Crusoé: Governador da Patagônia dá ultimato e inicia nova crise para Milei
Essa é uma história de petróleo e de corporativismo dos governadores argentinos, e expõe crise de governabilidade de Milei
Escondida na Patagônia, a província de Chubut é a sétima menor da Argentina, com 600.000 habitantes. Apesar das aparências, o governador, Ignacio Torres (foto), lançou um ultimato a Javier Milei e conseguiu atingir o governo nacional.
Essa é uma história de petróleo e de corporativismo dos governadores argentinos.
Em carta publicada em seu perfil no X nesta sexta-feira, 23 de fevereiro, Torres acusou o governo Milei de “reter ilegalmente” 13,5 bilhões de pesos de repasses a Chubut referentes ao mês de fevereiro.
O montante é superior a 33% do montante mensal da província.
O que ameaçou o governador de Chubut?
A carta divulgada por Torres afirma que “se o Ministério da Economia não entregar a Chubut os seus recursos, então Chubut não entregará o seu petróleo e seu gás”.
A província é a segunda maior produtora de petróleo do país.
Segundo os dados mais recentes do Ministério da Economia, referentes ao terceiro trimestre de 2023, Chubut respondeu por 21,5% da produção nacional.
O setor petroquímico é o terceiro mais importante das exportações argentinas.
Atrás apenas da soja e do setor automotivo, o petroquímico representou 12% das exportações do primeiro semestre de 2023, equivalente a 4 bilhões de dólares.
Não há uma data limite na carta desta sexta, mas Torres declarou à imprensa que o ultimato é para esta quarta-feira, 28 de fevereiro.
O que alega a Casa Rosada?
Em comunicado oficial, o governo Milei afirmou que a retenção dos repasses se deu no contexto de uma dívida contraída pela gestão anterior de Chubut com o governo de Alberto Fernández.
Ela se refere ao Fundo Fiduciário para Desenvolvimento Provincial — os fundos fiduciários são análogos às emendas parlamentares, no Brasil; o governo nacional repassa verba a uma entidade para administrá-lo em nome do Estado.
Milei, que está partindo em viagem aos Estados Unidos para participar de um fórum de políticos conservadores, compartilhou o comunicado oficial e acrescentou: “Desmascarando a mentira dos fiscais degenerados”.
Províncias Unidas do Sul
A carta divulgada por Torres estava assinada em nome das “Províncias Unidas do Sul”, em um ato que rememora às guerras civis do século 19 — os embates entre federalistas e unitários naquela época ruminam em divergências sobre o pacto federativo argentino desde então.
“As províncias são pré-existentes à Nação e merecem respeito”, diz a carta de Torres em sua primeira frase.
O documento desta sexta contava também com as assinaturas dos governadores das outras províncias da Patagônia.
Trata-se dos governadores Rolando Fiegueroa, de Neuquén; Alberto Weretilneck, de Rio Negro; Claudio Vidal, de Santa Cruz; Gustavo Melella, de Tierra del Fuego; e Sergio Ziliotto, de La Pampa.
Todos esses governadores representam forças políticas locais, com exceção de Melella e Ziliotto, que são peronistas do Partido Justicialista, controlado pelo kirchnerismo.
Torres, por sua vez, integra o PRO, partido do ex-presidente Mauricio Macri. Esse é a principal força aliada de Milei no Congresso Nacional.
Como repercutiu o ultimato para além da Patagônia?
Torres ganhou apoio para além da Patagônia…
Leia mais em Crusoé
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)