Retorno do matemágico: o novo truque de Haddad
Ministro da Fazenda sabe que o contingenciamento vai ter que aumentar, mas fará aparecer dinheiro que sabe que não existe
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, saiu de mais uma reunião com parlamentares para tentar “explicar” — palavra que costuma usar como sinônimo de convencer — a deputados a necessidade das medidas de reoneração com um compromisso: não fazer nada ainda, mas parecer que está fazendo.
O encontro, realizado na terça-feira, 5, na casa do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), era a enésima tentativa do ministro de acabar com o Perse (Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos) e com o desconto na contribuição previdenciária de servidores de municípios de até 142 mil habitantes, como está na MP (Medida Provisória) em tramitação no Congresso Nacional.
Após a conversa, Haddad admitiu que não será possível aprovar o texto como está, mas combinou que deve deixar tudo com aparência de realidade para garantir um contingenciamento menor – interesse comum entre governo e parlamentares.
Complicado?
Parece complicado, mas não é. O truque consiste em manter a reoneração dessas matérias para que elas sejam contabilizadas no relatório bimestral de avaliação do Orçamento. Assim, o ganho de receita com a reoneração (que, já se sabe, não acontecerá na magnitude que está na MP sobre o assunto) conta para reduzir o contingenciamento.
O relatório de avaliação das contas do governo está marcado para ser divulgado até 22 de março. Antes disso, portanto, é improvável que a Fazenda encaminhe os Projetos de Lei que vão alterar o Perse e a contribuição previdenciária das pequenas prefeituras.
Em que pese, a promessa de o relatório sobre as contas públicas ser tão crível quanto um dos livros da saga de Harry Potter, a “beleza” do truque é consistente com as melhores práticas do ilusionismo: todos sabem que aquilo (neste caso, a receita) não existe, mas deixam se levar pela mágica.
Perse
Pelas contas da equipe econômica, o Perse custaria cerca de 13 bilhões reais no ano em renúncia fiscal. Portanto, na primeira avaliação, o governo pode contar esse volume como receita a receber para garantir um contingenciamento menor.
E assim o ex-violeiro Haddad, retorna, em ato magistral, ao ofício de matemágico oficial da República.
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