Os reféns voluntários da polarização   Os reféns voluntários da polarização  
O Antagonista

Os reféns voluntários da polarização  

avatar
Carlos Graieb
4 minutos de leitura 26.02.2024 15:31 comentários
Análise

Os reféns voluntários da polarização  

Políticos cedem facilmente demais ao poder de atração dos dois populistas que dominam o cenário brasileiro

avatar
Carlos Graieb
4 minutos de leitura 26.02.2024 15:31 comentários 0
Os reféns voluntários da polarização  
Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Jair Bolsonaro encheu a Avenida Paulista neste domingo. A Polícia Militar fala em 600 mil pessoas, muita gente. Não se pode negar ao ex-presidente esse feito político.  

Mas, mesmo que todos os bolsonaristas do país tivessem se reunido, lotando a rua de ponta a ponta e do chão até o topo dos prédios, ainda seriam 25% dos eleitores. Ou coisa que o valha. 

O mesmo se aplica ao petismo: algo entre 25% e 30% do eleitorado. 

Juntos, os dois grupos não representam mais do que a metade daqueles que votam e que em 2026 deverão escolher um novo chefe do Executivo.  

O Partido da Vida

Os brasileiros deveriam ter em mente essas porcentagens.

Em particular, aqueles filiados ao “Partido da Vida”: os que não cultuam um líder como se ele fosse maior do que tudo; que não rezam por uma cartilha ideológica; que esperam que a política resolva problemas reais em vez de ser apenas um palco para as vaidades e a cobiça de quem luta por espaço em Brasília.  

Infelizmente, a virtude do “Partido da Vida” é também o seu ponto fraco: ele não faz da política a sua prioridade máxima.  

Seus membros não se engajam em campanhas de longo prazo em favor de um Lula ou de um Bolsonaro. Por isso, acabam tendo de escolher, às vésperas das eleições, entre alternativas como Lula e Bolsonaro. E escolhem por exclusão: quem lhes revira menos o estômago.  

Esse é um problema vital para qualquer grupo político que pretenda ser uma alternativa aos dois populismos que se enraizaram no Brasil.  

Capitulação precoce

A solução que tem sido dada a ele é a pior possível: capitulação precoce aos dois polos extremos, muito antes do que seria necessário pelo timing do próprio jogo político. 

Vimos isso acontecer ontem na Paulista. Em vez de aproveitar oportunidades como a da manifestação gigante para exaltar, mesmo que sutilmente, as características que faltam ao bolsonarismo hard core, como moderação, pragmatismo e racionalidade econômica, políticos que exibem essas características simplesmente interpretaram a pior versão de si mesmos.  

Estou falando de gente como os governadores Tarcísio de Freitas e Romeu Zema (esse último, ao lado de outros políticos do Partido Novo). 

Felipe Moura Brasil escreveu sobre a maneira como o Novo parasita o bolsonarismo, precisando, para isso, fingir que Jair Bolsonaro não sabotou o combate à corrupção nem se refestelou no fisiologismo quando estava no poder.  

Tarcísio de Freitas

Tarcísio de Freitas fez o discurso mais lastimável que poderia fazer, dizendo que Bolsonaro “deixou de ser um CPF para representar um movimento”. A frase é parente daquela dita por Lula pouco antes de ser levado à prisão em 2018: “Eu não sou um ser humano, sou uma ideia.” Há um outro antecedente na América do Sul: o venezuelano Hugo Chávez também disse ter se transformado em uma “ideia” pouco antes de morrer.  

Tudo isso é culto à personalidade, populismo da pior estirpe. Tarcísio não deveria ter descido tão baixo, mesmo diante da necessidade de reverenciar o personagem que, de fato, o inventou politicamente.  

O próprio discurso de Bolsonaro ofereceu um mote que Freitas poderia ter aproveitado. A palavra “pacificação”, que o ex-presidente usou de maneira insincera e inteiramente guiado pelo medo da cadeia, teria soado de outra maneira e com outra potência saindo da boca do governador paulista. 

Valorizar o passe

Nem o lulismo, nem o bolsonarismo, têm condições de ganhar eleições sem cativar uma fatia expressiva dos brasileiros que não se alinham automaticamente aos dois movimentos. Mas os políticos que poderiam representar esse eleitorado entregam seu apoio barato demais aos populistas. Por falta de imaginação, por covardia ou preguiça, nem mesmo se esforçam para incorporar suas ideias ao discurso deles: entregam-se como reféns voluntários.  

Entendo o imperativo da sobrevivência política. Nas atuais circunstâncias, a rejeição pura e simples às forças organizadas à esquerda e à direita pode equivaler ao suicídio para quem pretende disputar votos nas urnas. Mas uma política melhor jamais vai ganhar corpo se renunciar aos seus próprios valores e a uma plataforma própria antes mesmo de o jogo começar.  

Brasil

Concurso em Lagoa Grande: 172 vagas com salários até R$ 10.580

14.05.2024 10:37 2 minutos de leitura
Visualizar

Indicados de Lula ao BC querem mesmo segurar a inflação?

Rodrigo Oliveira Visualizar

Calendário de restituição do Imposto de Renda 2024: saiba quando receber

Visualizar

Reino Unido alerta: China é principal ameaça cibernética

Visualizar

Investigado pelo 8/1, coronel Naime recebe liberdade provisória

Visualizar

Hamas dispara mísseis contra Israel no Dia da Independência

Felipe Moura Brasil Visualizar

Tags relacionadas

bolsonarismo Jair Bolsonaro Lula lulismo manifestação bolsonarista Partido Novo Romeu Zema Tarcísio de Freitas terceira via
< Notícia Anterior

CEO do Fortaleza revela mais de 1.200 lesões no atentado contra ônibus do time!

26.02.2024 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

Deputado quer proibir a instalação de sessões eleitorais em sedes de sindicatos

26.02.2024 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Carlos Graieb

Carlos Graieb é jornalista formado em Direito, editor sênior do portal O Antagonista e da revista Crusoé. Atuou em veículos como Estadão e Veja. Foi secretário de comunicação do Estado de São Paulo (2017-2018). Cursa a pós-graduação em Filosofia do Direito, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

Indicados de Lula ao BC querem mesmo segurar a inflação?

Indicados de Lula ao BC querem mesmo segurar a inflação?

Rodrigo Oliveira
14.05.2024 10:31 4 minutos de leitura
Visualizar notícia
O inimigo do governo Lula é o governo Lula – parte II

O inimigo do governo Lula é o governo Lula – parte II

Wilson Lima
14.05.2024 06:58 3 minutos de leitura
Visualizar notícia
A liberdade de expressão na enxurrada

A liberdade de expressão na enxurrada

Carlos Graieb
11.05.2024 15:07 5 minutos de leitura
Visualizar notícia
Lula, o insensível

Lula, o insensível

Wilson Lima
10.05.2024 12:20 3 minutos de leitura
Visualizar notícia

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.