comentário de Lula sobre o caso do ministro das Comunicações de seu governo, Juscelino Filho, indiciado pela Polícia Federal em razão dos milhões de reais de emenda parlamentar (ou seja, dinheiro do povo) torrados para pavimentar a estrada que dá na fazenda da família dele, ilustra a velha complacência do petista com esquemas não republicanos.

“Eu acho que o fato de o cara estar indiciado não significa que o cara cometeu um erro. Significa que alguém está acusando e a acusação foi aceita. Agora, eu preciso que as pessoas provem que são inocentes. E ele tem o direito de provar que é inocente. Eu não conversei com ele. Vou conversar hoje e vou tomar uma decisão sobre esse assunto”, declarou Lula nesta quinta-feira, 13, ao chegar a Genebra.

Juscelino não foi acusado pela PF de ter cometido “um erro”, mas, sim, um crime, ou melhor, três: corrupção passiva, fraude em licitações e organização criminosa.

Para Lula, porém, tudo seria, no máximo, “um erro”, que naturalmente pode ser apagado por manobras judiciais, como as que levaram à extinção dos processos contra o próprio petista, e/ou pela “briga” no debate público, como ele defendeu que José Dirceu fizesse.

Dirceu – o mensaleiro também condenado pelo petrolão – “não tem que andar escondido, tem que colocar a cara para fora e brigar”, disse Lula na TV, em fevereiro de 2023. “Você tem que brigar para construir uma outra narrativa na sociedade brasileira”, completou.

Enquanto o presidente conversa com o União Brasil sobre a narrativa a ser construída para Juscelino, a turma de Flávio Dino já constrói a narrativa conveniente para que o relator do caso no Supremo Tribunal Federal possa decidir o destino de seu ex-colega de Esplanada dos Ministérios no governo Lula.

“Antes de ser aprovado ao STF, Dino havia indicado a interlocutores que deveria se declarar suspeito no caso. Agora, interlocutores do ministro minimizam a relação entre os dois e afirmam que não há motivo para a suspeição”, registrou O Globo, como mostramos.

Nunca há motivo para suspeição quando os ministros são indicados ao Supremo justamente para blindar o presidente e seus aliados históricos. Já o desejo de aliviar aliados circunstanciais pode depender de outros acertos de bastidor na República do Escambo.

A Lula interessam os votos do Centrão de Arthur Lira no Congresso a favor de projetos do governo. Ao Centrão interessa uma canetada de Dino no STF para aliviar o camarada Juscelino. Não surpreende que Lula vá “conversar” antes de “tomar uma decisão sobre esse assunto”.

A história mostra que um indiciamento é mesmo capaz de mudar postura de ministro amigo.

Em fevereiro de 2016, Dias Toffoli declarou em entrevista ao portal mineiro “O Tempo” que era a favor da prisão após condenação em segunda instância, rejeitando a necessidade de espera dos recursos a tribunais superiores. Em agosto daquele ano, Lula foi indiciado pela PF no caso do triplex. Dois meses depois, em outubro, Toffoli votou contra a prisão em segunda instância. Na ocasião, porém, a medida foi aprovada, porque Gilmar Mendes votou a favor.

A Lava Jato ainda não havia atingido o tucano Aécio Neves, amigo de Gilmar, o que só ocorreu em maio de 2017, quando o ministro passou a anunciar que poderia mudar seu voto sobre a prisão em segunda instância, como apontei no então Twitter. Foi o que ele fez em 2019, quando o tema foi rediscutido em plenário, levando à derrubada da medida e à soltura de Lula. Aécio só seria indiciado pela PF em 2020, mas já era alvo de sucessivas operações em 2017, 2018 e 2019. Um relatório da corporação ainda havia mostrado 43 chamadas entre Gilmar e o então senador, uma delas no mesmo dia em que o ministro suspendeu um depoimento do tucano.

Os resultados da frente ampla pela impunidade, que em 2024 conclui a anulação oficial da Lava Jato, mas não o apagamento de suas revelações da memória de parte significativa do povo, deixaram Lula à vontade para manter no cargo um ministro patrimonialista, que trata o dinheiro público como se fosse privado, e para rebaixar a Administração Pública a um púlpito de defesa, como se “o direito de provar que é inocente” perante a Justiça tivesse de ser exercido na boquinha ministerial.

Se condenações, multas e delações dos envolvidos no esquema de corrupção da Petrobras foram anuladas, por que um indiciamento por corrupção em Vitorino Freire, no interior do Maranhão, cidade comandada pela irmã de Juscelino, não poderia ser?

Qualquer “suspeição” – como já aventada pelo ministro em sua sopa de lero-lero – serve para varrer a sujeira para baixo do tapete, mesmo que tenha cometido “um erro”.

O eufemismo no trato de ações criminosas ameniza sua gravidade e transmite o ar paternalista de quem protege mais o autor delas que suas vítimas ocultas: os milhões de brasileiros pagadores de impostos.

Mas a linguagem jornalística e jurídica brasileira já foi inteiramente corrompida para aliviar Lula.

Para ganhar tempo, ele utiliza esse legado.

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