Elon Musk, o absolutista dos próprios interesses Elon Musk, o absolutista dos próprios interesses
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Elon Musk, o absolutista dos próprios interesses

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Carlos Graieb
5 minutos de leitura 09.04.2024 18:01 comentários
Análise

Elon Musk, o absolutista dos próprios interesses

O efeito da entrada do bilionário no debate brasileiro é que agora estamos debatendo Musk e não a liberdade de expressão

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Carlos Graieb
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Elon Musk, o absolutista dos próprios interesses
Foto: reprodução

Escrevi nesta segunda-feira (8) que a entrada de Elon Musk no debate brasileiro sobre liberdade de expressão turvou as águas, em vez de trazer luz para o problema. 

Um dos leitores do artigo, Murilo Bran Jr., deixou anotada uma crítica: considerou minha abordagem “neutra” e disse que, num quadro em que a liberdade de expressão é regulada de maneira tendenciosa, um personagem com a projeção de Musk amplia o alcance da discussão. 

Tenho duas réplicas a fazer, porque as questões são relevantes. 

Crítica

Primeiro, análises jornalísticas que não endossam nenhum dos lados numa discussão pública não são neutras. Elas são puramente negativas. E a negatividade nunca é amena ou isentona. 

Abordagens desse tipo, que o leitor vai encontrar com frequência aqui no Antagonista,  pretendem transmitir esta mensagem: não se satisfaça com nenhum dos argumentos apresentados até agora, mantenha-se cético.

Não se trata de ficar em cima do muro e deixar para lá. Trata-se de resistir a entrar no quentinho das bolhas de opinião rápido demais. Isso é tudo o que desejam aqueles que se beneficiam da polarização política. E pode ter certeza que não será você o beneficiário.

Censura no X

A segunda réplica tem a ver com as credenciais de Elon Musk para debater liberdade política e liberdade de expressão.

Desde que comprou o Twitter, que rebatizou de X, Musk por diversas vezes mandou bloquear contas incômodas a ele. Também baniu contas de empresas competidoras na plataforma. 

Logo depois de assumir o Twitter, em outubro de 2022, ele suspendeu perfis de artistas que costumavam satirizá-lo.

Pouco mais tarde, em dezembro de 2022, sem prestar nenhum esclarecimento aos atingidos, o aplicativo suspendeu os perfis de oito jornalistas de veículos como The New York Times, The Washington Post, CNN, identificados com a esquerda nos Estados Unidos. Todos os jornalistas tinham um histórico de cobertura crítica ao bilionário. 

Só quando uma repórter do site Breitbart, associado à alt-right americana, demonstrou incômodo com a decisão e questionou Musk a respeito dela, o empresário alegou que as contas suspensas haviam feito postagens indicando a localização de seu avião particular, o que punha em risco sua segurança e, por isso, infringia as regras de uso do X. A alegação de que as postagens descumpriam as regras de uso ou representavam uma ameaça à segurança de Musk foi contestada pelos jornalistas. As contas foram liberadas depois de alguns dias. 

China e Índia

Em dezembro do ano passado, o desenvolvedor de softwar Travis Brown entrou com um processo contra o X, também para questionar o banimento de sua conta. Ele alega que a medida decorreu do fato de ele haver coletado dados da plataforma que embasaram reportagens sobre o crescimento de uma rede de perfis de direita no X. 

Minha questão não é se Musk é de direita ou de esquerda, vermelho ou azul. A questão é que não se pode atribuir esse comportamento a um “absolutista da liberdade de expressão”, que é como Musk gosta de se descrever. 

E onde estão as críticas do bilionário à China, onde o X não pode operar, mas a Tesla, sua companhia de automóveis, ganha bilhões? Onde estão as críticas ao governo indiano? 

Em abril de 2023, a Índia adotou uma regulamentação que permite ao Executivo ordenar a derrubada de qualquer site ou perfil de rede social que apresente “informação falsa ou enganosa a respeito de ações do governo central”.

É bem parecido com o que o PT gostaria de fazer por aqui, com um “ministério da verdade” (leia aqui reportagem da Crusoé).

As ordens de bloqueio são emitidas pelo Ministério da Tecnologia e os atingidos não são notificados previamente. Grandes sites de notícia indianos já foram calados dessa forma. 

Musk não tem nada a dizer sobre isso. Pelo contrário: afirma ser um “grande fã” do primeiro ministro Narendra Modi, um populista-nacionalista que costuma incitar hindus contra minorias políticas e religiosas da Índia. Em meados do ano passado, Musk e Modi se encontraram para acelerar a entrada da Tesla na Índia, com subsídios, investimentos e afagos de lado a lado. 

Absolutista dos próprios interesses

Repito: esse é o comportamento de um “absolutista da liberdade de expressão”?

O efeito da entrada de Musk no debate brasileiro é que agora estamos debatendo Musk e não o que interessa. E precisamos explicar mais uma vez que o sonho primário de Bolsonaro e companhia era manter-se no poder usando tanques de guerra, e não fazer do Brasil um farol da liberdade no universo. 

Não precisamos da intervenção de um absolutista dos próprios interesses para discutir as distorções que Alexandre de Moraes, STF e TSE vêm impondo ao conceito e à prática da liberdade de expressão. O Antagonista e Crusoé fazem isso há tempos.

*****

PS: Obrigado ao Murilo Bran e a todos que participam da conversa aqui no site.

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Carlos Graieb

Carlos Graieb é jornalista formado em Direito, editor sênior do portal O Antagonista e da revista Crusoé. Atuou em veículos como Estadão e Veja. Foi secretário de comunicação do Estado de São Paulo (2017-2018). Cursa a pós-graduação em Filosofia do Direito, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).

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