Leonardo Barreto na Crusoé: A hora da raposa
Ao confrontar o Congresso e perceber que não conseguiu se impor pelo rugido, Lula decidiu transmutar-se e buscar adaptar-se ao contexto adverso
O senador Renan Calheiros (MDB-AL) foi o principal articulador da CPI das Braskem. Seu objetivo era utilizar as investigações para questionar acordos feitos pelo atual prefeito, JHC (PL), com a empresa em torno dos afundamentos de bairros localizados no entorno de minas de sal-gema. JHC também é aliado no estado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), inimigo declarado de Calheiros.
No ato da instalação do colegiado, no entanto, Renan não foi escolhido relator. O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), preferiu nomear o sergipano Rogério Carvalho (PT). Em resposta, Renan se retirou afirmando que não “emprestaria seu nome para simulacros investigatórios” e que seu rebaixamento teria sido promovido por “mãos ocultas, mas visíveis”. Estava se referindo a uma ação do governo articulada para proteger JHC e, por tabela, Arthur Lira, de possíveis constrangimentos provocados pela investigação.
Há muitos interesses envolvidos na CPI que, no fundo, o governo nunca desejou. O caso é acompanhado de perto pela Justiça, pelo Ministério Público e por órgãos de controle do mercado e está claro para todos as razões de Calheiros para criar barulho no Congresso que pudesse ajudar a prejudicar a campanha pela reeleição de JHC. O detalhe que faz toda a diferença, no entanto, é que Lula autorizou sacrificar a articulação de um antigo aliado, Calheiros, para satisfazer um novo aliado, Lira.
Faz sentido não deixar brigas locais ameaçarem o equilíbrio nacional. Mas, olhando em retrospectiva, o episódio mostra uma mudança forte de orientação do governo em relação a Arthur Lira. Em outra oportunidade, Lula gostaria de ver Lira enfraquecido, mas não agora. O governo deixou o papel de leão para vestir a fantasia da raposa ou, em outras palavras, abandonou o enfrentamento e partiu para a sedução.
Embora tenha aprovado seus principais temas no ano passado, o Planalto teve que pagar um preço muito alto de articulação: a maioria das proposições apresentadas pela Fazenda foram desidratadas e o Congresso passou muitos de seus interesses à revelia do governo, como foi o caso da desoneração de setores econômicos e a criação de um cronograma impositivo para executar as emendas.
Leia mais aqui; assine Crusoé e apoie o jornalismo independente.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)