Soares Silva na Crusoé: As estranhas obsessões dos jornalistas
Eles querem falar de dois ou três assuntos com uma fixação assombrosa, que parece indicar desequilíbrio mental
Toda vez que passo na frente de uma tevê ligada, algum jornalista está preocupadíssimo com um assunto que, a essa altura, me parece uma obsessão particular dele e só dele.
- “Carlos Bolsonaro curtiu uma postagem da assessora do…“
- “A Abin na época de Ramagem servia café da marca…“
- “Em pleno ato de incomodar uma baleia…“
- “Um dos golpistas que mais participava do grupo de Whatsapp…“
É como visitar uma tia levemente senil e ver que, como sempre nos últimos anos, ela só consegue falar da vizinha do fim do corredor, que é fascinantemente maligna para ela, um assunto que absorve a sua alma completamente e que transborda da sua alma de tia solitária numa lamentação contínua.
— Sexta, sábado, domingo, às vezes até durante a semana essa aí sai pra beber com os namorados dela, um diferente cada semana, e na volta, bêbada, o que ela faz? Ela para o carro bem na faixa da minha vaga… Só porque eu não tenho carro não posso reclamar?
— Claro que pode, tia.
— Porque e se eu tivesse carro? Se eu tivesse carro, como é que eu ia parar ali se o pneu do carro dela está invadindo a faixa que separa as vagas? Está certo isso?
— É, não está, tia.
Ou é como visitar um historiador excêntrico que se aposentou, se isolou no campo e nos últimos anos de vida deixou que a sua obsessão por algum reinado específico na Capadócia no século 13 virasse seu único assunto.
— Tem certeza que não foi seguido?
— Seguido? Por quem?
— Por quem! Seljúcidas, cruzados, capadócios, otomanos! Toda a corja! Estão sempre ali de tocaia no estacionamento do Habib’s.
Em seguida faz com que você entre antes que os emissários do rei Solimão II (1196-1204), visivelmente agachados atrás de uma Pajero, disparem suas balestras.
Enfim,…
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