Jerônimo Teixeira na Crusoé: Putin, o novo tirano de Siracusa
Em seu esforço para minar a democracia liberal, o autocrata russo conquista “passadores de pano” das mais variadas afiliações políticas
Em A Mente Imprudente, obra publicada em 2001, Mark Lilla fala da “sedução de Siracusa” – a atração que, desde tempos remotos, as tiranias exercem sobre os intelectuais. Em Siracusa, no século 4 a.C., o sedutor era Dionísio, o Jovem, que sucedeu seu pai como déspota da cidade siciliana, e o seduzido era ninguém menos que Platão, que juntou-se à corte do tirano, ao que parece na esperança de convertê-lo em uma espécie de “rei filósofo” – sem sucesso: Platão acabou se desiludindo com a arrogância de Dionísio.
“Dionísio é nosso contemporâneo”, afirma Lilla. O cientista político americano diz que o tirano siciliano “teve muitos nomes” ao longo do século 20 – nomes que ele lista em pares reunidos por afinidade: “Lenin e Stalin, Hitler e Mussolini, Mao e Ho Chi Minh, Castro e Trujillo, Amin e Bokassa, Saddam e Khomeini, Ceaușescu e Milošević”. Prossegue Lilla:
“Os peregrinos às novas Siracusas que estavam sendo construídas em Moscou, Berlim, Hanói e Havana foram em número surpreendente. Eles eram os voyeurs políticos que faziam turnês cuidadosamente coreografadas pelos domínios do tirano com passagens de volta na mão, admirando as fazendas coletivas, as fábricas de tratores, as plantações de cana-de-açúcar, as escolas, mas dando um jeito de nunca visitar as prisões.”
Stalin morreu em março de 1953 e a União Soviética desfez-se em dezembro de 1991. Moscou, no entanto, voltou a ser Siracusa. Na falta de um filósofo, Vladimir Putin, o Dionísio da hora, contentou-se com um mero jornalista, e dos mais chinfrins: Tucker Carlson.
Ex-estrela da Fox News agora à frente de seu próprio site, o Tucker Carlson Network, o intrépido repórter foi a Moscou em fevereiro para entrevistar esse que deve ser o presidente mais popular do mundo – tão popular que até já foi reeleito no pleito que só acontecerá daqui a duas semanas.
Leia mais aqui; assine Crusoé e apoie o jornalismo independente.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)