Jerônimo Teixeira na Crusoé: Editores de estupros
Uma revista americana cortou Yascha Mounk de seu quadro de colaboradores porque ele foi acusado de um crime sexual. Neste caso, só há uma certeza: alguma injustiça foi cometida
Yascha Mounk foi acusado de estupro. A notícia me entristece. Recentemente entrevistado nesta revista por Caio Mattos, o cientista político da Universidade Johns Hopkins tem servido de referência para alguns dos meus artigos mais recentes. Suas análises sobre o equívoco da racialização do conflito entre Israel e Palestina ou sobre as contradições do que ele chama de “síntese identitária” não saem invalidadas pelo escândalo. No entanto, a sombra do crime sexual agora pesa sobre a reputação de Mounk, sejam falsas ou verdadeiras as alegações contra ele.
Não adianta invocar o credo segundo o qual as falhas de um autor não comprometem a qualidade de sua obra. Tendo a concordar com essa ideia, mas acho que não há quem a abrace sem traçar demarcações: a partir daqui já não dá mais para acompanhar o autor. Estupro e abuso sexual de crianças costumam ser colocados do lado de lá dessa linha vermelha.
Qualquer opinião, especulação ou palpite sobre o caso será irresponsável: não há como saber o que aconteceu de fato entre Mounk e a mulher que o acusa, Celeste Marcus. A história do estupro, que teria ocorrido em junho de 2021, foi compartilhada por Celeste em um ensaio na revista on-line Liberties, da qual ela é editora executiva (ironicamente, o editor-chefe da revista, Leon Wieseltier, foi acusado de assédio sexual no passado, quando comandava a The New Republic). Publicado em janeiro, o texto não trazia o nome do suposto estuprador.
Celeste alega que não denunciou o agressor à polícia, pois isso só iria agravar o sofrimento dela – atitude que é muito compreensível em crimes sexuais. Mas então, passados dois anos e meio do ocorrido, ela decidiu encaminhar uma denúncia não à Justiça, mas a uma revista na qual Mounk era um colaborador frequente, The Atlantic.
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