Denis Rosenfield: “A fala do presidente Lula é antissemita” Denis Rosenfield: “A fala do presidente Lula é antissemita”
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Denis Rosenfield: “A fala do presidente Lula é antissemita”

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Catarina Rochamonte
7 minutos de leitura 05.04.2024 09:45 comentários
Brasil

Denis Rosenfield: “A fala do presidente Lula é antissemita”

"Quando ele fala de números de mortos, eu fico impressionado. Ele é um porta-voz do Hamas? Só civis mortos? Como assim? Não morreu nenhum terrorista?" diz o filósofo em entrevista

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Denis Rosenfield: “A fala do presidente Lula é antissemita”
Foto: Nilani Goettems

Em entrevista, o filósofo Denis Lerrer Rosenfield reflete sobre o mal e suas manifestações na história e discute a política calcada na distinção entre amigo e inimigo.

Após um evento, na PUCRS, onde dissertou sobre a questão do mal, do pecado e das virtudes, Denis Lerrer Rosenfield, Professor aposentado da UFRG, doutor em Filosofia pela Universidade de Paris I, escritor e articulista político, concedeu uma entrevista a Crosoé na qual falou um pouco sobre o seu último livro “Jerusalém, Atenas e Aushwitz: pensar a existência do mal” e comentou temas da nossa política atual, como a guerra de Israel e Hamas (“O que o ataque do Hamas mostra é o ato puro da maldade”), a crise diplomática entre Brasil e Israel (“Eu não tenho dúvida nenhuma. A fala do presidente Lula é uma fala antissemita”) e a arenga ideológica entre os extremos populistas (“Não se pode entrar na política, como fizeram Bolsonaro e Lula considerando seus adversários como inimigos”). A seguir, alguns trechos da entrevista:

Após o ataque do Hamas de 7 de outubro de 2023, ao lado da onda de solidariedade, apoio às vítimas do ato terrorista e apoio a Israel, vimos surgir também uma nova onda de antissemitismo. Apoiada em alguns autores, eu tenho escrito análises na qual aponto que vivenciamos hoje um novo tipo de antissemitismo, não mais o antissemitismo clássico religioso, nem o antissemitismo nazista, mas um antissemitismo disfarçado de antissionismo, presente na retórica antiocidental da esquerda radical e identitária que, por sua vez, ecoa o antissemitismo islâmico. O senhor concorda que tenha havido esse deslocamento do antissemitismo e que hoje ele esteja mais presente no pensamento político da esquerda? O senhor considera o antissionismo uma forma de antissemitismo?

Vou apresentar um exemplo que me parece paradigmático. August Bebel – que era um social-democrata no início do século, antes da divisão entre social-democracia e comunistas – ele dizia que o antissemitismo era o socialismo dos imbecis. Em analogia com essa formulação do Bebel, eu diria que o antissionismo é o socialismo dos imbecis. Não se trata de não poder criticar o governo de Israel. Cada um critica o governo da forma que quiser – e os israelenses são os que mais criticam seu governo. Mas isso é diferente de criticar a existência do Estado de Israel.

Vamos pegar esse lema que tomou conta agora da esquerda ocidental: “from de river to the sea Palestina will be free”. Você sabe de onde vem esta formulação em termos práticos e teóricos? Vem do mufti de Jerusalém, antes da criação do Estado de Israel, nos anos 30 e nos anos 40, que dizia que os judeus deveriam ser expulsos para o mar, deveriam ser destruídos.

Ele, al-Husseini, durante a guerra, foi morar em Berlim, sob o patrocínio de Hitler e de Himmler. Ele recebia uma mensalidade dos nazistas. Ele visitou Eichmann em Aushwitz e também participou de massacres de judeus.

A partilha da ONU é de 1947. Quando Israel foi criado, em 1948, os judeus aceitaram a partilha; mas os árabes não aceitaram. Palestina era o nome dado a uma região do Mandato Britânico, como antes tinha sido uma região pertencente ao sultanato da Turquia.

Você sabia que quando se decide pela criação do Estado, em 1948, Israel não tinha um avião de guerra, não tinha um tanque? E o que os países árabes fizeram? Foram lá e atacaram para destruir o estado de Israel: “from de river to the sea Palestina will be free”. Era essa a política deles. Aí agora estão dizendo que Israel criou o problema dos refugiados. Não.

