JK Rowling contra a tirania dos ideólogos do gênero
É um interessante paradoxo que a mente criativa que fez fama e sucesso com bruxinhos, feitiços, trouxas e quadribol seja agora criminalizada no mundo real por não aderir às narrativas irreais que tentam se impor como verdades
JK Rowling, escritora britânica, autora da saga Harry Potter, foi denunciada à polícia por India Willoughby, primeira jornalista trans de TV no Reino Unido. O crime cometido pela escritora? Usar um pronome de modo inadequado a um mundo criado não pela imaginação literária de Rowling, mas pela mente ideológica e intolerante de grupos que se arvoram portadores do poder mágico de modificar a natureza e que exigem agora que a própria linguagem seja modificada para fazer referência à sua bizarra fantasia.
É um interessante paradoxo que a mente criativa que fez fama e sucesso com bruxinhos, feitiços, trouxas e quadribol seja agora criminalizada no mundo real por não aderir às narrativas irreais que tentam se impor como verdades.
Há anos a escritora britânica tem confrontado o fantástico mundo dos ideólogos de gênero, mas o imbróglio recente começou quando Rowling fez uma postagem sobre os problemas envolvidos na permissão de que homens biológicos sejam permitidos em espaços exclusivos para mulheres, como os vestiários e banheiros.
Vestiário masculino
Na área de comentário da postagem, uma usuária do X compartilhou um vídeo da apresentadora trans India Willoughby dançando e perguntou a Rowling se “esta senhora deveria usar o vestiário masculino”. Rowling então respondeu: “Você me enviou o vídeo errado. Não há uma senhora neste vídeo, apenas um homem deleitando-se com sua performance misógina do que ele pensa que mulher significa: narcisista, superficial e exibicionista”.
A usuária do X replica perguntando como India Willoughby poderia ser misógina se ela se tornou uma mulher. Rowling responde novamente : “A India não se tornou uma mulher. Ela está fazendo cosplay de uma fantasia masculina misógina sobre o que é uma mulher.”
A resposta curta e grossa de Rowling levanta um ponto importante: “o ativismo trans muitas vezes aparece como uma paródia repulsiva da feminilidade.”
É o que destaca Brendan O’Neill no artigo JK Rowling and the tyranny of preferred pronouns. Segundo ele, Willoughby disse que escolheu sua “vagina de grife” em um catálogo de 10 mil e que isso era como “escolher um penteado”, ou seja, o ideólogo trans reduz a feminilidade “a um produto de consumo, uma coisa que pode ser comprada e vestida como um trapo velho, um produto de designer, como uma bolsa ou um sapato – sim, eu chamaria isso de misógino, narcisista e superficial.”
“Sou tão mulher quanto JK Rowling“
A usuária do X que confrontou Rowling com um clipe de Willoughby dançando exige que a escritora reconheça a feminilidade pasteurizada, caricata, vulgarizada e artificial da apresentadora como uma feminilidade autêntica.
Willoughby, por sua vez, vai à polícia porque acredita que a lei humana que contraria a lei natural deve também punir quem não aceita fazer tábula rasa da natureza: “Sou tão mulher quanto JK Rowling. Reconhecida pela lei”, desvaira India Willoughby, classificando o comentário de Rowling como “transfobia grosseira”.
Em uma entrevista em vídeo para a Byline TV, publicada no X na quarta-feira, 6 de março, Willoughby declarou que estava tomando medidas legais contra Rowling, tendo-a denunciado à polícia em Northumbria, Inglaterra: “JK Rowling definitivamente cometeu um crime”, disse Willoughby no vídeo. “Sou legalmente uma mulher, ela sabe que sou uma mulher e me chama de homem. É uma característica protegida e isso é uma violação tanto da Lei de Igualdade quanto da Lei de Reconhecimento de Gênero.”
“A identidade transgênero é uma característica protegida, assim como a raça e a sexualidade”, acrescentou Willoughby. “E o equivalente ao que JK Rowling disse, chamar uma pessoa trans de homem, deliberadamente, sabendo que essa pessoa é uma mulher – e eu sou uma mulher, independentemente do que JK Rowling diga. Minha certidão de nascimento diz feminino, meu passaporte, todos os meus documentos. Sou legalmente reconhecida como mulher”.
