A saia justa de Silvio Almeida com o racismo ambiental de Anielle Franco
O ministro Silvio Almeida merece um prêmio de contorcionismo pela tentativa de defender que a ministra...
O ministro Silvio Almeida merece um prêmio de contorcionismo pela tentativa de defender que a ministra Anielle Franco use o termo racismo ambiental de forma equivocada.
Ele fez uma postagem no Twitter que começa explicando o conceito, sem deixar claro que a ministra usou de forma equivocada, como se significasse outra coisa. Fez questão de deixar claro que não é a única causa do problema, não é a única explicação e nem a solução. Termina já xingando o pessoal de ignorante, tática boa para encerrar o assunto.
“O fato de alguém desconhecer um conceito ou mesmo discordar de forma fundamentada – o que é totalmente legítimo, especialmente no campo da ciência – não apaga o fato de que o conceito existe. Uma simples olhada nas ferramentas de busca mais populares da internet nos levam a inúmeros artigos que tratam do tema. Como alguém já disse certa vez, ‘a ignorância nunca ajudou a ninguém’. Ou seja: ignorar uma ideia ou um conceito não faz do ignorante alguém especial”, postou o ministro.
Trazer conceitos da universidade para a sociedade é algo extremamente saudável. O problema é quando a pessoa traz sem explicar, usa errado e ainda se relaciona com um exército de influencers lacradores que atacam qualquer um que questionar.
A ministra Anielle Franco, que vem tentando explicar o conceito de racismo ambiental há dias, não retuitou nenhum político que saiu em sua defesa. Foram muitos. Curiosamente, resolveu retuitar o agenciado da Mynd8 Raull Santiago e o agenciado da Brunch Murillo Araúlo. O último postou o seguinte: “O nível dos comentários questionando o conceito de Racismo Ambiental, gente… Impressionante como a extrema direita naturalizou sair por aí ostentando a própria ignorância. 😂Puxado tanta gente orgulhosa de ser burra (e racista). Todo apoio, ministra!”.
Entre os influencers, é comum usar termos que existem na academia, distorcer ou simplificar de forma grosseira o significado e depois usar como desculpa para atacar inimigos, desafetos e concorrentes. Fazem isso com termos como racismo estrutural, misoginia, fascismo, extrema-direita, homofobia e transfobia. É precisamente o que a ministra faz aqui.
Anielle Franco diz que racismo ambiental é a constatação de que as pessoas negras são mais atingidas por consequências ambientais porque são maioria nos bairros mais atingidos, os pobres e periféricos. Muita gente questionou com razão que o recorte é econômico, não de raça.
O conceito real de racismo ambiental do climatologista Robert Bullard leva em conta a diferença racial mesmo quando a situação econômica é a mesma. Ele fez um levantamento mostrando que há diferença de infraestrutura entre áreas de moradias de negros e brancos mesmo quando têm a mesma condição social e econômica. Por isso chamou de racismo.
É algo que faz sentido nos EUA, onde houve segregação racial e há bairros de negros e de brancos. Aliás, o humorista Chris Rock, um dos grandes inimigos públicos dos lacradores, tem uma ótima piada sobre isso no seu último especial.
Racismo ambiental é uma teoria. Ela tenta explicar um fenômeno verificado de forma empírica: mesmo na mesma faixa econômica, bairros de negros e de brancos têm infraestrutura diferente. Pode haver outras teorias que tentem explicar esse fenômeno e pessoas que discordem da teoria de racismo ambiental.
A ministra parece não ter ideia da diferença entre uma teoria e uma explicação objetiva de um fenômeno. Pior ainda: insiste no erro.
Anielle Franco tem se notabilizado por esse tipo de polêmica vazia, pela novilíngua, patrulha de vocabulário alheio e simplificação grosseira de teorias complexas. Não parece ser esta a função do ministério da Igualdade Racial. Talvez seja mais adequado, já que se patrulha tanto o vocabulário, mudar o nome para algo que descreva adequadamente a pasta: Ministério da Lacração.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)