Crusoé: Milei discursa em abertura do Congresso na Argentina
Ao longo do discurso, Milei propôs um "pacote anticasta", com medidas que incluem uma Lei de Ficha Limpa inspirada no cenário brasileiro
O presidente da Argentina, Javier Milei (foto), abriu o ano legislativo nesta sexta-feira, 1º de março, com um discurso na Câmara dos Deputados da Nação.
As diferentes passagens da fala, que durou cerca de uma hora, podem ser divididas em três tipos: tecnicismos, alfinetadas e propostas.
Notavelmente, Milei usou dados mesmo adversos para justificar suas políticas; atacou diretamente a adversários políticos, nomeando a ex-presidente Cristina Kirchner e outros líderes peronistas; e propôs a edição de uma quasi-Constituição para maio.
O que Milei falou sobre a economia em seu discurso?
Economista de formação, Milei listou uma série de dados econômicos para justificar as medidas implementadas por seu governo para liberalizar a economia.
O presidente, que ainda citou Milton Friedman, mencionou desde inflação a gastos públicos, passando pelas reservas internacionais do Banco Central e a dívida pública.
Como defendeu Milei durante a campanha eleitoral e sempre relembra o ministro da Economia, Luis Caputo, em suas declarações públicas, o principal problema é o déficit fiscal, quer dizer, o fato de o governo gastar mais do que arrecada.
“É a mãe de todas as batalhas”, disse o presidente, cujo governo conseguiu, em janeiro, alcançar o primeiro superávit mensal da Argentina em mais de uma década.
Com pertinência na retórica, Milei se apropriou de um dado antes usado para criticá-lo — o salto na pobreza a 57% entre dezembro e janeiro — e o contextualizou para responsabilizar os governos peronistas que o antecederam.
“Talvez o indicador mais nítido da herança que recebemos seja os cerca de 60% dos argentinos que estão abaixo da pobreza”, disse.
Ele também chegou a afirmar que recebeu “a pior herança que qualquer governo argentino” e descreveu os últimos 20 anos como um “orgia de gastos públicos”.
Quem Milei atacou em seu discurso?
Ao falar sobre os índices de pobreza, Milei deu sua primeira alfinetada aos congressistas e governadores que estavam presentes no plenário.
O presidente afirmou que, enquanto cerca de 60% da população é pobre, “a maioria dos políticos, como muitos de vocês, são ricos”.
Os principais alvos de Milei foram políticos e sindicalistas peronistas, e, em menor escala, congressistas, governadores e a imprensa.
O presidente chegou a citar sua antecessora Cristina Kirchner como “responsável por um dos piores governos da história”.
Além dessa menção direta, ele descreveu o seu ex-adversário nas eleições de 2023 e último ministro da Economia, Sergio Massa, como um “piloto do fracasso”.
Ele também usou a expressão para alfinetar, também nomeando explicitamente, os sindicalistas Juan Grabois e Pablo Moyano, este último sendo o líder do maior sindicato da Argentina, a Confederação Geral do Trabalho (CGT).
O sindicalismo, em geral, foi alvo de críticas de Milei em diversas partes do discurso.
“Boa parte desta assistência [do Estado] funciona como motivo de guerra para organizações de esquerda que roubam o dinheiro daqueles que afirmam defender e atacam aqueles que o produzem”, disse o presidente sobre os auxílios ligados aos setores trabalhistas.
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Como Milei mencionou, no discurso, seu fracasso legislativo?
Sobre os congressistas, Milei relembrou a derrota legislativa do seu pacotão de reformas ómnibus, derrubado naquele mesmo plenário, na Câmara, no início de fevereiro.
O presidente voltou a usar a palavra “traição” para descrever os deputados da sua base e da oposição dialoguista que votaram contra o projeto de lei ómnibus.
Ele afirmou que esses deputados “resistem à mudança” e teriam “traído seus mandatos enquanto nada se via”.
“Não negociamos mudanças…
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