Jerônimo Teixeira na Crusoé: Bill Maher nunca falou do Brasil
Elogio do humorista americano a nossa democracia agradou os petistas, mas só o usamos como pretexto para uma crítica à bagunça dos EUA
Bill Maher acredita que o Brasil é uma democracia modelar. Ou, pelo menos, que poderia servir de modelo à democracia mais antiga do continente americano. A jovem e remendada constituição do Brasil, diz o humorista americano, seria mais eficiente para barrar ambições autoritárias do que a vetusta e venerável Constituição dos Estados Unidos.
Essa avaliação sustenta-se sobre os diferentes tratamentos que brasileiros e americanos teriam dado a seus presidentes insurrectos. Depois do ataque ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, Donald Trump segue com a popularidade em alta e tem boas chances de vencer as eleições presidenciais deste ano. No Brasil, a imitação bolsonarista da insurreição trumpista, em 8 de janeiro do ano passado, precipitou a desgraça de Jair Bolsonaro, que foi declarado inelegível e hoje é um “pária” em seu país. Ou pelo menos é assim que a história é narrada em um corte do programa Real time with Bill Maher que vem circulando pelas redes e repercutindo na imprensa brasileira.
Gosto da verve seca e sardônica de Maher. Embora sua posição política seja muito clara, ele não é previsível. Muitas vezes, irrita espectadores de seu próprio campo político, o que torna o Real Time mais interessante do que outro programa jornalístico-humorístico da HBO, o Last week tonight, conduzido pelo humor limpinho de John Oliver. Maher, no entanto, não contou direito a história brasileira. Em parte, isso é compreensível: sua equipe de redatores não deve empregar um brasilianista para produzir um comentário de cinco minutos a cada dois ou três anos. Mas creio que Maher não peca só por ignorância: malandro, ele selecionou e acomodou fatos para defender a tese de que a democracia brasileira anda mais saudável que a americana. Para demonstrar que Bolsonaro é hoje um pária, ele cita uma pesquisa segundo a qual só 6% dos brasileiros aprovam a barbárie da Horda Canarinha no 8 de janeiro. Só que isso não significa necessariamente rejeição a Bolsonaro.
Nem Lula deve acreditar que Bolsonaro tornou-se um pária. Mesmo…
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