Conheça o Chiquinho Brazão do passado: Talvane Albuquerque
Um povo que não conhece a própria história está condenado a repeti-la. É o que vivemos na decisão da Câmara sobre a prisão de Brazão
Um povo que não conhece a própria história está condenado a repeti-la. É precisamente o que vivemos na decisão da Câmara sobre a prisão de Chiquinho Brazão, acusado de ser o mandante do assassinato de Marielle Franco. A argumentação dos defensores dele é exatamente a mesma utilizada há 25 anos.
Você conhece o ex-deputado Talvane Albuquerque? Se não conhece, confira o vídeo do Narrativas Antagonista de hoje, com arquivos originais de 25 anos atrás. Hoje ele cumpre 103 anos de prisão pelo assassinato da deputada Ceci Cunha, mãe do senador Rodrigo Cunha, famoso pelos embates com figurões de Alagoas como Renan Calheiros e Fernando Collor.
O senador perdeu o pai e a mãe no mesmo dia quando tinha 17 anos. Ceci Cunha tinha sido diplomada deputada federal naquele dia. Dois bandidos fortemente armados entraram no apartamento e mataram todo mundo que estava lá. Morreram ela, o marido, o cunhado e a mãe do cunhado.
Talvane Albuquerque era o primeiro suplente. Mandou matar a deputada para assumir a vaga. Confessou que ajudava a família do matador. Surgiram gravações dele cogitando a morte de outro deputado, Augusto Farias, irmão de PC Farias. As gravações mostram como o assassino falava com naturalidade.
Não estava condenado ainda quando foi julgado pela Câmara. Ele próprio não se defendeu na tribuna durante a cassação. Seu advogado também não. Nenhum integrante do partido ou parlamentar do Estado o defendeu. Um único deputado o defendeu, Jair Bolsonaro.
A argumentação era com base em uma tecnicalidade. Não estava condenado ainda, portanto não poderia sofrer a penalidade. Seria um precedente para que fossem cometidas arbitrariedades contra outros deputados.
Ontem, 25 anos depois, o filho de Jair Bolsonaro fez a mesma argumentação para defender que a Câmara não mantivesse a prisão de Chiquinho Brazão. Alegava agora que abriria precedentes para casos como o de Daniel Silveira. Ocorre que em casos semelhantes, a conversa foi diferente.
Quase 10 anos atrás, quando o Senado confirmou a prisão do senador Delcídio Amaral, esse mesmo campo político perseguiu quem argumentou a mesma tecnicalidade para defender que ele fosse solto. E esse senador não cometeu nem crime de sangue nem crime comum, estava preso por corrupção.
Agora, quando o personagem é outro, Chiquinho Brazão, a tecnicalidade volta a ser caso de vida ou morte. Ou seja, não importa a lei, a regra nem a moral, importa quem é o personagem envolvido.
Não foram só os bolsonaristas que fizeram essa defesa. A política do Rio de Janeiro é, para dizer o mínimo, bastante complexa. A filha de Eduardo Cunha chegou a defender o parlamentar na Tribuna de forma emocional, dizendo que o conhece desde criança. O vice-presidente do PT, Washington Quaquá, faltou à votação e anteriormente havia defendido publicamente Chiquinho Brazão, e seu irmão Domingos, também preso, dizendo não acreditar que ele fosse o mandante do assassinato.
Muita gente boa, interessada por política, mas sem tempo de acompanhar as coisas tão de perto acabou acreditando. Parecia argumento novo. Não era. É só um argumento que se repete quando conveniente para os políticos, conscientes de que a vida é tão corrida que a maioria de nós ignora a própria história.
Diante da informação, há dois caminhos possíveis para quem acreditou no argumento.
O primeiro é reconhecer que não é novo e vale de acordo com a cara do freguês, não é um princípio defendido sempre. É possível entender que políticos são muito espertos e a população precisa estar sempre de olhos abertos.
O segundo é agir como seguidores de seitas do fim do mundo. O líder marca a data do fim do mundo, o mundo não acaba, mas as pessoas continuam na seita ainda mais dedicadas. Agora vão encontrar as justificativas para o fato de que a realidade não coincide com o que fala seu líder.
A vida é feita de escolhas.
