PF prende Sorocabannon
A prisão ocorreu no âmbito da Operação Tempus Veritatis, que mira em uma organização criminosa que atuou na tentativa de golpe de Estado
A Polícia Federal prendeu na manhã desta quinta-feira, 8, Filipe G. Martins, ex-assessor de assuntos internacionais de Jair Bolsonaro. A prisão ocorreu em Ponta Grossa, no Paraná, no âmbito da Operação Tempus Veritatis, autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Ela mira uma organização criminosa que atuou na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito, na descrição da polícia.
Martins foi apelidado de “Sorocabannon” em referência a Steve Bannon, ex-assessor de Donald Trump e estrategista político referência para a direita alternativa americana. O ex-assessor de Bolsonaro é de Sorocaba (SP).
Segundo a delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Martins foi mencionado como responsável por levar uma minuta golpista ao então presidente. As reuniões ocorreram fora da agenda oficial e viraram alvo de investigação.
A PF encontrou uma cópia da minuta durante as buscas na casa de Anderson Torres, ex-secretário de Segurança do Distrito Federal e ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro. A minuta de decreto supostamente permitiria ao ex-presidente Bolsonaro instaurar estado de defesa na sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) após a derrota para Lula na eleição.
A operação
Segundo a PF, a operação também tem como objetivo apurar se esse grupo obteve vantagem de natureza política com a manutenção do então presidente da República — Bolsonaro — no poder.
A PF informou que estão sendo cumpridos 33 mandados de busca e apreensão, quatro mandados de prisão preventiva e 48 medidas cautelares diversas da prisão, que incluem a proibição de manter contato com os demais investigados, proibição de se ausentarem do país, com entrega dos passaportes no prazo de 24 horas e suspensão do exercício de funções públicas.
“Milícia digital”
Policiais federais cumprem as medidas judiciais, expedidas pelo Supremo Tribunal Federal, nos estados do Amazonas, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Ceará, Espírito Santo, Paraná, Goiás e no Distrito Federal.
Em nota, a PF informou que as apurações apontam que o grupo investigado “se dividiu em núcleos de atuação para disseminar a ocorrência de fraude nas eleições presidenciais de 2022”, antes mesmo da realização do pleito, para “viabilizar e legitimar uma intervenção militar, em dinâmica de milícia digital”.
Compartilhador-geral
Em 30 de maio de 2020, O Antagonista ironizou Filipe Martins como “O compartilhador-geral do Palácio do Planalto“, mostrando que o militante virtual então lotado no terceiro andar do prédio da Presidência ‘retuitou’ uma série de postagens de contas diferentes que continham rigorosamente o mesmo texto com ataques mentirosos contra o humorista Danilo Gentili e o youtuber Nando Moura.
Flagrado em ação coordenada da militância que espalhava fake news nas redes sociais contra críticos independentes, Martins apagou os compartilhamentos, reforçando a impressão de que havia esquecido de ‘deslogar’ de sua conta oficial para turbinar a iniciativa, também registrada em vídeo.
Líder dos blogueiros de crachá
Como mostrou Crusoé em 11 de outubro de 2019, em sua reportagem de capa “Os blogueiros de crachá“, Martins articulava reuniões da militância bolsonarista, dava explicações sobre eventuais sumiços de Carlos Bolsonaro e atuou pela queda do general Carlos Alberto dos Santos Cruz, demitido por Jair Bolsonaro do cargo de ministro da Secretaria de Governo. Ele também pautava blogueiros aliados com críticas ao então vice-presidente, Hamilton Mourão, como as de Steve Bannon.
Martins foi um dos articuladores do primeiro encontro de Eduardo Bolsonaro com Bannon, em Nova York, em agosto de 2018. Em março de 2019, Jair Bolsonaro jantou com Bannon, Eduardo, Ernesto Araújo e Olavo de Carvalho na residência do embaixador do Brasil em Washington, Sergio Amaral. Em 23 de setembro, o já postulante a embaixador Eduardo voltou a se encontrar com Bannon em Nova York. Desde então, os contatos com Bannon se estreitaram, e o americano passou a ser referência para o núcleo ideológico do então governo e para a sua tropa virtual.
Na prática, Bolsonaro é aliado de Donald Trump e a família Bolsonaro é aconselhada por um estrategista demitido por ele. Bannon chegou a ser preso em 2020 por fraude, sob acusação de desviar dinheiro de campanha de apoio à construção de um muro entre os EUA e o México. Ele também foi condenado, em 2022, a quatro meses de prisão por se recusar a cooperar com legisladores que investigavam o ataque ao Capitólio.
O discípulo, pelo visto, inspirou-se no guru.
O que disseram os advogados de Filipe Martins?
Em nota, a defesa de Filipe Martins afirmou que “não teve acesso à decisão que fundamentou as medidas e que já solicitou o acesso integral dos autos para estudo e posterior manifestação.”
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