O rei está nu
JK Rowling, por sua vez, fez uma nova postagem no X, em 7 de março, que é uma espécie de manifesto. Reproduzo a seguir. Diz ela:
A palavra “transfóbico”, conforme usada aqui, não significa um medo irracional ou antipatia pelas pessoas trans. Significa recusar usar o jargão da ideologia da identidade de gênero, recusar papaguear os seus slogans, recusar aceitar que o sexo não importa quando se trata de desporto e de espaços do mesmo sexo, se recusar a acreditar que um homem abusivo e misógino é uma mulher porque gosta de usar minivestidos e fazer beicinho em selfies.
[…] Acredito que todos deveriam ser livres para se expressar como quiserem, vestir-se como quiserem, chamar-se como quiserem, dormir com qualquer adulto consentido que deseje dormir com eles e acredito que pessoas trans-identificadas devem ter as mesmas proteções em relação ao emprego, à habitação, à liberdade de expressão e à segurança pessoal a que todos os outros cidadãos têm direito.
Mas isto não é suficiente para a vertente dominante do ativismo trans segundo a qual as pessoas trans são mais oprimidas e correm mais riscos do que qualquer outra pessoa ou outro grupo da sociedade a menos que a liberdade de expressão seja removida dos dissidentes, a menos que os homens trans-identificados sejam autorizados a retirar os direitos das mulheres – com particular referência a espaços do mesmo sexo, como celas de prisão, enfermarias de hospitais, vestiários e casas de banho públicas – até que todos nos curvemos à sua neo-religião, aceitemos as suas reivindicações pseudocientíficas e adotemos o seu raciocínio circular.
Isso não faz sentido. 99,9% do mundo sabe que isso é um absurdo. O rei está nu. Ele pode estar usando batom, mas suas bolas estão balançando à vista de todos.”
A criminalização da verdade e a tirania woke
Em postagem anterior, JK Rowling lembrou ainda que as opiniões críticas de gênero podem ser protegidas pela lei como uma crença filosófica e fundamentou nisso sua convicção de que “nenhuma lei obriga ninguém a fingir acreditar que India é uma mulher” e acrescentou:“Consciente como estou de que é um crime mentir para as autoridades, simplesmente terei que explicar à polícia que, na minha opinião, India é um exemplo clássico do narcisista masculino que vive em um estado de raiva perpétua por não poder obrigar as mulheres a aceitá-lo segundo seu próprio valor.“
O que está em questão nessa polêmica, portanto, é nada menos do que a possibilidade de criminalização da verdade, conforme escreveu Brendan O’Neill: “Se o ´erro de gênero´ for criminalizado, então a própria verdade será criminalizada. O nosso direito de descrever o que está diante dos nossos olhos – o direito mais fundamental numa sociedade livre – evaporar-se-ia”.
Segundo O´Neil “é uma prova do autoritarismo turbulento dos nossos tempos que, praticamente da noite para o dia, tenha sido considerado uma ofensa condenável expressar uma verdade que a humanidade conhece há dezenas de milhares de anos: que existem homens e mulheres e que não são iguais.” O chefe da editoria política da revista Spiked acrescenta ainda:
“O policiamento de pronomes, a punição ruidosa do chamado “erro de gênero”, não tem como objetivo a criação de uma sociedade mais justa e agradável. Trata-se de repreender a dissidência. Trata-se de envergonhar aqueles – especialmente as mulheres – que falham ou se recusam terminantemente a se ajoelharem perante a nova ideologia da identidade de gênero. É uma instrução, um aviso do alto: ‘Abracem a nossa ideologia e falem a nossa língua ou iremos destruí-los.’ A guerra contra o “erro de gênero”, que é uma guerra contra a verdade, é a mais tirânica manifestação woke.”
A religião de gênero
A perseguição ideológica e as incessantes campanhas de cancelamento contra uma autora renomada como JK Rowling mostra o quão ousados e intolerantes são os sacerdotes e os prosélitos da religião do gênero.
Eu mesma, que não sou lá muita coisa e não estou querendo me comparar, já sofri campanha de difamação dentro desse mesmo contexto. Em 2021, fui chamada de transfóbica nas redes sociais por colegas do próprio jornal do qual era colunista e por mais outros tantos influencers. O meu sacrilégio à época foi escrever, em um artigo, o termo “homem biológico” para me referir a indivíduo do sexo masculino que atua em esporte feminino e tecer críticas apontando a injustiça da situação.
É covardia nos curvamos a essa turba dogmática. É um alento saber que o talento literário de JK Rowling, que nos legou a saga do querido bruxo de Hogwarts, está sendo usado agora para combater a intolerância e confrontar a histeria coletiva desse novos inquisidores.
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