Eles quiseram eliminar os judeus da Palestina. Os árabes que ficaram fazem parte de 20% da população, são cidadãos como os outros e os que saíram – alguns foram expulsos – saíram com a promessa de que eles iriam voltar, que Israel seria destruído. Então daí remonta essa questão.

Deixa eu te mostrar um outro exemplo histórico. A Jordânia e o Egito tinham os territórios hoje que se chama de Cisjordânia, de 1948 a 1967. Por que não criaram um Estado palestino? A terra estava lá. Então não é um problema de território, é um problema de destruição. O Hamas cria suas crianças para o extermínio de judeus, a autoridade palestina é conivente com isso, então eles estão voltados contra o Estado de Israel. Contra o Estado de Israel significa contra os judeus, significa eliminá-los do Oriente Médio e, portanto, nesse sentido, o antissionismo é sim antissemitismo.

Eu gostaria apenas de distinguir isso da seguinte questão: ser a favor ou contra o governo Netanyahu. Eu não sou simpático ao governo Netanyahu. Daí não decorre que Israel tenha que ser destruído e que o Hamas deva ser apoiado.

Hitler

Recentemente o presidente Lula provocou uma grave crise diplomática entre o Brasil e Israel ao comparar a resposta de Israel na guerra contra o Hamas com “o que Hitler fez com os judeus.” O senhor considera que a fala do presidente foi antissemita? A que atribui esse tipo de postura?

Eu não tenho dúvida nenhuma. A fala do presidente Lula é uma fala antissemita. Você vê que ele adora falar contra Israel. Mas ele fala dos reféns? Ele critica o Hamas? De vez em quando solta uma frasezinha ou outra, mas quantos dias ele levou para dizer que o que houve em 7 de outubro foi um ataque terrorista do Hamas? Ele não queria usar nem a palavra Hamas. A moção que eles apresentaram no Conselho de Segurança da ONU não fala de reféns e não fala de massacre do Hamas e agora querem posar de equitativo, que querem a neutralidade?! Isso é uma brincadeira de mau gosto.

A ação do presidente Lula é de conivência com eles. Quando ele fala de números de mortos, eu fico impressionado. Ele é um porta-voz do Hamas? Só civis mortos? Como assim? Não morreu nenhum terrorista? Evaporaram? A contabilidade lulista apaga as baixas do Hamas.

Israel calcula pelo menos 14 mil mortos do Hamas. Israel está lutando em uma guerra. Não existe guerra humanitária. Guerra é guerra. E Israel está lutando sob condições completamente novas, historicamente falando.

Em que sentido essas condições são novas?

Eu gostaria de enfatizar isso porque não está sendo enfatizado pela imprensa da forma como deveria. Israel está fazendo uma guerra urbana subterrânea. E o Hamas utiliza os civis como escudos humanos. Ele deixa os civis acima da terra, desprotegidos, e se escondem nos túneis. Por que eles não levam os civis para os túneis? Por que não protegem a sua população? Porque eles querem criar essa narrativa midiática de que Israel está atacando civis inocentes.

Israel matou civis inocentes? Certamente. São os efeitos colaterais da guerra. É lamentável? É altamente lamentável. Nós gostaríamos que isso não existisse. Mas o que estão pedindo para Israel é um despropósito. Que Israel não faça a operação de Rafah. Isso seria mais ou menos como se as tropas aliadas cercassem a Alemanha e não entrassem, dizendo: não vamos matar alemães, vamos deixar Hitler vivo e seu grupo intacto. Foi isso que aconteceu? Não. Eles entraram. Mataram 2 milhões de alemães. Himmler quis entrar em uma negociação. Disseram não. Não há negociação. Queremos a rendição.

O Hamas não quer um corredor humanitário. Ele quer ganhar a narrativa midiática, da qual o Lula e seu grupo, infelizmente, estão a serviço. Eles estão fazendo o papel de instrumento do Hamas.

A carta de fundação do Hamas tem um caráter genocida, anuncia a intenção de destruir os judeus. E a Autoridade Palestina? É um interlocutor legítimo?

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