Conheça o Chiquinho Brazão do passado: Talvane Albuquerque
Um povo que não conhece a própria história está condenado a repeti-la. É o que vivemos na decisão da Câmara sobre a prisão de Brazão
Um povo que não conhece a própria história está condenado a repeti-la. É precisamente o que vivemos na decisão da Câmara sobre a prisão de Chiquinho Brazão, acusado de ser o mandante do assassinato de Marielle Franco. A argumentação dos defensores dele é exatamente a mesma utilizada há 25 anos.
Você conhece o ex-deputado Talvane Albuquerque? Se não conhece, confira o vídeo do Narrativas Antagonista de hoje, com arquivos originais de 25 anos atrás. Hoje ele cumpre 103 anos de prisão pelo assassinato da deputada Ceci Cunha, mãe do senador Rodrigo Cunha, famoso pelos embates com figurões de Alagoas como Renan Calheiros e Fernando Collor.
O senador perdeu o pai e a mãe no mesmo dia quando tinha 17 anos. Ceci Cunha tinha sido diplomada deputada federal naquele dia. Dois bandidos fortemente armados entraram no apartamento e mataram todo mundo que estava lá. Morreram ela, o marido, o cunhado e a mãe do cunhado.
Talvane Albuquerque era o primeiro suplente. Mandou matar a deputada para assumir a vaga. Confessou que ajudava a família do matador. Surgiram gravações dele cogitando a morte de outro deputado, Augusto Farias, irmão de PC Farias. As gravações mostram como o assassino falava com naturalidade.
Não estava condenado ainda quando foi julgado pela Câmara. Ele próprio não se defendeu na tribuna durante a cassação. Seu advogado também não. Nenhum integrante do partido ou parlamentar do Estado o defendeu. Um único deputado o defendeu, Jair Bolsonaro.
A argumentação era com base em uma tecnicalidade. Não estava condenado ainda, portanto não poderia sofrer a penalidade. Seria um precedente para que fossem cometidas arbitrariedades contra outros deputados.
Ontem, 25 anos depois, o filho de Jair Bolsonaro fez a mesma argumentação para defender que a Câmara não mantivesse a prisão de Chiquinho Brazão. Alegava agora que abriria precedentes para casos como o de Daniel Silveira. Ocorre que em casos semelhantes, a conversa foi diferente.
Quase 10 anos atrás, quando o Senado confirmou a prisão do senador Delcídio Amaral, esse mesmo campo político perseguiu quem argumentou a mesma tecnicalidade para defender que ele fosse solto. E esse senador não cometeu nem crime de sangue nem crime comum, estava preso por corrupção.
Agora, quando o personagem é outro, Chiquinho Brazão, a tecnicalidade volta a ser caso de vida ou morte. Ou seja, não importa a lei, a regra nem a moral, importa quem é o personagem envolvido.
Não foram só os bolsonaristas que fizeram essa defesa. A política do Rio de Janeiro é, para dizer o mínimo, bastante complexa. A filha de Eduardo Cunha chegou a defender o parlamentar na Tribuna de forma emocional, dizendo que o conhece desde criança. O vice-presidente do PT, Washington Quaquá, faltou à votação e anteriormente havia defendido publicamente Chiquinho Brazão, e seu irmão Domingos, também preso, dizendo não acreditar que ele fosse o mandante do assassinato.
Muita gente boa, interessada por política, mas sem tempo de acompanhar as coisas tão de perto acabou acreditando. Parecia argumento novo. Não era. É só um argumento que se repete quando conveniente para os políticos, conscientes de que a vida é tão corrida que a maioria de nós ignora a própria história.
Diante da informação, há dois caminhos possíveis para quem acreditou no argumento.
O primeiro é reconhecer que não é novo e vale de acordo com a cara do freguês, não é um princípio defendido sempre. É possível entender que políticos são muito espertos e a população precisa estar sempre de olhos abertos.
O segundo é agir como seguidores de seitas do fim do mundo. O líder marca a data do fim do mundo, o mundo não acaba, mas as pessoas continuam na seita ainda mais dedicadas. Agora vão encontrar as justificativas para o fato de que a realidade não coincide com o que fala seu líder.
A vida é feita de escolhas.